Pular para o conteúdo principal

O AUTOPERDÃO PARA LIBERTAR-SE DA CULPA*





A autoconsciência e o autoperdão são duas virtudes fundamentais para a diluição da culpa. Porém, é necessário o treino do autoacolhimento amoroso que precisa ser irrigado pelos cinco sentimentos básicos, a saber: autoestima, autoaceitação, autoconfiança, autovalorização e autorrespeito. Esse exercício viabiliza a nossa autorrenovação por amor e pelo amor. Mas a manutenção do estado culposo impossibilita tudo isso.

Somente o autoperdão nos libera para a reabilitação diante da consciência, se assumirmos a responsabilidade do erro e nos esforçarmos reflexivamente para repará-lo.


A vida são as oportunidades bem aplicadas no presente, no aqui e agora, nunca os fracassos do passado. Todavia, existem os que vivem interligados aos insucessos do ontem, agindo qual aqueles que querem dirigir o automóvel apenas olhando para o retrovisor; com certeza vão causar acidentes. Não se pode permanecer preso às negatividades do passado, é importante ficar atento às oportunidades de cada momento do presente (que é um empréstimo divino que se renova a cada instante).

Esquecer os malogros do passado não significa “não lembrar”, contudo é resignificá-los. Deste modo, embora possa parecer que esquecemos, em verdade, deixamos a recordação num plano não acessível de modo consciente. Ou seja, não ficarmos remoendo o que já passou, porém o que se culpa fica incessantemente remoendo o erro cometido.

Quando nos libertamos do detrito mental, amontoado pelo estigma culposo, principiamos o soerguimento espiritual, e toda uma atividade nova se nos apresenta favorável, abrindo-nos espaços para saúde integral. O lixo mental que herdamos é acumulado pela nossa ausência de conhecimento nos três níveis de ignorância: do não saber, do não sentir e do não vivenciar a verdade. São tais ignorâncias que produzem os entulhos mentais, os insucessos e a fragilidade do Espírito de não se esforçar para superar a própria ignorância.

Considerando nossa fragilidade, precisamos nos conceder a oportunidade de reparar os males praticados, nos habilitando sempre perante a consciência através do autoperdão mormente diante daqueles a quem prejudicamos. Isso não significa anulação da falta que cometemos, porém a concessão da oportunidade de reparação dos desacertos. Portanto, o autoperdão não se funda numa falsa tolerância desculpista dos próprios erros. Isso seria desmazelo moral, cumplicidade e ingenuidade. Antes, o autoperdoar-se representa a possibilidade de crescimento mental e moral, propiciando direcionamento correto das novas escolhas para o bem-estar pessoal e coletivo.

É impossível alguém melhorar o comportamento da noite para o dia. É indispensável o esforço de enriquecimento moral ininterrupto. O autoperdão é um processo de autorresponsabilidade, fruto do amadurecimento do senso intelecto moral. Com a disposição contínua de reparação dos erros, ampliamos as virtudes através dos graduais esforços no exercício do bem, admitindo que nesse procedimento não nos tornaremos “puros” num piscar de olhos, porquanto ainda erraremos muitas vezes; porém nunca nas mesmas proporções anteriores, porque aprenderemos e cresceremos com os nossos erros.

Quando nos perdoamos, aprendemos a pedir perdão ao outro. A coragem de solicitar perdão e a capacidade de perdoar são dois mecanismos terapêutico-libertadores da culpa. Até porque a saúde mental e comportamental impõe a liberação da culpa, utilizando-nos do valioso contributo do discernimento capaz de avaliar a qualidade das ações e permitir as reparações dos erros e o estado de gratidão quando acertadas.

O equilíbrio entre consciência e comportamento tem um preço: a persistência no dever moral, como aguilhão da consciência e guardião da probidade interior. Em face disso, para nos livrarmos da culpa é muito importante o esforço continuado, paciência e perseverança no dever consciencial. Não nos consintamos abater o ânimo, reabasteçamo-nos nas conexões e diálogos íntimos com Deus através dos sentimentos e pensamentos edificantes que podemos aperfeiçoar em qualquer circunstância.

Façamos os esforços necessários para expandir os pensamentos elevados que devemos cultivar em qualquer situação. Seremos sempre responsáveis pelos efeitos dos nossos atos. Colheremos conforme semeamos. Assumamos, portanto, o nosso compromisso consciencial através do convite amoroso de Jesus. Dessa forma permaneceremos saudáveis intimamente, prosseguindo íntegros nos deveres assumidos, sempre sob a responsabilidade da ação transformadora, sem jamais transferir para terceiros os nossos próprios insucessos.


(*) Texto com base no Projeto Espiritizar contido no link https://www.youtube.com/watch?v=bGZG8m5bKxQ&t=3430s


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

A PIOR PROVA: RIQUEZA OU POBREZA?

  Por Ana Cláudia Laurindo Será a riqueza uma prova terrível? A maioria dos espíritas responderá que sim e ainda encontrará no Evangelho Segundo o Espiritismo a sustentação necessária para esta afirmação. Eis a necessidade de evoluir pensamentos e reflexões.

O CORDEIRO SILENCIADO: AS TEOLOGIAS QUE ABENÇOARAM O MASSACRE DO ALEMÃO.

  Imagem capa da obra Fe e Fuzíl de Bruno Manso   Por Jorge Luiz O Choque da Contradição As comunidades do Complexo do Alemão e Penha, no Estado do Rio de Janeiro, presenciaram uma megaoperação, como define o Governador Cláudio Castro, iniciada na madrugada de 28/10, contra o Comando Vermelho. A ação, que contou com 2.500 homens da polícia militar e civil, culminou com 117 mortos, considerados suspeitos, e 4 policiais. Na manhã seguinte, 29/10, os moradores adentraram a zona de mata e começaram a recolher os corpos abandonados pelas polícias, reunindo-os na Praça São Lucas, na Penha, no centro da comunidade. Cenas dantescas se seguiram, com relatos de corpos sem cabeça e desfigurados.

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

O DISFARCE NO SAGRADO: QUANDO A PRUDÊNCIA VIRA CONTRADIÇÃO ESPIRITUAL

    Por Wilson Garcia O ser humano passa boa parte da vida ocultando partes de si, retraindo suas crenças, controlando gestos e palavras para garantir certa harmonia nos ambientes em que transita. É um disfarce silencioso, muitas vezes inconsciente, movido pela necessidade de aceitação e pertencimento. Desde cedo, aprende-se que mostrar o que se pensa pode gerar conflito, e que a conveniência protege. Assim, as convicções se tornam subterrâneas — não desaparecem, mas se acomodam em zonas de sombra.   A psicologia existencial reconhece nesse movimento um traço universal da condição humana. Jean-Paul Sartre chamou de má-fé essa tentativa de viver sem confrontar a própria verdade, de representar papéis sociais para evitar o desconforto da liberdade (SARTRE, 2007). O indivíduo sabe que mente para si mesmo, mas finge não saber; e, nessa duplicidade, constrói uma persona funcional, embora distante da autenticidade. Carl Gustav Jung, por outro lado, observou que essa “másc...

O ESPIRITISMO É PROGRESSISTA

  “O Espiritismo conduz precisamente ao fim que se propõe todos os homens de progresso. É, pois, impossível que, mesmo sem se conhecer, eles não se encontrem em certos pontos e que, quando se conhecerem, não se deem - a mão para marchar, na mesma rota ao encontro de seus inimigos comuns: os preconceitos sociais, a rotina, o fanatismo, a intolerância e a ignorância.”   Revista Espírita – junho de 1868, (Kardec, 2018), p.174   Viver o Espiritismo sem uma perspectiva social, seria desprezar aquilo que de mais rico e produtivo por ele nos é ofertado. As relações que a Doutrina Espírita estabelece com as questões sociais e as ciências humanas, nos faculta, nos muni de conhecimentos, condições e recursos para atravessarmos as nossas encarnações como Espíritos mais atuantes com o mundo social ao qual fazemos parte.

DIA DE FINADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

  Por Doris Gandres Em português, de acordo com a definição em dicionário, finados significa que findou, acabou, faleceu. Entretanto, nós espíritas temos um outro entendimento a respeito dessa situação, cultuada há tanto tempo por diversos segmentos sociais e religiosos. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 (1) , sob o título Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade Espírita de Paris fundada por Kardec, o mestre espírita nos fala que “estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relações de afeição e fraternidade que existiam entre eles e nós em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo Poderoso.”