Pular para o conteúdo principal

HOMENS DE POUCA FÉ


                     
     
           Inúmeras as ocasiões em que Jesus, depois de exemplificar com uma ação efetiva, questiona os homens que o seguiam a respeito da fé. Parece que, aos olhos do Mestre, era evidente o temor dos seus seguidores diante daqueles momentos provas e provações. Claro que a Sua clarividência entendia a vacilação da equipe que selecionara para dar andamento ao seu ambicioso plano de redenção do mundo e investia seu tempo em ensinamentos que cabiam a todo aquele que se esforçasse um pouco em compreendê-los.

            Provavelmente a escolha aparentemente aleatória daqueles que o seguiam pelas estradas, entre pessoas simples do povo, era uma sinalização de que não é obrigatório que aquilo que pareça é o que deve ser. Poderia Jesus ter buscado figuras expressivas, líderes religiosos, iniciados em culturas antigas e assim estabelecer um cortejo de eruditos no seu entorno, mas foi exatamente o contrário que decidiu. Não é obrigatória que o título de reconhecimento social seja passagem imediata para a verdadeira leveza espiritual.
            Então, Jesus buscou entre os selecionados aqueles que, apesar de lhes faltar a cultura intelectual da crença, provariam que a mensagem ensinada poderia ser aprendida por qualquer um. Tratou de incutir-lhes a percepção que os grandes passos na efetiva aquisição de conquistas espirituais passam além do crivo das manifestações exteriores, conquanto exijam destemor, foco e visão de futuro. Não havia enganos de Sua parte a respeito da fragilidade daqueles homens, escolhidos como laboratório de uma grande experiência mística, que tinha a humanidade como a sua destinação pelos anos que se sucederiam até que passassem “o céu e a terra” antes mesmo que as suas palavras perdessem eco.
            Não deve ter sido por outras razões que, antes do momento em que seria feito prisioneiro, decidiu subir o monte Getsêmani para orar e convidou Tiago, João e Pedro para fazerem vigília durante as orações e três dormiram. A reprimenda que lhes fez é útil para todo aquele que queira se engajar no seu séquito: “Nem ao menos uma hora pudestes vigiar comigo?” (Mateus XXVI: 40).
            Todos esses chamados foram responsáveis pelo despertar daqueles homens para os caminhos que deveriam percorrer depois de sua partida. Desse tempo para os dias atuais passaram-se 2019 anos. A mensagem de Jesus em nada mudou, senão pela indiscutível evolução dos costumes e introdução de novos conceitos que vieram corroborar com interpretação de sua linguagem propositadamente figurada, cuja intenção era que servisse para as épocas vindouras, tais quais a nossa.
            A civilização mudou. A população se multiplicou muitas vezes. Mudou a geopolítica do planeta. As tecnologias avançaram. A humanidade evoluiu socialmente. Só não mudou a necessidade espiritual que temos de Jesus. Ele certamente continua garimpando aqueles que pretendam ser selecionados para o seu batalhão de seguidores. Provável que os critérios de escolha permaneçam. Será que o nosso campo mental lhe permite nos formular o convite? Ou nos julgamos bons demais para tal? É imprescindível que nos perguntemos o que fazer para merecer a distinção de sua presença em nossas vidas, “homens de pouca fé” que somos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.