Com Kardec aprendemos que devemos amar os
criminosos [que nos ultrajam] como criaturas de Deus, “às quais o perdão e a
misericórdia serão concedidos, se se arrependerem” (1), como também a nós,
pelas faltas que cometemos contra sua lei. Não nos cabe dizer de um criminoso:
é “um miserável; deve-se expurgar da terra; não é assim que nos compete falar.
Que diria Jesus se visse junto de si um desses desgraçados? Lamentá-lo-ia;
considerá-lo-ia um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão. Em
realidade, não podemos fazer o mesmo, mas pelo menos podemos orar por ele.” (2)
No quotidiano, quando somos ofendidos por esse
ou aquele motivo, quase sempre encapsulamos o desejo de revanche e mantemos o
“link” mental com as forças poderosas do mal, que somadas a outras tantas
circunstâncias potencializam as sombras de nossos desagravos. Naturalmente, o
perdão não significa conivência com o erro, até porque a atitude de perdoar e
desculpar sem limites pode incitar o criminoso à prática do mesmo ato
reprovável. Isso não é perdão, mas subserviência ou omissão.
Ora, todos sabemos que perdoar coisas leves
contra nós mesmos é relativamente fácil; porém, quando se trata de algo mais
grave como um assassinato, um estupro, uma infidelidade conjugal por exemplo, a
dificuldade de superação da mágoa aumenta consideravelmente. Por isso a Doutrina
Espírita leva a refletir que o perdão será sempre o sentimento que nas
superações pessoais transcendem ao próprio ser.
Escutemos as palavras de Jesus: “Ouvistes que
foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo:
Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem e caluniam” (3). E
mais: “Se perdoares aos homens as faltas que cometeram contra vós, também vosso
Pai celestial vos perdoará os pecados; mas, si não perdoardes aos homens quando
vos tenham ofendido, vosso Pai celestial também não vos perdoará os pecados”.
(4)
Não resta dúvida de que aprendendo a perdoar
estaremos promovendo nosso crescimento espiritual. Mas não podemos nos deixar
ensopar de hipocrisia ao ponto de dizermos que já conseguimos perdoar todos os que
nos ofendem. Certamente os agravos que nos façam não ficarão isentos das
consequências naturais, mas deixemos a cargo do Criador a justa reparação.
Ouçamos
o Mestre: “Aprendestes que foi dito: olho por olho e dente por dente. – Eu,
porém, vos digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém
vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra…”. (5) Os Benfeitores
advertem: “No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana
os erros que nele se enraizaram. Jesus não quis dizer para deixarmos de
reprimir o mal, mas para não pagar o mal com outro mal. Perdão é o pagamento do
mal com o Bem… O perdão nivela os homens pelo que neles há de melhor,
libertando quem perdoou dos maus sentimentos que o escravizavam a quem o
feriu.” (6)
Refrear o desejo de vingança não é possível
quando alguém sente o coração transbordar de fúria. Contudo, lembremos que
entre o desejo de vingança e a execução da ação vingativa existe espaço
suficiente para exercermos o livre-arbítrio, ou seja, a escolha entre o bem e o
mal. A vingança será sempre uma atitude insensata e inútil, até porque nenhum
benefício trará ao nosso progresso, e uma vez consumada, terá satisfeito apenas
a nossa inconformação diante dos desconhecidos motivos da nossa provação.
Referências
bibliográficas:
[1] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o
Espiritismo. Caridade ara com os criminosos, instruções de Elisabeth de France
(Havre, 1862), Rio de Janeiro: Ed FEB,
2000, Cap. 11
[2] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o
Espiritismo. Caridade ara com os criminosos, instruções de Elisabeth de France
(Havre, 1862), Rio de Janeiro: Ed FEB,
2000, Cap. 11
[3] Mateus, 5: 43 e 44
[4] MATEUS, cap. VI, vv. 14 e 15.
[5] Cf. Mateus, cap. V, vv. 38 a 42
[6] KARDEC Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo, RJ: Ed FEB, 2003, cap. VI, item 5, 118
Nenhum comentário:
Postar um comentário