sábado, 10 de novembro de 2018

SUPERAÇÕES ÍNTIMAS POR MEIO DO PERDÃO


 


 Com Kardec aprendemos que devemos amar os criminosos [que nos ultrajam] como criaturas de Deus, “às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem” (1), como também a nós, pelas faltas que cometemos contra sua lei. Não nos cabe dizer de um criminoso: é “um miserável; deve-se expurgar da terra; não é assim que nos compete falar. Que diria Jesus se visse junto de si um desses desgraçados? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão. Em realidade, não podemos fazer o mesmo, mas pelo menos podemos orar por ele.” (2)

No quotidiano, quando somos ofendidos por esse ou aquele motivo, quase sempre encapsulamos o desejo de revanche e mantemos o “link” mental com as forças poderosas do mal, que somadas a outras tantas circunstâncias potencializam as sombras de nossos desagravos. Naturalmente, o perdão não significa conivência com o erro, até porque a atitude de perdoar e desculpar sem limites pode incitar o criminoso à prática do mesmo ato reprovável. Isso não é perdão, mas subserviência ou omissão.


Ora, todos sabemos que perdoar coisas leves contra nós mesmos é relativamente fácil; porém, quando se trata de algo mais grave como um assassinato, um estupro, uma infidelidade conjugal por exemplo, a dificuldade de superação da mágoa aumenta consideravelmente. Por isso a Doutrina Espírita leva a refletir que o perdão será sempre o sentimento que nas superações pessoais transcendem ao próprio ser.

Escutemos as palavras de Jesus: “Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem e caluniam” (3). E mais: “Se perdoares aos homens as faltas que cometeram contra vós, também vosso Pai celestial vos perdoará os pecados; mas, si não perdoardes aos homens quando vos tenham ofendido, vosso Pai celestial também não vos perdoará os pecados”. (4)

Não resta dúvida de que aprendendo a perdoar estaremos promovendo nosso crescimento espiritual. Mas não podemos nos deixar ensopar de hipocrisia ao ponto de dizermos que já conseguimos perdoar todos os que nos ofendem. Certamente os agravos que nos façam não ficarão isentos das consequências naturais, mas deixemos a cargo do Criador a justa reparação.
 Ouçamos o Mestre: “Aprendestes que foi dito: olho por olho e dente por dente. – Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra…”. (5) Os Benfeitores advertem: “No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Jesus não quis dizer para deixarmos de reprimir o mal, mas para não pagar o mal com outro mal. Perdão é o pagamento do mal com o Bem… O perdão nivela os homens pelo que neles há de melhor, libertando quem perdoou dos maus sentimentos que o escravizavam a quem o feriu.” (6)

Refrear o desejo de vingança não é possível quando alguém sente o coração transbordar de fúria. Contudo, lembremos que entre o desejo de vingança e a execução da ação vingativa existe espaço suficiente para exercermos o livre-arbítrio, ou seja, a escolha entre o bem e o mal. A vingança será sempre uma atitude insensata e inútil, até porque nenhum benefício trará ao nosso progresso, e uma vez consumada, terá satisfeito apenas a nossa inconformação diante dos desconhecidos motivos da nossa provação.


Referências bibliográficas:

[1]           KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Caridade ara com os criminosos, instruções de Elisabeth de France (Havre, 1862),  Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000, Cap. 11

[2]           KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Caridade ara com os criminosos, instruções de Elisabeth de France (Havre, 1862),  Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000, Cap. 11

[3]           Mateus, 5: 43 e 44

[4]           MATEUS, cap. VI, vv. 14 e 15.

[5]           Cf. Mateus, cap. V, vv. 38 a 42

[6]           KARDEC Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, RJ: Ed FEB, 2003, cap. VI, item 5, 118

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