quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A VERDADE QUE LIBERTA



 



 

JESUS E A VERDADE
No diálogo entre Jesus e Pilatos – João, 18:28-40 -, o Meigo Nazareno afirma que todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. Em réplica, Pilatos indaga: Que é a verdade? Na sequência, ele conclui ante os judeus que não identificou nenhuma culpa nele. Alguns dias depois, Jesus é condenado à morte, por pessoas totalmente desqualificadas em responder à pergunta elaborada por Pilatos.
Em outros momentos Jesus afirma que se conhecendo a verdade ela vos libertará (João, 8:32) e que ele é o caminho, a verdade e a vida (João, 14:6).


A GNOSE DA VERDADE
Verdade, do latim veritas, atis, significa tudo aquilo que está intimamente ligado ao que é correto, verdadeiro, é a ausência da mentira. Conjunto de princípios que é a base da vida espiritual e da vida universal. (1)
Acerca do estudo da verdade, Carlos Torres Pastorino em sua belíssima obra Sabedoria do Evangelho, em oito volumes, para o entendimento do sentido da verdade, deve-se compreender que o Cristianismo não é uma religião nem uma confissão, segundo a acepção moderna dessas palavras, (...) mas um contato íntimo (com Cristo) nasce de uma gnose profunda. (2) A compreensão do sentido da palavra verdade, exaustivamente usada por Jesus nos seus ensinamentos, é um desses termos especializados para entendermos a sua gnose.
E ele prossegue, traduzindo logos por “ensino” e não “palavra”, expressão, segundo ele, fraca para corresponder à força da frase e o resultado que promete. Ele enfatiza:
“Em lugar de “conhecereis”, que dá ideia de simples informação intelectual externa, que realmente é insuficiente para produzir o resultado prometido, preferimos a expressão técnica “tereis a gnose”, que exprime o conhecimento profundo e experimental-prático, vivido pela criatura.”
Para Pastorino, são três os estágios para se alcançar a verdade que liberta: a LEI do primarismo da hominização rebelde, onde predomina a sensação (1º plano, da verdade); a FÉ no passo seguinte, em que a supremacia cabe às emoções (2º plano, lei da justiça); e agora a GNOSE no plano do intelecto desenvolvido (3º plano, lei da liberdade).

A VERDADE EM UM MUNDO GLOBALIZADO
A indagação de Pilatos feita no atual mundo em profundas transformações se torna mais difícil de se responder presente as ideologias, presença inquestionável da mídia, de segmentos religiosos, fundamentos políticos todos dirigidos por alguns indivíduos de caracteres duvidosos e as redes sociais com os fake news. Embora as notícias falsas existam no mundo desde a sua criação, elas cresceram exponencialmente com a criação da Internet. Portanto, fake news são notícias criadas a partir de personagens conhecidos mas com suas falas distorcidas, ou inventadas, para confundir leitores, e amplificar sentimentos de rejeição ao alvo escolhido. Os fake news vêm piorando as relações políticas e sociais em todo o mundo. Conclui-se daí que a ignorância em nossos dias não significa o não conhecido, mas o resultado de todos os agentes poderosos de forma deliberada para que a sociedade não tome conhecimento da realidade. Surge daí uma nova ciência, a agnotologia, que tem como significado estudo da ignorância ou dúvida culturalmente induzida, em especial a publicação de dados científicos falsos ou enganosos. A palavra foi cunhada por Robert N. Proctor, professor de História da Ciência e Tecnologia em Stanford, juntando as palavras gregas “agnosis - não conhecer” e “logia - estudo de”.
Isso ocorre não só pelas causas da ignorância culturalmente induzida, mas também pela forma inadequada do indivíduo pensar – pensamento linear/binário – (motivado), desatenção e memória curta.

A VERDADE E AS RELIGIÕES
A verdade enfatizada por Jesus é um corolário de interpretações. Para o Judaísmo, a verdade está na Torá. Para o Islamismo, não existe verdade fora de Maomé e o Alcorão. Para o Catolicismo, a verdade está circunscrita a Jesus e ao Novo Testamento. Para os Neopentecostais a verdade que liberta está na Bíblia. Para o Budismo não há verdade fora dos ensinamentos de Buda. Já conforme o hinduísta, a verdade está nos livros védicos. Poder-se-ia elencar tantas outras organizações religiosas e todas seriam taxativas em afirmar que a verdade absoluta se encontra em seus ensinamentos. Todas são verdades relativas, da mesma forma que o Espiritismo.

A VERDADE E O ESPIRITISMO
Será que é dessa verdade que Jesus se refere? Dentro dessa complexidade que o indivíduo contemporâneo enfrenta para discernir entre a verdade e a mentira, como fará para conseguir a verdade que liberta?
Na questão nº 780 “a”, os Reveladores Celestes, respondendo a Allan Kardec, afirmam que não há uma simetria entre o progresso intelectual e o moral. Contudo, o progresso intelectual pode conduzir ao progresso moral dando a compreensão do bem e do mal, (moral) pois então do homem pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio segue-se ao desenvolvimento da inteligência e aumenta a responsabilidade do homem pelos seus atos.”
Verifica-se com os ensinamentos espíritas que os conhecimentos multiculturais dissertos podem favorecer o progresso moral, a verdade que liberta. Na sequência, mas precisamente na questão nº 781, os Espíritos Reveladores asseguram que é impossível deter a marcha do progresso, mas se pode entravá-la algumas vezes, situação que o mundo enfrenta nessa quadra evolutiva.
Carlos Pastorino elucida essa afirmativa quando diz que o caminho é longo, ascensão lenta, mas estrada segura e infalível. No entanto, os que ainda se encontram no primeiro estágio lutarão contra os do segundo, assim como estes e os do primeiro se unirão contra os que já estão no terceiro estágio.

“EU E O PAI SOMOS UM” (João, 10:30)
A gnose profunda da Verdade leva a Unidade, o qual Jesus prefere denominar o reino dos Céus. O mundo material é o mundo das polaridades. Amor e ódio. Bem e mal. Certo e errado. Calor e frio. Essa polaridade fragmenta a verdade em verdades relativas.
Hermes de Trimegisto era um legislador egípcio, pastor e filósofo, que viveu na região de Ninus por volta de 1.330 a.C. ou antes desse período; a estimativa é de 1.500 a.C a 2.500 a.C. Ele enunciou as sete leis universais ou leis herméticas. A quarta dela, a da polaridade, assim é enunciada:

“Tudo é duplo; tudo tem dois polos; tudo tem par de opostos; o semelhante e o dessemelhante são uma só coisa, os opostos são idênticos em natureza, mas diferente em grau; os extremos se tocam, todas as verdades são meias-verdades; todos os paradoxos serão reconciliados.”

Observe-se que até a consciência humana que se expressa no cérebro apresenta em sua anatomia física, no qual se encontra as faculdades tipicamente humana de discriminação e julgamento atribuído ao córtex cerebral. Tudo que gera essa polaridade são idênticos em natureza, muito embora apresente gradientes vibracionais variáveis.
Essa polaridade se encontra no taoísmo as duas unidades são denominadas yang (masculino) e yin (feminino). Na tradição hermética essa mesma tradição é representada pelo sol (masculino) e pela lua (feminino). A Doutrina Espírita esclarece que o Espírito pode reencarnar na polaridade masculina ou feminina, de acordo com as suas necessidades evolutivas, na esteira das vidas sucessivas.
Allan Kardec, em A Gênese, no cap. III:8, evidencia a polaridade atestando que seus objetos de causas são idênticos no estudo que realiza sobre O Bem e o Mal:

“... o mal é a ausência do bem, como o frio é a falta de calor. O mal não é um atributo distinto, assim como o frio não é um fluido especial: um é a negação do outro.”

A equivalência entre o bem e o mal será determinante para Allan Kardec, na questão n° 100, de O Livro dos Espíritos, determinar, didaticamente, as diferentes ordens de Espíritos, considerando o gradiente provocado por essas polaridades. Leia-se:

“Esta classificação nada tem de absoluta: nenhuma categoria apresenta caráter bem definido, a não ser no conjunto: de um grau para outro, a transição é insensível, pois, nos limites, as diferenças se apagam, como nos reinos da natureza, nas cores do arco-íris, ou ainda nos diferentes períodos da vida humana.”

Nessas jornadas reencarnatórias, o Espírito paulatinamente, através de vivências das várias meia-verdades, CONHECE-SE A SI MESMO e realiza a Verdade que o liberta dos círculos inferiores da matéria, alçando-o aos Céus como luz.
Aqui não mais a polaridade; Deus e o homem, ao ponto deste O antropomorfizar. Não mais Deus Pai e o homem filho. Deus está no coração. A gnose da verdade que liberta torna o Homem Unidade com Deus. O Homem e Deus são um!


(1)        Dicionário Enciclopédico Ilustrado Larousse;
(2)        PASTORINO, Carlos T. Sabedoria do Evangelho. V. 5. Rio de Janeiro: Sabedoria,  1967.




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