É comum que os pais transmitam aos filhos a
semelhança física, porque o corpo deriva do corpo. Quanto ao Espírito, no
entanto, isto não ocorre, porque o Espírito não procede do Espirito. Entre os
descendentes das raças há apenas consanguinidade.
A simpatia recíproca que entre uns e outros
existe, os atrai pela analogia de pendores, daí as semelhanças morais que se
podem verificar.
Ao contrário do que se possa pensar, bem grande
é a influência que exercem os Espíritos dos pais sobre o filho, depois do
nascimento deste, pois os Espíritos têm que contribuir para o progresso uns dos
outros. Pois bem, os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os dos seus filhos,
pela educação. Constitui-lhes isso uma tarefa. Tornar-se-ão culpados, se vierem
a falir no seu desempenho.
Nem sempre de pais bons e virtuosos nascem
filhos de mesma natureza, ou seja, que pais de boas qualidades atraiam, por
simpatia, um bom Espírito para lhes animar o filho.
Não é raro que um mau Espírito peça lhe sejam
dados bons pais, na esperança de que seus conselhos o encaminhem por melhor
senda e muitas vezes Deus lhe concede o que deseja.”
Malgrado dirijam a Deus seus pensamentos e
preces, no sentido de atrair para o corpo do filho em formação um bom Espírito,
em lugar de um inferior, tal não é possível aos pais, mas podem melhorar o
Espírito do filho que já lhes nasceu e está confiado. Esse o seu dever. Os maus
filhos são-lhes uma provação.
São também de Espíritos simpáticos que se
aproximam por analogia de sentimentos, que deriva a semelhança de caráter que
muitas vezes existe entre dois irmãos, sobretudo gêmeos e que se sentem felizes
por estar juntos.
Não é regra, todavia, que sejam simpáticos os
Espíritos dos gêmeos, ocorrendo casos de aversão que às vezes se nota entre
eles. Acontece, também, que Espíritos maus entendam de lutar juntos no palco da
vida.
Há dois Espíritos, ou por outra, duas almas,
nas crianças cujos corpos nascem ligados, tendo comuns alguns órgãos, mas a
semelhança entre elas é tal que faz nos pareçam, em muitos casos, uma só.
São lendas essas histórias de crianças que
lutam ainda no seio materno. Para significar quão inveterado era o ódio que
reciprocamente se votaram, figuram-no a se fazer sentir antes do nascimento
delas. Em geral não se leva muito em conta as imagens poéticas.
A origem do caráter distintivo que se nota em
cada povo, dá-se no fato de que também os Espíritos se agrupam em famílias,
constituindo-as pela analogia de seus pendores mais ou menos puros, conforme a
elevação que tenham alcançado. Um povo é uma grande família, formada pela
reunião de Espíritos simpáticos. Na tendência que apresentam os membros dessas
famílias, para se unirem, é que está a origem da semelhança que, existindo
entre os indivíduos, constitui o caráter distintivo de cada povo. Não julguemos
que Espíritos bons e humanitários procurem, para nele encarnar, um povo rude e
grosseiro. Os Espíritos simpatizam com as coletividades, como simpatizam com os
indivíduos. Naquelas em cujo seio se encontrem, eles se acham no meio que lhes
é próprio.
Em suas novas existências, o Espírito poderá
conservar traços do caráter moral de suas anteriores existências. Mas,
melhorando-se, ele muda. Pode também acontecer que sua posição social venha a
ser outra. Se de senhor passa a escravo, inteiramente diversos serão os seus
gostos e dificilmente o reconheceríeis. Sendo o Espírito sempre o mesmo nas
diversas encarnações, podem existir certas analogias entre as suas
manifestações, se bem que modificadas pelos hábitos da posição que ocupe, até
que um aperfeiçoamento notável lhe haja mudado completamente o caráter,
porquanto, de orgulhoso e mau, pode tornar-se humilde e bondoso, se se
arrependeu.
Quanto ao caráter físico de existências
pretéritas, o novo corpo que ele toma nenhuma relação tem com o que foi
anteriormente destruído. Entretanto, o Espírito se reflete no corpo. Sem dúvida
que este é unicamente matéria, porém, nada obstante, se modela pelas
capacidades do Espírito, que lhe imprime certo cunho, sobretudo ao rosto, pelo
que é verdadeiro dizer-se que os olhos
são o espelho da alma, isto é, que o semblante do indivíduo lhe reflete de
modo particular a alma. Assim é que uma pessoa excessivamente feia, quando nela
habita um Espírito bom, criterioso, humanitário, tem qualquer coisa que agrada,
ao passo que há rostos belíssimos que nenhumas impressões causam, que até
chegam a inspirar repulsão. Poder-se-ia supor que somente corpos bem moldados
servem de envoltório aos mais perfeitos Espíritos, quando o certo é que todos
os dias depara-se com homens de bem, sob um exterior disforme. Sem que haja
pronunciada parecença, a semelhança dos gostos e das inclinações pode,
portanto, dar lugar ao que se chama ‘um
ar de família.
Nenhuma relação essencial guardando o corpo que
a alma toma numa encarnação, com o de que se revestiu em encarnação anterior, visto
que aquele lhe pode vir de procedência muito diversa da deste, fora absurdo
pretender-se que, numa série de existências, haja uma semelhança que é
inteiramente fortuita. Todavia, as qualidades do Espírito frequentemente
modificam os órgãos que lhe servem para as manifestações e lhe imprimem ao
semblante físico e até ao conjunto de suas maneiras um cunho especial. É assim
que, sob um envoltório corporal da mais humilde aparência, se pode deparar a
expressão da grandeza e da dignidade, enquanto sob um envoltório de aspecto senhoril
se percebe frequentemente a da baixeza e da ignomínia. Não é pouco frequente observar-se
que certas pessoas, elevando-se da mais ínfima posição, tomam sem esforços os
hábitos e as maneiras da alta sociedade. Parece que elas aí vêm a achar-se de
novo no seu elemento. Outras, contrariamente, apesar do nascimento e da
educação, se mostram sempre deslocadas em tal meio. De que modo se há de
explicar esse fato, senão como reflexo daquilo que o Espírito foi antes?
Referência Bibliográfica:
O
LIVRO DOS ESPÍRITOS - Allan Kardec
Tradução
de: GUILLON RIBEIRO - Publicado pela FEB – Federação Espírita do Brasil - www.febnet.org.br
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