segunda-feira, 29 de maio de 2017

DIÁLOGO



               
             Num restaurante, o casal bebericava. 
            Ele, cerveja bem gelada. Ela, suco de laranja natural.
            Guardavam silêncio. Não era aquela quietude tranquila, sem constrangimento, nascida da intimidade, mera pausa na conversação. Situava-se como o silêncio de cônjuges que perderam o gosto pela conversa, relacionamento desgastado.
            Em dado momento ele murmurou, carinhoso:
            – Eu te amo!
            Ela o contemplou atônita, surpreendida. Há séculos o marido não lhe falava assim! Seria efeito do álcool?
            Exprimiu sua dúvida, perguntando:
            – É você quem está falando ou a cerveja?

            E ele:
            – Estou falando com a cerveja.
            Bem, caro leitor, não sei se ela quebrou a garrafa na cabeça do infeliz ou simplesmente procurou o advogado para pedir divórcio… Não obstante, esse episódio sugere algumas ponderações sobre a vida conjugal.
            Aprendemos com o Espiritismo que geralmente os casamentos são planejados na Espiritualidade pelos próprios cônjuges ou seus mentores.
            Os objetivos são variados, mas basicamente atendem à necessidade de desfazer aversões ou consolidar afeições, decorrentes de relacionamentos passados, num empenho de harmonização, o que nem sempre acontece. Na atualidade cresce sempre o número de divórcios, porque acabou a afeição ou recrudesceu a aversão.
            Isso costuma acontecer mesmo entre os casais que permanecem juntos, dispostos a suportarem-se por amor aos filhos ou respeito à religião. Diz o espírita:
            – Já que é meu compromisso cármico, carregarei essa cruz até o fim de nossos dias. Depois, na vida espiritual, será cada um por si! Praza aos céus não nos vejamos nunca mais! Quero esquecer que estivemos juntos!
            Quem age assim provavelmente reencontrará o cônjuge em futura reencarnação. Viverão nova experiência em comum, porquanto não foi cumprida uma das finalidades básicas do matrimônio: a harmonização das almas, em convivência pacífica.
            Em favor desse objetivo há um recurso indispensável: o cultivo do diálogo, a disposição de conversar, trocar ideias, exercitar os miolos, abrir o coração…
            Um homem culto e inteligente apaixonou-se por linda jovem. Sentindo-se correspondido, pretendeu pedi-la em casamento, porém não usou a fórmula tradicional:
            – Você me daria a honra de ser minha esposa?
            Disse-lhe, simplesmente:
            – Você gostaria de passar os próximos quarenta anos a conversar comigo?
            Eis a base do casamento perfeito: longa conversa, a estender-se vida afora. Pode o tempo passar, a paixão esgotar-se, a beleza física desfazer-se, mas, se o diálogo permanece, o amor fica.
            Um amigo dizia:
            – Não ocorre o contrário? Cessa o diálogo porque o amor foi embora?
            Está confundindo amor com paixão. Se o casamento foi baseado na paixão, na atração física, o diálogo acaba quando se esgota o desejo. Isso acontece frequentemente na atualidade, de liberdade sexual confundida com libertinagem, de namoros que começam no motel.
            Diálogos francos, abertos, aquele desvelar a alma, representam a poção mágica para uma união amigável e perfeita, com pleno entendimento entre os cônjuges.
            Naturalmente, diálogos civilizados, de respeito mútuo, jamais resvalando para a lamentável pancadaria verbal, quando as pessoas põem-se a gritar e a ofender, conturbando a vida conjugal.
            Diálogos bem-humorados, sinceros, amigos, de tal forma que sempre haverá assunto, e quando o marido disser eu te amo a esposa saberá que ele não está falando com a cerveja.

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