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ENQUANTO ISSO, NOS CENTROS ESPÍRITAS¹... (1ª PARTE)



Por André Trigueiro (*)


Centros espíritas são instituições de acolhimento e fraternidade, onde se estuda a Doutrina dos Espíritos, se pratica a mediunidade e a caridade. Sem prejuízo de sua atividade-fim, cada centro espírita poderia realizar ações efetivas em favor da sustentabilidade, em benefício da coletividade e do planeta. Elencaremos aqui algumas sugestões reconhecendo desde já as singularidades inerentes a cada casa – que poderão eventualmente inspirar novas atitudes em favor do uso inteligente dos recursos. Além de mudanças comportamentais – tão necessárias e urgentes no momento atual – essas ecodicas poderão, eventualmente, promover uma reflexão leve a um maior engajamento e participação coletiva nos diferente clubes, escolas, universidades, associações de bairro etc. Somente uma profunda mudança nesses dois planos da vida – o individual e coletivo – permitirá que alcancemos a utopia de vivermos num mundo melhor e mais justo, um mundo sustentável.


Eficiência energética
Instituição espírita comprometida com a sustentabilidade no consumo consciente de energia. Lâmpadas fluorescentes chegam a economizar 80% mais do que as lâmpadas convencionais. São mais caras, mas duram mais e pesam menos na conta de luz. Sendo necessário adquirir um novo eletrodoméstico (geladeira, ar condicionado etc.), é muito importante verificar se o equipamento possui o selo Procel letra A, que confirma o baixo consumo de energia. É recomendável que se dispense o recurso stand-by de certos aparelhos quando não estiverem em uso. Aquela luzinha vermelha pequenina, quando acesa, é um sinal de que o aparelho, mesmo desligado, está pronto para entrar em ação desde que o usuário aperte um botão. O problema é que apenas o sistema stand-by pode consumir até 15% da energia elétrica utilizada em uma residência. Uma possível solução seria a instalação de um filtro de linha em que as tomadas desses aparelhos estejam conectadas e, após o uso, todos sejam desligados ao mesmo tempo da rede elétrica apertando-se apenas um botão. Acompanhar a evolução dos gastos com energia, verificando o consumo mês a mês, também ajuda a identificar eventuais “vazadouros” de energia que oneram a instituição.

Quanto maior entrada de luz natural, menos o consumo de energia com lâmpadas. O mesmo ocorre em relação à ventilação natural, que permite o conforto térmico sem o uso de ventiladores ou refrigerantes de ar.
LINKS ÚTEIS:

Coletores solares
Onde houver demanda regular por água quente e uso de chuveiro elétrico, recomenda-se a instalação de coletores solares. Estima-se que em comunidades de baixa renda o uso regular de chuveiros elétricos responda por até 30% do valor bruto da conta de luz. Em um país que registra 280 dias de sol por ano, a instalação de equipamentos que absorvem a radiação solar para o aquecimento da água é uma medida inteligente. É importante que se providencie a instalação de outra fonte de energia – pode ser o próprio chuveiro elétrico, um boiler ou um sistema de aquecimento de gás – para assegurar o fornecimento de água quente em períodos de muita nebulosidade ou longas temporadas de chuva. Pode-se adquirir no mercado equipamentos para este fim ou construir o próprio coletor com materiais recicláveis ou acessórios de baixo custo.
LINKS ÚTEIS:
  • www.sociedadedosol.org.br Organização que ensina a construir aquecedores solares de baixo custo. Oferece cursos e disponibiliza manuais.
  • www.dessolabrava.org.br/dasol/ O Departamento Nacional de Aquecimento Solar da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA) oferece informações úteis para quem deseja conhecer melhor essa tecnologia.
  • www.ebanataw.com.br/4430/clubes/spsantana/p20041127.php Reúne todas as informações necessárias para a construção de um coletor solar usando materiais recicláveis.


Telhados ecológicos
Existem opções inteligentes de telhado que promovem conforto térmico e ajudam a reduzir o consumo de energia. Pintar o telhado de branco com tinta branca, reflexiva, por exemplo, é uma medida simples que ajuda a reduzir o aquecimento global e a temperatura interna da construção. Outra possibilidade é o telhado verde, composto de placas com vegetação que absorvem o calor, drenam a água da chuva e emprestam graça e beleza à construção. Pode-se ainda instalar telhas da RECICLAGEM de caixas de leite longa vida, que são mais resistentes e duradouras que as telhas convencionais, como as de amianto, por exemplo, que já foram banidas em boa parte do Brasil e do mundo por oferecerem risco à saúde.
LINKS ÚTEIS:
  • www.onedegreeless.org/home/home.html Conheça a campanha do Green Building Council Brasil em favor dos telhados brancos para combater o aquecimento global.
  • www.ecotelhado.com.br Veja como é possível instalar um telhado coberto de vegetação, de forma segura e eficiente.
  • www.recicoleta.com.br Saiba como trocar embalagens usadas de leite longa vida por telhas feitas deste material reciclado, ou onde comprar este tipo de telha.


Biodigestores
Em lugares mais distantes, onde não houver conexão com redes de esgoto – mais da metade dos esgotos produzidos no país não recebem nenhum tipo de tratamento, contaminam águas e espalham doenças – o biodigestor pode ser uma boa opção. Amplamente utilizado na China, essa tecnologia de baixo custo trata os esgotos e transforma a matéria orgânica em biogás. O esgoto deve ser canalizado para uma cisterna fechada – devidamente projetada por um técnico, que deve calcular a vazão média e o tempo de retenção do esgoto no sistema – onde a depuração se dá pelo trabalho incessante de diversas colônias de bactérias presentes em nosso intestino e que permanecem vivas e famintas num ambiente sem oxigênio (anaeróbio). Os nutrientes presentes na matéria orgânica são digeridos pelas bactérias, que em cada 48 horas reduzem em até 80% o volume do esgoto. O resultado do “banquete” é o CH4, um gás inflamável que pode ser usado na cozinha, reduzindo o consumo de gás natural ou de botijão. A simples queima do gás metano gral um benefício ambiental importante, porque o CH4 é 21 vezes mais danoso para a atmosfera que o CO2 (dióxido de carbono). A queima transforma o CH4 em CO2, o que reduz a pressão sobre o aquecimento global. Enquanto o gás é queimado, o efluente (águas residuais do esgoto tratado) passa por um filtro, antes de ser devolvido à rede com nível de pureza de aproximadamente 90%, sem uso de energia ou produtos químicos. Petrópolis (RJ) é a capital brasileira dos biodigestores, com equipamentos instalados em diferentes comunidades com recursos públicos e privados.
LINKS ÚTEIS:
  • www.oia.org.br O Instituto Ambiental desenvolveu em Petrópolis projetos para a instalação de biodigestores em diferentes pontos da cidade com apoio do Poder Público (Prefeitura local e Governo Estadual e da iniciativa privada (Companhia Águas do Imperador).


 (*) jornalista com Pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ onde hoje leciona a disciplina “Geopolítica Ambiental”, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor dos livros “Mundo Sustentável 2 – Novos Rumos para um Planeta em Crise" (Ed.Globo, 2012); "Mundo Sustentável - Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação" (Ed.Globo, 2005) e “Espiritismo e Ecologia” (Ed.FEB, 2009).
¹ fonte: da obra Espiritismo e Ecologia, FEB.

Comentários

  1. Muito boa a dica vamos divulgar

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  2. Tá bom, tá mastigado. Mas botar em prática não é tão fácil. Essa do telhado verde é excelente. Os jornais noticiaram que famílias de baixa renda têm direito a assistência de um arquiteto, na hora de construir, patrocinado pelas prefeituras. Seria fácil projetar isso, mesmo em casas populares. Energia solar parece não ser um bicho de 7 cabeças, mas os grandes fornecedores não têm mesmo interesse de que os lares produzam essa energia, então a tecnologia é quase inacessível. Assim como nasceu o Trigueiro, tá precisando nascer "missionários" que saiam ajudando a população, instalando essas soluções, cobrando mesmo, mas implantando. A solução volta a ser a mesma: "Seara grande, seareiros poucos, orar pedindo mais seareiros".

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