Pular para o conteúdo principal

O PROCESSO DOS ESPÍRITAS¹






Por Roberto Caldas (*)


          A liberdade que dispomos de entrar em livrarias que expõem as mais diversas temáticas, entra as quais presente o tema espírita, se constitui numa vitória da verdade sobre a injúria. Até que chegássemos nessa condição muitos foram os problemas que precisaram ser resolvidos sob o ferro e o fogo da perseguição.
            A Doutrina Espírita adentrava às bibliotecas de sua época, em meados do século XIX, dividindo espaço com o ranço das velhas concepções religiosas, mas também ombreava com a literatura materialista que invadia o pensamento europeu, sofrendo injunções caluniosas de todos os lados. Não bastasse ter enfrentado e derrotado a cúpula eclesial espanhola jogando o último punhado de terra no terrorismo religioso, patrocinado pela famigerada santa inquisição, no episódio que ficou reconhecido como o Ato de Fé de Barcelona, os inimigos da causa espírita intentariam muitas vezes contra a investida de luz que tomava as ruas da França e se espalhava pela Europa.

            Allan Kardec já havia desencarnado, quando uma grave situação se apresentou em 1875. Antevendo a necessidade de uma força-tarefa para continuar a sua obra de divulgação espírita, tratou pessoalmente de deixar as pessoas mais competentes à frente dos principais órgãos espíritas: a Sociedade de Parisiense de Estudos Espíritas e a Revista Espírita. Uma investida contra a Revista Espírita, na pessoa do seu editor Sr. Pierre-Gaëtan Leymarie, envolvido no que se dizia uma fraude envolvendo a fotografia de espíritos ladeando parentes encarnados, matéria publicada na citada revista. O acontecido, eternizado como o Processo dos Espíritas (Procéss dês Spirites) teve seu marco em 16/06/1875. Julgamento tendencioso e sintético, cujos julgadores já possuíam o veredicto antes mesmo de iniciá-lo, foi considerado por Léon Denis, com as mesmas peculiaridades daquele que levou à morte Joana D’arc, pelo total desinteresse de buscar a verdade, apenas condenar. No fundo estava o desejo de levar o Espiritismo ao descrédito de qualquer forma.
            O Sr. Leymarie foi pesadamente multado e condenado a um ano de prisão, até que uma apelação comprovasse a sua inocência, mas o fato de sua esposa Sra. Marina Leymarie ter conduzido de forma tão magistral as tarefas do esposo apoiada por arautos da mensagem espírita como Gabriel Delanne, Léon Dénis, Camille Flammarion e a própria viúva de Kardec, a insigne Sra. Amélie Boudet, permitiu que a Doutrina Espírita saísse desse episódio com redobradas repercussões e apoios de diversos homens de ciência que haviam provado a veracidade da fotografia dos mortos, entre eles o Sir William Crookes.
            Quando adentrarmos uma livraria qualquer e virmos obras espíritas expostas, façamos uma reverência invisível a esses bravos combatentes que deram a própria liberdade para elevarem a cultura espiritual ao patamar que ela ora ocupa. Graças a sua intrepidez por várias vezes a luz conseguiu ser provada diante do nevoeiro de sombras que sempre ronda as grandes obras espirituais em um mundo de inferioridades quanto o nosso.
            Lembremos nesse 16/06, com muito carinho, do Processo dos Espíritas (1875) e elevemos uma prece ao casal, Srs. Pierre e Marina Leymarie com toda a nossa gratidão. 

¹ editorial do programa Antena Espírita de 14.06.2015.
(*) escritor, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.   

Comentários

  1. Caríssimo Roberto Caldas,
    "Espíritas de todos os países! Nunca olvideis esta data". Assim Allan Kardec se reporta ao Auto-de-Fé de Barcelona, que marca o período de luta da marcha do progresso do Espiritismo. O Processo dos Espíritas faz parte desse período, portanto, não podemos esquecê-lo. Você foi poético, com um tema tão dramático para nossa história. Se hoje labutamos na Seara do Cristo com mais desenvoltura, devemos a essas personalidades que receberam a bandeira espírita de Kardec, e nos deixou esse legado para passarmos para as gerações futuras. Isso é cultura espírita. A cultura espírita é que construirá uma nova realidade para a Humanidade. Parabéns à equipe do Antena Espírita e precisamente a você, da forma singela, poética, carinhosa em que homenageou a data. A luta continua!

    ResponderExcluir
  2. Quantas ciladas armam os adversários gratuitos da verdade e da luz, para intimidarem ou desviarem do bom caminho os tarefeiros da renovação humana. De quantas emboscadas terá escapado o saudoso Codificador, guardando o silêncio e a perseverança. Mas o "Bom Pastor" saberá defender suas ovelhas. "Trabalho, Solidariedade, Tolerância". Belo e instrutivo artigo!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.

“BANDIDO MORTO” É CRIME A MAIS

  Imagens da internet    Por Jorge Luiz   A sombra que há em mim          O Espírito Joanna de Ângelis, estudando o Espírito encarnado à luz da psicologia junguiana, considera que a sociedade moderna atinge sua culminância na desídia do homem consigo mesmo, que se enfraquece tanto pelos excessos quanto pelos desejos absurdos. Ao se curvar à sombra da insensatez, o indivíduo negligencia a ética, que é o alicerce da paz. O resultado é a anarquia destrutiva, uma tirania do desconcerto que visa apagar as memórias morais do passado. Os líderes desse movimento são vultos imaturos e alucinados, movidos por oportunismo e avidez.

OS FANATISMOS QUE NOS RODEIAM E NOS PERSEGUEM E COMO RESISTIR A ELES: FANATISMO, LINGUAGEM E IMAGINAÇÃO.

  Por Marcelo Henrique Uma mensagem importante para os dias atuais, em que se busca impor uma/algumas ideia(s), filosofia(s) ou crença(s), como se todos devessem entender a realidade e o mundo de uma única maneira. O fanatismo. Inclusive é ainda mais perigoso e com efeitos devastadores quando a imposição de crenças alcança os cenários social e político. Corre-se sérios riscos. De ditaduras: religiosas, políticas, conviviais-sociais. *** Foge no tempo e na memória a primeira vez que ouvi a expressão “todos aprendemos uns com os outros”. Pode ter sido em alguma conversa familiar, naquelas lições que mães ou pais nos legam em conversas “descompromissadas”, entre garfadas ou ações corriqueiras no lar. Ou, então, entre algumas aulas enfadonhas, com a “decoreba” de fórmulas ou conceitos, em que um Mestre se destacava como ouro em meio a bijuterias.

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...

ESPÍRITISMO E CRISTIANISMO (*)

    Por Américo Nunes Domingos Filho De vez em quando, surgem algumas publicações sem entendimento com a codificação espírita, clamando que a Doutrina Espírita nada tem a ver com o Cristianismo. Quando esse pensamento emerge de grupos religiosos dogmáticos e intolerantes, até entendemos; contudo, chama mais a atenção quando a fonte original se intitula espiritista. Interessante afirmar, principalmente, para os versados nos textos de “O Novo Testamento” que o Cristo não faz acepção de pessoas, não lhe importando o movimento religioso que o segue, mas, sim, o fato de que onde estiverem dois ou três reunidos em seu nome ele estará no meio deles (Mateus XVIII:20). Portanto, o que caracteriza ser cristão é o lance de alguém estar junto de outrem, todos sintonizados com Jesus e, principalmente, praticando seus ensinamentos. A caridade legítima foi exemplificada pelo Cristo, fazendo do amor ao semelhante um impositivo maior para que a centelha divina em nós, o chamado “Reino de...

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.