segunda-feira, 15 de junho de 2015

O PROCESSO DOS ESPÍRITAS¹






Por Roberto Caldas (*)


          A liberdade que dispomos de entrar em livrarias que expõem as mais diversas temáticas, entra as quais presente o tema espírita, se constitui numa vitória da verdade sobre a injúria. Até que chegássemos nessa condição muitos foram os problemas que precisaram ser resolvidos sob o ferro e o fogo da perseguição.
            A Doutrina Espírita adentrava às bibliotecas de sua época, em meados do século XIX, dividindo espaço com o ranço das velhas concepções religiosas, mas também ombreava com a literatura materialista que invadia o pensamento europeu, sofrendo injunções caluniosas de todos os lados. Não bastasse ter enfrentado e derrotado a cúpula eclesial espanhola jogando o último punhado de terra no terrorismo religioso, patrocinado pela famigerada santa inquisição, no episódio que ficou reconhecido como o Ato de Fé de Barcelona, os inimigos da causa espírita intentariam muitas vezes contra a investida de luz que tomava as ruas da França e se espalhava pela Europa.

            Allan Kardec já havia desencarnado, quando uma grave situação se apresentou em 1875. Antevendo a necessidade de uma força-tarefa para continuar a sua obra de divulgação espírita, tratou pessoalmente de deixar as pessoas mais competentes à frente dos principais órgãos espíritas: a Sociedade de Parisiense de Estudos Espíritas e a Revista Espírita. Uma investida contra a Revista Espírita, na pessoa do seu editor Sr. Pierre-Gaëtan Leymarie, envolvido no que se dizia uma fraude envolvendo a fotografia de espíritos ladeando parentes encarnados, matéria publicada na citada revista. O acontecido, eternizado como o Processo dos Espíritas (Procéss dês Spirites) teve seu marco em 16/06/1875. Julgamento tendencioso e sintético, cujos julgadores já possuíam o veredicto antes mesmo de iniciá-lo, foi considerado por Léon Denis, com as mesmas peculiaridades daquele que levou à morte Joana D’arc, pelo total desinteresse de buscar a verdade, apenas condenar. No fundo estava o desejo de levar o Espiritismo ao descrédito de qualquer forma.
            O Sr. Leymarie foi pesadamente multado e condenado a um ano de prisão, até que uma apelação comprovasse a sua inocência, mas o fato de sua esposa Sra. Marina Leymarie ter conduzido de forma tão magistral as tarefas do esposo apoiada por arautos da mensagem espírita como Gabriel Delanne, Léon Dénis, Camille Flammarion e a própria viúva de Kardec, a insigne Sra. Amélie Boudet, permitiu que a Doutrina Espírita saísse desse episódio com redobradas repercussões e apoios de diversos homens de ciência que haviam provado a veracidade da fotografia dos mortos, entre eles o Sir William Crookes.
            Quando adentrarmos uma livraria qualquer e virmos obras espíritas expostas, façamos uma reverência invisível a esses bravos combatentes que deram a própria liberdade para elevarem a cultura espiritual ao patamar que ela ora ocupa. Graças a sua intrepidez por várias vezes a luz conseguiu ser provada diante do nevoeiro de sombras que sempre ronda as grandes obras espirituais em um mundo de inferioridades quanto o nosso.
            Lembremos nesse 16/06, com muito carinho, do Processo dos Espíritas (1875) e elevemos uma prece ao casal, Srs. Pierre e Marina Leymarie com toda a nossa gratidão. 

¹ editorial do programa Antena Espírita de 14.06.2015.
(*) escritor, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.   

2 comentários:

  1. Caríssimo Roberto Caldas,
    "Espíritas de todos os países! Nunca olvideis esta data". Assim Allan Kardec se reporta ao Auto-de-Fé de Barcelona, que marca o período de luta da marcha do progresso do Espiritismo. O Processo dos Espíritas faz parte desse período, portanto, não podemos esquecê-lo. Você foi poético, com um tema tão dramático para nossa história. Se hoje labutamos na Seara do Cristo com mais desenvoltura, devemos a essas personalidades que receberam a bandeira espírita de Kardec, e nos deixou esse legado para passarmos para as gerações futuras. Isso é cultura espírita. A cultura espírita é que construirá uma nova realidade para a Humanidade. Parabéns à equipe do Antena Espírita e precisamente a você, da forma singela, poética, carinhosa em que homenageou a data. A luta continua!

    ResponderExcluir
  2. Quantas ciladas armam os adversários gratuitos da verdade e da luz, para intimidarem ou desviarem do bom caminho os tarefeiros da renovação humana. De quantas emboscadas terá escapado o saudoso Codificador, guardando o silêncio e a perseverança. Mas o "Bom Pastor" saberá defender suas ovelhas. "Trabalho, Solidariedade, Tolerância". Belo e instrutivo artigo!

    ResponderExcluir