sexta-feira, 21 de novembro de 2014

CULTURA CONTEMPORÂNEA DA ANSIEDADE¹







Cultura contemporânea e ansiedade

O veloz mundo contemporâneo fornece poucos valores essenciais à vida em equilíbrio. Novas “necessidades” são artificialmente criadas a cada dia, imbuídas da falsa promessa de bem-estar. Incentiva-se a pressa, a praticidade e o consumo imediato dos bens que, supostamente, trariam conforto e aplacariam a angústia e a ausência de sentido para a existência.

Temperança e significado para vida

A temperança e o tempo para um mergulho íntimo são necessários na busca do significado mais amplo para o viver e a psicoterapia tem ajudado muitas pessoas dispostas a mudarem suas vidas para melhor. A melhora consistente da qualidade de vida das pessoas que após eventos traumáticos decorrentes da ansiedade crônica (acidentes por dirigir e falar ao celular, internações hospitalares, enfarto, etc.) buscaram a psicoterapia envolve geralmente cinco fatores: (1) desenvolvimento de novos interesses e objetivos com maior significado para existência, (2) apreciação e valorização da vida, (3) melhor relação familiar e interpessoal, (4) resgate da religiosidade e espiritualidade no dia-a-dia e a (5) descoberta de força e recursos pessoais para superação de adversidades.


Ansiedade

A ansiedade é um estado emocional comum e provavelmente tenha sido selecionada como um importante fator para a preservação da espécie humana. O estado ansioso é definido como um comporta mento de alterações físicas (taquicardia, sudorese, hiperventilação, aumento da pressão arterial) e psíquicas (apreensão, inquietude, alerta). Como um sinalizador antecipatório de possíveis ameaças ou mesmo diante da ameaça, a ansiedade altera de forma vantajosa o pensamento, a fisiologia e o comportamento humano com ajustes para sobrevivência. Nossos ancestrais provavelmente tenham antecipado riscos reais durante a caça e a vida diária, exercendo algum controle sobre a incidência de ameaças letais por intermédio da ansiedade. Apesar de a ansiedade estar presente em todos os seres humanos, alguns indivíduos a manifestam com intensidade e duração exacerbadas, impedindo a continuidade equilibrada da vida. A relação ansiedade x desempenho deixa de ser vantajosa quando o “sistema é sobrecarregado cronicamente”, impactando em déficits cognitivos como lapsos de memória e dificuldade de concentração, assim como sintomas de hiper-estimulação autonômica (insônia, irritabilidade, descontrole emocional, intolerância, agressividade, etc.).

Estresse

O médico austríaco Hans Selye empregou em 1936, com o termo médico, a palavra inglesa stress para definir os mecanismos neuroendócrinos adaptativos do organismo a estímulos exteriores, sejam positivos ou negativos. Em 1950, Selye publicou a obra que o consagrou, na qual expôs a síndrome geral de adaptação. Apesar de o termo inicialmente ser definido como uma resposta necessária e saudável, hoje o conceito está associado à sobrecarga e ao prejuízo da qualidade de vida. A cultura metropolitana cada vez mais estimula o sobrepeso do alto desempenho, da competitividade e de metas desafiadoras, às vezes impossíveis de serem alcançadas. Esse contexto de excessiva competitividade favorece tensões, conflitos, depreciação do relacionamento interpessoal, além de baixa autoestima e solidão.


¹ Entrevista com o Dr. Julio Peres à Revista BOA FORMA – Marica Di Domenico


Nenhum comentário:

Postar um comentário