Pular para o conteúdo principal

ELIMINANDO ALGUNS TABUS




Por Alkíndar de Oliveira (*)






Assunto deste artigo é compreensível para quem já fala em público.

Caro leitor, se você nunca falou em público este texto é um necessário alerta. Pois, o conteúdo a seguir será muito útil quando você começar a proferir suas palestras.

Primeiro Tabu:
“Tenho um sério problema: Todas as vezes que procurei falar em público não consegui ser fiel ao meu preparo prévio. Coloquei palavras que não tinha planejado colocá-las e, por outro lado, deixei de falar parte do que tinha planejado. Todas as vezes em que vou falar em público ocorre-me este sério problema”.

Você, eu, e mais os 55.234.856 oradores que existem no mundo passamos pela mesma situação. O que você julga ser um sério problema, primeiro, não é “problema”, segundo, não é “sério”.


Fazemos o devido preparo prévio, falamos sozinhos em nosso quarto por várias noites, e, durante a palestra, alteramos o que tínhamos a dizer. Surgem idéias novas. Desaparecem idéias antigas. E, mesmo cometendo os lapsos citados, no final de nossa fala “incompreensivelmente” recebemos parabéns!

Preste bem atenção nas palavras de Bill Wheeler que você irá ler “Não importa quanto você prepare uma reunião ou uma apresentação previamente - na hora, sai tudo diferente! Mas... se não preparar bem, é quase certo que não saia nada!”.

Na realidade Bill Wheeler utilizou de força de expressão exagerada quando afirmou que “na hora, sai tudo diferente!” Acredito que assim agiu para didaticamente conseguir maior força em suas palavras. Pois, mesmo que em nossa palestra alteremos parcialmente o conteúdo que tínhamos planejado, é possível através de um bom preparo prévio sermos fiéis ao tema proposto. E se formos fiéis ao tema proposto, mesmo alterando a forma de passá-lo ao público, este sério problema deixará de ser “problema” e não será “sério”. Será apenas um comum acontecimento.

Portanto não se preocupe se durante a fala você alterar parte do que iria dizer. Isto é normal e é comum. Mas procure ser fiel ao tema, mesmo que mude a forma e parte do conteúdo.

Segundo Tabu:
“Geralmente não gosto de ouvir minha voz gravada”.

Você, eu, e mais os 55.234.856 oradores que existem no mundo passamos pela mesma situação. Se perguntarmos a 10 pessoas se gostam de ouvir suas vozes gravadas, a resposta quase unânime será: Não.

Depois de algum tempo você irá acostumar-se com sua voz gravada e perceber que sua voz é boa, mesmo que sua voz não seja a voz de um locutor de rádio. Hoje para falar em público o orador não precisa mais ter voz de locutor de rádio.

Terceiro Tabu:
“Quando falo de improviso não consigo, após a fala, lembrar-me total ou parcialmente do que eu falei”.

Você, eu, e mais os 55.234.856 oradores que existem no mundo passamos pela mesma situação. Quando estamos falando de improviso não temos nenhuma preocupação em memorizar as frases que espontaneamente estão saindo de nossa boca. Como, após a fala, exigir de nossa memória a lembrança de tudo o que foi dito? Este milagre costuma não ocorrer.

Quarto Tabu:
“Quando me dão me um tema para falar de improviso, no momento em que me informam qual é o tema, nada me vem a mente. Me dá um branco total, mesmo eu tendo conhecimento em relação ao tema”.

Você, eu, e mais os 55.234.856 oradores que existem no mundo passamos pela mesma situação. Se você, antes de saber qual seria o tema a ser desenvolvido, não estava pensando no mesmo, como exigir de si a capacidade de, dado o tema, saber imediatamente como desenvolvê-lo? É natural – naturalíssimo - assustar-se com o branco que naturalmente surge. Mas logo após, começamos a organizar nossas idéias e passamos a sentirmo-nos capazes de enfrentar o branco.

Quinto Tabu:
“Geralmente não gosto de ouvir minhas apresentações ou ver a minha imagem, quando gravadas”.

Você, eu, e mais os 55.234.856 oradores que existem no mundo passamos pela mesma situação. Quando vemos nossas apresentações sempre pensamos “poderia ser melhor”. E esta insatisfação própria dos humanos é saudável. Só assim progredimos continuamente. Ficar insatisfeito é natural e saudável, sentir-se derrotado é altamente prejudicial.

O cineasta Woody Allen, apesar de não ser orador, também pensa igual aos 55.234.856 oradores. Quando perguntaram a ele se assistia seus filmes antigos, ele respondeu “Nunca assisti a nenhum deles. Seria uma tortura, eu ia ficar pensando: ‘Quero mudar isso, aquilo’, e você não pode mais”.

Quando vemos nossas apresentações percebemos falhas que, geralmente, o público não percebe.

Por favor, releia: percebemos falhas que, geralmente, o público não percebe e, como somos muito autocríticos costumamos evidenciar em nossa autoanálise muito mais os naturais erros, que o público, geralmente, não percebe, do que nossos acertos, que o público percebe.

O público só percebe erros quando estes são constantes.

Erros eventuais não prejudicam a qualidade da fala. Tropeçar nas palavras de vez em quando, sofrer o branco de vez em quando, falar “né” de vez em quando, não prejudicam a fala. Atenção, eu disse: eventuais erros ocorrendo “de vez em quando” não prejudicam a qualidade da fala.

Ah! Jô Soares também é igual aos 55.234.856 oradores. Certa vez ao ser entrevistado pela imprensa disse “Não gosto de me assistir! Não vejo meus programas nem filmes! Me dá angustia descobrir maneirismos, cacoetes, repetições, erros, idéias não totalmente realizadas, não rendendo o que podiam render. Não consigo me ver, fico acanhado”.

Brahms e Schubert também eram de depreciar os seus trabalhos. Ambos tinham Beethoven como uma sombra que os perseguia. Julgavam que seus trabalhos não chegavam aos pés das composições de Beethoven. Brahms costumava dizer “Você não calcula como esse sujeito me persegue”, referindo-se à qualidade das composições de Beethoven. Schubert chegou a dizer “Depois de Beethoven, o que mais pode ser feito em matéria de música?” No entanto as palavras do crítico musical João Gabriel de Lima realçam justamente a alta qualidade das composições dos dois compositores: “O interessante nas obras de Brahms e Schubert é que ambas são, em última análise, respostas a essa indagação fundamental: o que fazer depois de Beethoven”.

Portanto ficar insatisfeito com sua fala, sim. Derrotado, nunca.

(*) palestrante e consultor de empresas, orador e escritor espírita autor das obras: Aprimoramento Espírita, O Trabalho Voluntário na Casa Espírita, Liderança Saudável.

Comentários

  1. Ufa, que alívio! Achei que era só eu que tinha essas sensações.
    Muito bom!

    ResponderExcluir
  2. Excelente!
    Everaldo - Viçosa do Ceará

    ResponderExcluir
  3. Que coisa!! rsrs Nunca pensei que tanta gente passava por isso!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

“BANDIDO MORTO” É CRIME A MAIS

  Imagens da internet    Por Jorge Luiz   A sombra que há em mim          O Espírito Joanna de Ângelis, estudando o Espírito encarnado à luz da psicologia junguiana, considera que a sociedade moderna atinge sua culminância na desídia do homem consigo mesmo, que se enfraquece tanto pelos excessos quanto pelos desejos absurdos. Ao se curvar à sombra da insensatez, o indivíduo negligencia a ética, que é o alicerce da paz. O resultado é a anarquia destrutiva, uma tirania do desconcerto que visa apagar as memórias morais do passado. Os líderes desse movimento são vultos imaturos e alucinados, movidos por oportunismo e avidez.

OS FANATISMOS QUE NOS RODEIAM E NOS PERSEGUEM E COMO RESISTIR A ELES: FANATISMO, LINGUAGEM E IMAGINAÇÃO.

  Por Marcelo Henrique Uma mensagem importante para os dias atuais, em que se busca impor uma/algumas ideia(s), filosofia(s) ou crença(s), como se todos devessem entender a realidade e o mundo de uma única maneira. O fanatismo. Inclusive é ainda mais perigoso e com efeitos devastadores quando a imposição de crenças alcança os cenários social e político. Corre-se sérios riscos. De ditaduras: religiosas, políticas, conviviais-sociais. *** Foge no tempo e na memória a primeira vez que ouvi a expressão “todos aprendemos uns com os outros”. Pode ter sido em alguma conversa familiar, naquelas lições que mães ou pais nos legam em conversas “descompromissadas”, entre garfadas ou ações corriqueiras no lar. Ou, então, entre algumas aulas enfadonhas, com a “decoreba” de fórmulas ou conceitos, em que um Mestre se destacava como ouro em meio a bijuterias.

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

ESPÍRITISMO E CRISTIANISMO (*)

    Por Américo Nunes Domingos Filho De vez em quando, surgem algumas publicações sem entendimento com a codificação espírita, clamando que a Doutrina Espírita nada tem a ver com o Cristianismo. Quando esse pensamento emerge de grupos religiosos dogmáticos e intolerantes, até entendemos; contudo, chama mais a atenção quando a fonte original se intitula espiritista. Interessante afirmar, principalmente, para os versados nos textos de “O Novo Testamento” que o Cristo não faz acepção de pessoas, não lhe importando o movimento religioso que o segue, mas, sim, o fato de que onde estiverem dois ou três reunidos em seu nome ele estará no meio deles (Mateus XVIII:20). Portanto, o que caracteriza ser cristão é o lance de alguém estar junto de outrem, todos sintonizados com Jesus e, principalmente, praticando seus ensinamentos. A caridade legítima foi exemplificada pelo Cristo, fazendo do amor ao semelhante um impositivo maior para que a centelha divina em nós, o chamado “Reino de...