Por Roberto Caldas (*)
Dona Rita, mulher
singular, idosa e analfabeta não conseguia entender o que a televisão tanto
falava e repetia durante toda a manhã daquela quarta-feira, dia 05/12.
Repetidas vezes ouvia que a “mãe dela” havia morrido e pessoas se revezavam
falando a respeito do acontecimento. Dona Rita pensava que devia se tratar da
mãe de alguém muito conhecido, talvez algumas dessas artistas que costumava
acompanhar pelas novelas diárias que assistia depois de parar as suas
atividades caseiras.
Desconhecia a D. Rita que naquele
dia o mundo dos encarnados se despedia de um dos maiores exponenciais de
mudança e renovação de um povo, desde Gandhi. A Terra estava naquele dia dando
adeus ao grande Nélson Mandela, sobrenome entendido como se tratasse da “mãe
dela”. Homem que foi o ícone da derrubada de um dos mais cruéis regimes depois
do Holocausto, Mandela resistiu a décadas de privação da liberdade física e
colecionou perdas de amigos e familiares devastados pela incoerência de um
governo que decretou a segregação e condenou a cor da pele negra sem respeitar
a dignidade humana que nos torna iguais.
Liberto é ovacionado pelo povo que
defendia, mas tornado o primeiro mandatário da África do Sul, diferente do que
temia o mundo e certamente desejavam muitos dos seus partidários que era a
revanche, resgata o sonho de Martin Luther King e desfralda a bandeira da paz.
No discurso de posse como presidente daquele país fala da construção de um novo
tempo, sem ódios, sem vingança, uma aposta na cultura da igualdade racial e do
respeito humano antes de qualquer alternativa. Suas palavras naqueles 10 de
maio de 1994 não permitiam dúvidas quanto as suas intenções: “Chegou o momento de sarar as
feridas. Chegou o momento de transpor os abismos que nos dividem. Chegou o
momento de construir.” É certo que usou armas e comandou guerrilhas durante as
agruras das perseguições, mas soube respirar a paz tão logo lhe coube as
regalias de comandar a vida daquela nação, inaugurando uma nova era para o seu
povo.
O Evangelho Segundo o Espiritismo em
seu capítulo XVII (Sede Perfeitos) assinala entre as muitas características do
homem de bem que “Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de
vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios
se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado.” Dessa
forma e por outras tantas razões podemos distinguir o querido Nélson Mandela,
que se despede dessa encarnação, com a qualidade de ter-se tornado um homem de bem.
Nosso
respeito ao grande líder. Homem que nos deixou uma herança que pode fazer a
humanidade caminhar num projeto de união e renovação. Suas palavras são
precursoras de um novo tempo: “Ninguém
nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por
sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a
odiar, podem ser ensinadas a amar.”
Eis
um exemplo digno de ser seguido. À Mandela, dona Rita, as nossas saudações
nessa noite.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 07/12/2013.
(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
Caro Roberto!
ResponderExcluirInspirada e merecida homenagem. Que possamos nos inspirar no exemplo de Mandela, e deixarmos também o nosso legado de vivência espírita, no que conclama a Lei de Amor, Justiça e Caridade.
Parabéns!
Parabéns Roberto pelo inspirado texto!
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