Por Francisco Cajazeiras (*)
Assumir a direção de qualquer empreendimento
é, sem dúvida alguma, um desafio, tanto maior quanto menores forem a
qualificação individual e as dificuldades próprias da atividade escolhida.
Muitos retrucarão ser o objetivo da maioria
das pessoas atingir um cargo diretivo na instituição a que se vinculam
profissionalmente.
Mesmo nesses casos, constitui grande
responsabilidade a de tomar para si a direção dos negócios, pois requer
conhecimento, dedicação, participação, envolvimento e trabalho contínuos.
Porém, quando a remuneração não se dá com o
moedário do mundo e quando se detém nas mãos o poder metamorfoseador de
destinos, construindo ou destruindo pontes, então é que o peso do comando se
faz sentir com toda a intensidade sobre seu agente.
Há séculos e séculos, na divisão natural das
tarefas familiares, o pai vem assumindo esse posto, nem sempre tendo
reconhecidos os seus esforços e realizações; até pelo contrário, recebendo
injustiças e ingratidão.
Ser pai é fazer-se escudo para os
companheiros da rinha evolutiva sob sua tutela, protegendo-os, enquanto
imaturos e incapazes de defesa mais elaborada; driblando as adversidades e
enfrentando as feras da arena da vida.
Ser pai é engolir seco o próprio medo
regurgitando-o reconfigurado sob a forma de coragem, na tentativa de alimentar
com o sabor da tranquilidade e da naturalidade os filhos sob sua
responsabilidade, no aguardo de seu desenvolvimento psicofisiológico e de
impedir se instale o desespero coletivo familiar.
Ser pai é ter que passar serenidade nos momentos
de perigo, domando a duras penas as tempestades e procelas íntimas da incerteza
e da ansiedade, unicamente a expensas da coragem que necessita forjar em
supremo e sobre-humano esforço; é sorrir quando quer chorar, movido pelo desejo
maior de impedir se estabeleçam a insegurança e o desequilíbrio entre os demais
companheiros de jornada familiar.
Ser pai é dispor-se a dividir, sem maior
resistência, os frutos do seu labor; e desistir do seu usufruto, em favor dos
filhos.
Ser pai é arbitrar e exercer a lei e as
regras, a despeito de confrangido o coração; é tornar-se o indispensável grito,
muito embora a constrição vocal; é tomar para si o epíteto de guia, embora as
nebulosidades da caminhada.
Ser pai é fingir não ser atingido pela
desatenção dos demais e não se incomodar com a ingratidão e o descaso, em nome
da solidez emocional indispensável à segurança dos outros. Nem se abater com as
interpretações equivocadas de dureza caricata sobre sua necessidade e dever
funcionais de autoridade.
Os pais conduzem uma estrela no peito,
bússola recebida da Divindade, para representá-La na direção e na relação com o
grupo terreno. Refletem da justiça divina a sua feição na Terra, em supremo
esforço para impedir que o próprio sentimento definhe a firmeza da direção.
Há pais de todo jeito, porque há filhos de
todo jeito... e porque as pessoas apresentam-se tão diferentes quanto as flores
e as folhas em suas peculiaridades; entretanto, na essência de suas obrigações,
no assumir da responsabilidade e em suas atribuições específicas, todos os pais
são instados a agir e a comportar-se segundo o padrão funcional específico que
lhes determinam as leis divinas.
Os pais são os heróis necessários aos filhos
e indispensáveis para a sua crença enquanto dependentes. São, porém, mais que
heróis de fantasia, são heróis de resistência e perseverança; são anti-heróis
do cotidiano que marcam a vida dos seus filhos, entregando-os compulsoriamente
ao mundo a que pertencem, passando, então, a preencher seu mundo íntimo com as
imagens arquivadas do passado em comum e o conjunto das emoções e sentimentos
compartilhados, muitas vezes em árido e solitário exílio dos corações de seus
filhos queridos.
(*) escritor espírita e pres. do Instituto de Cultura Espírita.
Lindo texto!
ResponderExcluirMuito bom esse texto....Parabéns...
ResponderExcluirVou compartilhar...