sexta-feira, 9 de agosto de 2013

SER PAI






 Por Francisco Cajazeiras (*)


Assumir a direção de qualquer empreendimento é, sem dúvida alguma, um desafio, tanto maior quanto menores forem a qualificação individual e as dificuldades próprias da atividade escolhida.
Muitos retrucarão ser o objetivo da maioria das pessoas atingir um cargo diretivo na instituição a que se vinculam profissionalmente.
Mesmo nesses casos, constitui grande responsabilidade a de tomar para si a direção dos negócios, pois requer conhecimento, dedicação, participação, envolvimento e trabalho contínuos.
Porém, quando a remuneração não se dá com o moedário do mundo e quando se detém nas mãos o poder metamorfoseador de destinos, construindo ou destruindo pontes, então é que o peso do comando se faz sentir com toda a intensidade sobre seu agente.

Há séculos e séculos, na divisão natural das tarefas familiares, o pai vem assumindo esse posto, nem sempre tendo reconhecidos os seus esforços e realizações; até pelo contrário, recebendo injustiças e ingratidão.
Ser pai é fazer-se escudo para os companheiros da rinha evolutiva sob sua tutela, protegendo-os, enquanto imaturos e incapazes de defesa mais elaborada; driblando as adversidades e enfrentando as feras da arena da vida.
Ser pai é engolir seco o próprio medo regurgitando-o reconfigurado sob a forma de coragem, na tentativa de alimentar com o sabor da tranquilidade e da naturalidade os filhos sob sua responsabilidade, no aguardo de seu desenvolvimento psicofisiológico e de impedir se instale o desespero coletivo familiar.
Ser pai é ter que passar serenidade nos momentos de perigo, domando a duras penas as tempestades e procelas íntimas da incerteza e da ansiedade, unicamente a expensas da coragem que necessita forjar em supremo e sobre-humano esforço; é sorrir quando quer chorar, movido pelo desejo maior de impedir se estabeleçam a insegurança e o desequilíbrio entre os demais companheiros de jornada familiar.
Ser pai é dispor-se a dividir, sem maior resistência, os frutos do seu labor; e desistir do seu usufruto, em favor dos filhos.
Ser pai é arbitrar e exercer a lei e as regras, a despeito de confrangido o coração; é tornar-se o indispensável grito, muito embora a constrição vocal; é tomar para si o epíteto de guia, embora as nebulosidades da caminhada.
Ser pai é fingir não ser atingido pela desatenção dos demais e não se incomodar com a ingratidão e o descaso, em nome da solidez emocional indispensável à segurança dos outros. Nem se abater com as interpretações equivocadas de dureza caricata sobre sua necessidade e dever funcionais de autoridade.
Os pais conduzem uma estrela no peito, bússola recebida da Divindade, para representá-La na direção e na relação com o grupo terreno. Refletem da justiça divina a sua feição na Terra, em supremo esforço para impedir que o próprio sentimento definhe a firmeza da direção.
Há pais de todo jeito, porque há filhos de todo jeito... e porque as pessoas apresentam-se tão diferentes quanto as flores e as folhas em suas peculiaridades; entretanto, na essência de suas obrigações, no assumir da responsabilidade e em suas atribuições específicas, todos os pais são instados a agir e a comportar-se segundo o padrão funcional específico que lhes determinam as leis divinas.
Os pais são os heróis necessários aos filhos e indispensáveis para a sua crença enquanto dependentes. São, porém, mais que heróis de fantasia, são heróis de resistência e perseverança; são anti-heróis do cotidiano que marcam a vida dos seus filhos, entregando-os compulsoriamente ao mundo a que pertencem, passando, então, a preencher seu mundo íntimo com as imagens arquivadas do passado em comum e o conjunto das emoções e sentimentos compartilhados, muitas vezes em árido e solitário exílio dos corações de seus filhos queridos.

(*) escritor espírita e pres. do Instituto de Cultura Espírita.

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