Pular para o conteúdo principal

GENERAL CELSO DE FREITAS






 Por Luciano Klein (*)


Celso Aurélio Reis de Freitas era natural de São Bento no Maranhão. Nasceu a 28 de abril de 1901, tendo como pais: José Carneiro de Freitas e Estelita Reis de Freitas.
            Optou, desde a juventude, pela carreira das armas. Frequentou  de 1919 a 1922 a Escola Militar no Rio de Janeiro. Em 1923, como 1.º tenente, veio pela primeira vez a Fortaleza e serviu como instrutor no Colégio Militar do Ceará, onde permaneceu até janeiro de 1926. De janeiro a julho desse mesmo ano serviu no 23.ºBC, aquartelado nesta capital. Serviu ainda em diversas guarnições: ESAO, em 1928; 24.º BC(1929-1931), Colégio Militar do Ceará (1931-1935), ficando de setembro a novembro de 1932 à disposição do governador do Estado; 23.º BC (1935-1936); ll.º RI (1936-1937); 24.ºBC (1941); 15.ºRI (1941-1942); 24.ºBC (1942-1949). De junho de1937 a março de 1941, esteve afastado, por motivos pessoais, das atividades militares. Em abril de 1949, veio em definitivo para Fortaleza, incorporando-se ao Quartel General da l0.ª Região Militar, permanecendo até 31 de dezembro de 1950. Em 31 de outubro de 1951, passou para a reserva, no posto de general- de- brigada. Na inatividade, recebeu convite para exercer a função de Secretário da Fazenda da Prefeitura Municipal de Fortaleza, na segunda administração de Acrísio Moreira da Rocha. E, mesmo depois de sofrer um infarto, foi designado chefe-de-gabinete do prefeito. 

            Casou-se pela primeira vez com Maria Luíza de Castro, com quem teve uma filha de nome Celma Eliana. Após enviuvar, casou-se, em São Luís do Maranhão, no ano de 1944, com Cecy Cerqueira de Freitas, nascendo da união outra menina, de nome Ilia.
            Militar íntegro, culto ( falava quatro idiomas inclusive o Esperanto), humilde e muito humano, tratava a todos os companheiros de farda, do soldado ao oficial mais graduado, com amabilidade. Quando visitou a 10.ª Região Militar de Fortaleza, em novembro de 1950, Leopoldo Machado ouviu de um oficial este depoimento sobre ele (“A Caravana da Fraternidade”, p 90) : “O Celso é que devia ser o capelão daqui, de vez que é mais jeitoso, mais tolerante, mais cristão. É querido de todos nós (...)”. E concluiria Leopoldo : “É a espada levando ensinamentos à cruz”. De fato, Celso de Freitas fazia por onde merecer o carinho e o afeto dos seus subordinados. Seus discursos eram  eivados de espiritualidade e de acendrado amor pela instituição a que servia. Num destes discursos, intitulado “Independência ou Morte”, ele diz: “Camaradas ! Sede justos, sede enérgicos, tomai sempre a decisão que não fira a disciplina. Colocai sempre o interesse do Exército acima dos interesses pessoais, mas não vos esqueçais de que só o amor constrói. Sede bondosos, comandai  também com o coração e assim não estareis sós, na hora do perigo (...)”.
            A sua iniciação no Espiritismo aconteceu após o falecimento da primeira esposa. Profundamente abatido, passou a ter uma vida social intensa, dedicando-se à prática de jogos de azar, até o momento em que, através de um amigo médium, sua companheira se manifestou, alertando-o para os perigos face à vida que levava. Em São Luís, onde se encontrava por ocasião deste fato, passou a frequentar um núcleo da Cruzada dos Militares Espíritas. Vindo para Fortaleza, em 1949, vinculou-se ao Centro Espírita Cearense (Federação Espírita Cearense), assumindo, já no ano seguinte, a presidência da instituição. Durante mais de dez anos prestou inestimáveis serviços ao Movimento Espírita. No primeiro centenário da edição de O Livro dos Espíritos, aparece entre os responsáveis pela celebração do evento, na Praça José Bonifácio.
Em março de 1951 fundou o Núcleo da Cruzada dos Militares Espíritas de Fortaleza, presidindo-o até sua desencarnação. Muito amigo de Juracy de Carvalho Lima e de Maria Augusta Holanda Fontes, frequentou também o Centro Espírita Casa do Caminho. Juntamente com o general Antônio Leite de Araújo Filho, à época major, presenciou a fundação do Hospital Nosso Lar. Foi um dos fundadores da sucursal da LBV (Legião da Boa Vontade) local.
            Colhendo através de entrevistas as impressões  de algumas pessoas que o conheceram, ouvimos do Dr. Honor Torres, antigo presidente do Centro Espírita Cearense : “(...) O General Celso era o nosso orador principal, pregava e conhecia muito bem o Evangelho. Ele era muito instruído, muito suave, muito delicado (...) Eu o admirava imensamente (...)”. Dona Ilia, sua filha, emocionada ao falar do pai, afirmou: “Ele se caracterizou pela humildade e pelo amor ao próximo (...) Era um apreciador apaixonado do Evangelho de Jesus Cristo (...) Nunca encontrei ninguém que falasse como ele sobre o Evangelho”.
            Lendo as anotações de Leopoldo Machado, constantes do livro “A Caravana da Fraternidade”, observamos a admiração que lhe causou a figura do então coronel Celso de Freitas, por ocasião de sua passagem por Fortaleza, em novembro de 1950. Foi ele quem presidiu à reunião ocorrida no Teatro José de Alencar, na qual falaram os caravaneiros Francisco Spinelli e Carlos Jordão, e a magistral conferência de Leopoldo Machado, desenvolvendo o tema “Conflito entre a Razão e a Fé”. No dizer de Leopoldo (“A Caravana da Fraternidade”, p.283), Celso foi apontado, por seu espírito cordato, para ser o presidente da Comissão Organizadora do serviço de unificação do movimento espírita cearense.
            Apaixonado pela vida e os ensinos de Jesus, seu regresso vitorioso ao Mundo Espiritual, há quarenta anos, não poderia ter ocorrido noutro dia. Após uma parada cardíaca, ele faleceu, em Fortaleza, no dia seguinte ao Natal, a 26 de dezembro de 1962.  

(*) historiador e pres. da Federação Espírita do Estado do Ceará.

Comentários

  1. Caro Luciano, muita paz.
    Como trabalhador do C.E. Casa do Caminho, ouvi dos mais antigos muitas referências sobre o Gen Celso, e sobre suas atividades na Casa do Caminho, mas de forma reduzida. No entanto, este artigo seu é de uma preciosidade imensa, fornecendo uma radiografia de sua vida de forma muito detalhada. Parabéns pela pesquisa, mostrando suas qualidades de historiador dos mais respeitáveis. Um grande abraço. Paulo Marques do Vale.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

DEUS¹

  No átimo do segundo em que Deus se revela, o coração escorrega no compasso saltando um tom acima de seu ritmo. Emociona-se o ser humano ao se saber seguro por Aquele que é maior e mais pleno. Entoa, então, um cântico de louvor e a oração musicada faz tremer a alma do crente que, sem muito esforço, sente Deus em si.

SOCIALISMO E ESPIRITISMO: Uma revista espírita

“O homem é livre na medida em que coloca seus atos em harmonia com as leis universais. Para reinar a ordem social, o Espiritismo, o Socialismo e o Cristianismo devem dar-se nas mãos; do Espiritismo pode nascer o Socialismo idealista.” ( Arthur Conan Doyle) Allan Kardec ao elaborar os princípios da unidade tinha em mente que os espíritas fossem capazes de tecer uma teia social espírita , de base morfológica e que daria suporte doutrinário para as Instituições operarem as transformações necessárias ao homem. A unidade de princípios calcada na filosofia social espírita daria a liga necessária à elasticidade e resistência aos laços que devem unir os espíritas no seio dos ideais do socialismo-cristão. A opção por um “espiritismo religioso” fundado pelo roustainguismo de Bezerra Menezes, através da Federação Espírita Brasileira, e do ranço católico de Luiz de Olympio Telles de Menezes, na Bahia, sufocou no Brasil o vetor socialista-cristão da Doutrina Espírita. Telles, ao ...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

ESPIRITISMO E POLÍTICA¹

  Coragem, coragem Se o que você quer é aquilo que pensa e faz Coragem, coragem Eu sei que você pode mais (Por quem os sinos dobram. Raul Seixas)                  A leitura superficial de uma obra tão vasta e densa como é a obra espírita, deixada por Allan Kardec, resulta, muitas vezes, em interpretações limitadas ou, até mesmo, equivocadas. É por isso que inicio fazendo um chamado, a todos os presentes, para que se debrucem sobre as obras que fundamentam a Doutrina Espírita, através de um estudo contínuo e sincero.

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...

É HORA DE ESPERANÇARMOS!

    Pé de mamão rompe concreto e brota em paredão de viaduto no DF (fonte g1)   Por Alexandre Júnior Precisamos realmente compreender o que significa este momento e o quanto é importante refletirmos sobre o resultado das urnas. Não é momento de desespero e sim de validarmos o esperançar! A História do Brasil é feita de invasão, colonização, escravização, exploração e morte. Seria ingenuidade nossa imaginarmos que este tipo de política não exerce influência na formação do nosso povo.

O ESPIRITISMO É PROGRESSISTA

  “O Espiritismo conduz precisamente ao fim que se propõe todos os homens de progresso. É, pois, impossível que, mesmo sem se conhecer, eles não se encontrem em certos pontos e que, quando se conhecerem, não se deem - a mão para marchar, na mesma rota ao encontro de seus inimigos comuns: os preconceitos sociais, a rotina, o fanatismo, a intolerância e a ignorância.”   Revista Espírita – junho de 1868, (Kardec, 2018), p.174   Viver o Espiritismo sem uma perspectiva social, seria desprezar aquilo que de mais rico e produtivo por ele nos é ofertado. As relações que a Doutrina Espírita estabelece com as questões sociais e as ciências humanas, nos faculta, nos muni de conhecimentos, condições e recursos para atravessarmos as nossas encarnações como Espíritos mais atuantes com o mundo social ao qual fazemos parte.

OS ESPÍRITAS E OS GASPARETTOS

“Não tenho a menor pretensão de falar para quem não quer me ouvir. Não vou perder meu tempo. Não vou dar pérolas aos porcos.” (Zíbia Gaspareto) “Às vezes estamos tão separados, ao ponto de uma autoridade religiosa, de um outro culto dizer: “Os espíritas do Brasil conseguiram um prodígio:   conseguiram ser inimigos íntimos.” ¹ (Chico Xavier )                            Li com interesse a reportagem publicada na revista Isto É , de 30 de maio de 2013, sobre a matéria de capa intitulada “O Império Espírita de Zíbia Gasparetto”. (leia matéria na íntegra)             A começar pelo título inapropriado já que a entrevistada confessou não ter religião e autodenominou-se ex-espírita , a matéria trouxe poucas novidades dos eventos anteriores. Afora o movimento financeiro e ...