“Em que se
transforma a alma no instante da morte?
- Volta a ser Espírito ou seja, retorna ao mundo dos
Espíritos que ela havia deixado temporariamente.
(“O Livro dos Espíritos", questão 149)
Por
Jorge Luiz (*)
O
programa Pinga-Fogo, entrevista
concedida por Chico Xavier (1910-2002), na extinta TV Tupi, em 1971, apresenta
fatos curiosos da vida desse saudoso espírita. Um deles relata situação que o
Chico vivenciou em um voo doméstico de Uberaba para Belo Horizonte (MG), quando
o avião passou por forte turbulência e todos os passageiros, incluindo o médium
mineiro, vivenciaram pânico por imaginarem morte certa.
Diante
desse conturbado momento, o Espírito Emmanuel, guia espiritual do Chico Xavier,
repreendeu-o pela falta de fé na imortalidade da alma, diante de um “cala a boca e morra com educação”. E o
Chico redarguiu: “Eu só quero saber como
se morre com educação.”
A indagação de Chico
Xavier é pertinente. Em nossos dias o termo ainda causa perplexidade, rejeição
franca, clara ou velada, ou riso, ou outro tipo reação, não só do leigo, como
também dos profissionais da educação.
O Espírito na
caminhada da evolução enfrenta dois determinismos naturais: nascer e morrer. A
reencarnação insere-se nesse cenário como proposta educativa para o Espírito
ainda necessitando de aprimoramento moral.
No
estágio atual, somente a educação para a vida faz parte deste processo. Morrer
ainda continua sendo, na visão reducionista, a grande tragédia humana. No
entanto, jamais se entenderá o sentido da vida, sem adequada compreensão do que
representa a morte. O poeta alemão Rainer Rilke (1875-1926), afirmou: “Quem quer que compreenda corretamente e
enalteça a morte, ao mesmo tempo enaltece a vida.”
A
ignorância da morte como fenômeno biológico, no passado, gerou o descabido
comércio das indulgências, propiciando poderoso superávit para os seus defensores. A deseducação para a morte na
atualidade gera a “indústria funerária”, que movimenta bilhões de dólares em
nível de mundo. Sepultar ente querido
hoje em Fortaleza varia de R$700 a R$12 mil. Esse valor, dependendo do modelo
de caixão e serviços adicionais podem superar os R$23 mil.
Por
outro lado, a doutrina salvífica e a teologia da prosperidade, defendidas pelas
religiões, vêm produzindo verdadeiras riquezas em favor dos principais líderes.
Contribuição
de fôlego, no entanto, direcionada para propiciar educação para a morte foi
elaborada pela psiquiatra norte-americana Dra. Elisabeth Kübler Ross
(1926-2004), através da entrevista de milhares de pacientes considerados
terminais. Ela afirma em uma das suas obras: “no momento da transição, você nunca está só. Nem mesmo agora você está
sozinho, só que não sabe disso. Na hora da transição, os seus guias, os seus
anjos da guarda, as pessoas que você amou e que já se foram, estarão ali para
ajudá-lo. Podemos comprovar isso sem sombra de dúvida, e é na qualidade de
cientista que faço essa afirmação.”
Mas,
quem primeiro operou procedimentos psicológicos sobre a morte, e a necessidade
de sua educação foi Allan Kardec. Ele elaborou pesquisa exemplar sobre o
fenômeno da morte. O Espiritismo, como obra de educação do Espírito, educa-o para a vida e morte. Kardec foi seguido por outros ilustres espíritas do século
XIX.
Interditada à criança,
a morte sempre ficou restrita ao contexto do adulto. Seguindo o pensamento de
Piaget estudiosos da educação e psicólogos da linha clínica e comportamental vêm
considerando a importância do significado da morte para o desenvolvimento
cognitivo da criança. A morte quando não explicitada à criança, segundo
estudos, podem repercutir em distúrbios de aprendizagem, fracasso escolar,
fobias, tiques. Até mesmo uma psicose poderá explodir como consequência de uma
morte não falada.
Na
realidade, a educação para a morte é hoje considerada exigência, por múltiplas
disciplinas.
O
filósofo e educador brasileiro J. Herculano Pires, em sua magistral obra Educação para a Morte, apropria-se bem
do termo, em uma perspectiva eminentemente espírita: “A Educação para a Morte não é nenhuma forma de preparação religiosa
para a conquista do Céu. É um processo educacional que tende a ajustar os
educandos à realidade da Vida, que não consiste apenas no viver, mas também no
existir e no transcender.” E continua ele, “é, portanto, a preparação do homem durante a sua existência, para a
libertação do seu condicionamento humano. Libertando-se desse condicionamento,
o homem reintegra na sua natureza espiritual, tornando-se espírito, na sua
plenitude de sua essência divina.”
Reflexões findas e
pertinentes cito resposta do psiquiatra canadense, Dr. Ian Stevenson
(1918-2007), quando indagado pelo jornalista Tom Shroder o que buscava ele
alcançar, ante a sua obstinada dedicação em comprovar cientificamente a
reencarnação. Respondeu Stevenson:
“- A
paz no Mundo”. E continuou, depois de prolongado silêncio: “- Se eliminássemos o medo da morte, o mundo
conseguiria um equilíbrio maior. Não haveria motivos para a guerra.”
(*)
voluntário do Instituto de Cultura Espírita.
ILUSTRAÇÃO:
Caronte
(Mitologia Grega) é o barqueiro que leva as almas das pessoas mortas para o
Hades, atravessando o rio Aqueronte, um rio de aguas turbulentas que delimitava
o inferno. Ele é um velho muito magro, porém muito forte e só atravessava os
mortos que fossem devidamente sepultados e cobrava por este serviço, dai vem o
costume de sepultar os mortos com duas moedas sobre os olhos.
Caso
uma a alma de alguém que não tivesse tido acesso a um velório correto tentasse
passar Caronte o impediria, e este
deveria vagar por cem anos, para cima e para baixo a margem do rio, até que
pudesse enfim atravessar.
Na maioria das vezes o homem busca conhecimento e esquece de coloca-lo em prática!
ResponderExcluirNos educarmos para a morte não é uma coisa muito fácil de de se fazer, depois que se busca a consolação da Doutrina Espírita, temos outra visão a respeito.
ResponderExcluirMais uma vez, vcs acertaram na escolha do tema.
Saúde e paz e uma ótima 3a feira.