segunda-feira, 11 de março de 2013

EDUCAÇÃO PARA A MORTE



“Em que se transforma a alma no instante da morte?
- Volta a ser Espírito ou seja, retorna ao mundo dos
Espíritos que ela havia deixado temporariamente.
(“O Livro dos Espíritos", questão 149)


Por Jorge Luiz (*)


            O programa Pinga-Fogo, entrevista concedida por Chico Xavier (1910-2002), na extinta TV Tupi, em 1971, apresenta fatos curiosos da vida desse saudoso espírita. Um deles relata situação que o Chico vivenciou em um voo doméstico de Uberaba para Belo Horizonte (MG), quando o avião passou por forte turbulência e todos os passageiros, incluindo o médium mineiro, vivenciaram pânico por imaginarem morte certa.
            Diante desse conturbado momento, o Espírito Emmanuel, guia espiritual do Chico Xavier, repreendeu-o pela falta de fé na imortalidade da alma, diante de um “cala a boca e morra com educação”. E o Chico redarguiu: “Eu só quero saber como se morre com educação.”
            A indagação de Chico Xavier é pertinente. Em nossos dias o termo ainda causa perplexidade, rejeição franca, clara ou velada, ou riso, ou outro tipo reação, não só do leigo, como também dos profissionais da educação.

            O Espírito na caminhada da evolução enfrenta dois determinismos naturais: nascer e morrer. A reencarnação insere-se nesse cenário como proposta educativa para o Espírito ainda necessitando de aprimoramento moral.
            No estágio atual, somente a educação para a vida faz parte deste processo. Morrer ainda continua sendo, na visão reducionista, a grande tragédia humana. No entanto, jamais se entenderá o sentido da vida, sem adequada compreensão do que representa a morte. O poeta alemão Rainer Rilke (1875-1926), afirmou: “Quem quer que compreenda corretamente e enalteça a morte, ao mesmo tempo enaltece a vida.”
            A ignorância da morte como fenômeno biológico, no passado, gerou o descabido comércio das indulgências, propiciando poderoso superávit para os seus defensores. A deseducação para a morte na atualidade gera a “indústria funerária”, que movimenta bilhões de dólares em nível de mundo. Sepultar ente querido hoje em Fortaleza varia de R$700 a R$12 mil. Esse valor, dependendo do modelo de caixão e serviços adicionais podem superar os R$23 mil.
            Por outro lado, a doutrina salvífica e a teologia da prosperidade, defendidas pelas religiões, vêm produzindo verdadeiras riquezas em favor dos principais líderes.
            Contribuição de fôlego, no entanto, direcionada para propiciar educação para a morte foi elaborada pela psiquiatra norte-americana Dra. Elisabeth Kübler Ross (1926-2004), através da entrevista de milhares de pacientes considerados terminais. Ela afirma em uma das suas obras: “no momento da transição, você nunca está só. Nem mesmo agora você está sozinho, só que não sabe disso. Na hora da transição, os seus guias, os seus anjos da guarda, as pessoas que você amou e que já se foram, estarão ali para ajudá-lo. Podemos comprovar isso sem sombra de dúvida, e é na qualidade de cientista que faço essa afirmação.”
            Mas, quem primeiro operou procedimentos psicológicos sobre a morte, e a necessidade de sua educação foi Allan Kardec. Ele elaborou pesquisa exemplar sobre o fenômeno da morte. O Espiritismo, como obra de educação do Espírito, educa-o para a vida e morte. Kardec foi seguido por outros ilustres espíritas do século XIX.
            Interditada à criança, a morte sempre ficou restrita ao contexto do adulto. Seguindo o pensamento de Piaget estudiosos da educação e psicólogos da linha clínica e comportamental vêm considerando a importância do significado da morte para o desenvolvimento cognitivo da criança. A morte quando não explicitada à criança, segundo estudos, podem repercutir em distúrbios de aprendizagem, fracasso escolar, fobias, tiques. Até mesmo uma psicose poderá explodir como consequência de uma morte não falada.
            Na realidade, a educação para a morte é hoje considerada exigência, por múltiplas disciplinas.
            O filósofo e educador brasileiro J. Herculano Pires, em sua magistral obra Educação para a Morte, apropria-se bem do termo, em uma perspectiva eminentemente espírita: “A Educação para a Morte não é nenhuma forma de preparação religiosa para a conquista do Céu. É um processo educacional que tende a ajustar os educandos à realidade da Vida, que não consiste apenas no viver, mas também no existir e no transcender.” E continua ele, “é, portanto, a preparação do homem durante a sua existência, para a libertação do seu condicionamento humano. Libertando-se desse condicionamento, o homem reintegra na sua natureza espiritual, tornando-se espírito, na sua plenitude de sua essência divina.”
            Reflexões findas e pertinentes cito resposta do psiquiatra canadense, Dr. Ian Stevenson (1918-2007), quando indagado pelo jornalista Tom Shroder o que buscava ele alcançar, ante a sua obstinada dedicação em comprovar cientificamente a reencarnação. Respondeu Stevenson:
“- A paz no Mundo”. E continuou, depois de prolongado silêncio: “- Se eliminássemos o medo da morte, o mundo conseguiria um equilíbrio maior. Não haveria motivos para a guerra.”

(*) voluntário do Instituto de Cultura Espírita.


ILUSTRAÇÃO: Caronte (Mitologia Grega) é o barqueiro que leva as almas das pessoas mortas para o Hades, atravessando o rio Aqueronte, um rio de aguas turbulentas que delimitava o inferno. Ele é um velho muito magro, porém muito forte e só atravessava os mortos que fossem devidamente sepultados e cobrava por este serviço, dai vem o costume de sepultar os mortos com duas moedas sobre os olhos.

Caso uma a alma de alguém que não tivesse tido acesso a um velório correto tentasse passar  Caronte o impediria, e este deveria vagar por cem anos, para cima e para baixo a margem do rio, até que pudesse enfim atravessar.



2 comentários:

  1. Na maioria das vezes o homem busca conhecimento e esquece de coloca-lo em prática!

    ResponderExcluir
  2. Nos educarmos para a morte não é uma coisa muito fácil de de se fazer, depois que se busca a consolação da Doutrina Espírita, temos outra visão a respeito.
    Mais uma vez, vcs acertaram na escolha do tema.
    Saúde e paz e uma ótima 3a feira.

    ResponderExcluir