quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

LIDERANÇA ESPÍRITA




“Bem sabeis que os governadores
 dos gentios os dominam  e que os grandes
exercem autoridade sobre eles.
 Não será assim entre vós.
Pelo contrário, todo aquele que, entre vós,
quiser tornar-se grande, seja vosso servo,
e quem dentre vós quiser ser o primeiro, seja vosso escravo  – (...)
Jesus (Mt, 20:25-28)


Por Jorge Luiz (*)
                        


            Não há dúvidas que atravessamos uma crise no movimento espírita. Não há necessidade de clarividência para isso. Considero que a gênese de todos eles, sem medo de errar, reside no perfil de gestão. Há escassez de líderes espíritas. Consequentemente, o estilo diretivo de competências não construiu uma identidade. Paulo Gaudêncio, médico psiquiatra com foco no ajustamento humano no campo profissional, afirma que a crise origina-se com o choque que se estabelece entre a ideia que caminhou e a estrutura que permaneceu. Fortalece meu ponto de vista.
             Utilizo três terminologias para estabelecer, tecnicamente, uma diferença entre gestor, líder e dirigente. Para isso utilizarei a proposta da professora Betânia Tanure, pesquisadora da Universidade Católica de Minas Gerais, relacionando os três papéis às sete dimensões principais que ela identificou em uma organização:

·         Gestor

  • Dimensões mais racionais: estratégia, estrutura e processo;

·         Líder

  • Dimensões mais emocionais: pessoas, cultura e liderança;

·         Dirigente

  • Dimensão da visão de futuro (movimento espírita): articula os dois grupos em torno do propósito da organização.



            Pelo esquema acima, deduz-se que o gestor detém cargo de chefia, lida com mais com o racional, estando vinculado mais à parte operacional da organização. No entanto, esse perfil é pouco para uma organização que trabalha com transformação de pessoas, como é o caso do centro espírita. Surge, portanto, a necessidade do espírito de liderança. O líder estando voltado para o lado mais emocional da organização é legitimado pelos liderados, seguindo-o voluntariamente, o que não ocorre com o gestor. Considero dimensões transformadoras do líder espírita: conhecimento doutrinário, visão de movimento espírita, legitimidade, poder de relacionamento transformador, comportamento “agridoce” e elevado grau de autoconhecimento.  (itálicos meus)
            O dirigente engloba as dimensões do gestor e do líder.
            O movimento espírita criou verdadeira ojeriza à adesão aos princípios de gestão do mundo corporativo na administração do centro espírita. À primeira vista parece justificável. Oportunizaram-se dois modelos de gestão muito especiais: Kardec e Jesus.
            Kardec oportuniza estilo de direção compartilhada; descentralizada. Jesus é o modelo do líder servidor. Liderar com Jesus e Kardec é jornada de transformação, transformadora.
            Mas, “nem lé, nem cré!”
             A “crise de identidade” que se constata na administração da casa espírita tem sua gênese na não adoção de nenhum desses modelos de gestão. A administração espírita tende para a mediocridade (de médio), devido ao surgimento de um grande paradoxo.
            Grande paradoxo: a gestão espírita trilha estilo diretivo, com forte tendência hierarquizante, centralizadora, controladora, não participativa, distante das metodologias exemplificadas por Jesus e Kardec.  
            Os resultados dessa gestão ocorrem a custos altíssimos. Com o tempo, o gestor com esse perfil acaba por ficar isolado e perder o contato com as pessoas concretas, com os seus problemas e aspirações, com as suas esperanças, afirma Francesco Alberoni, italiano, considerado um dos maiores expoentes da sociologia europeia. Será um dos fatores para o esvaziamento das nossas casas espíritas?
            Já Ken Blanchard e Phil Hodges, na obra “Lidere como Jesus”, afirmam que liderar como Jesus significa considerar as questões do coração, da cabeça, das mãos e dos hábitos. Esse é o modelo que o mundo das corporações descobriu e já começa a trilhar. 
            E nós espíritas?

(*)  livre pensador, blogueiro e voluntário do ICE.
             

2 comentários:

  1. Ligiane Neves - Casa do Caminho de Aquiraz18 de janeiro de 2013 às 22:56

    Muito oportuna a sua matéria! Amigo Jorge, porque o lider espírita está tão distante da verdadeira postura?
    Ah! parabéns pelas mudanças no blog, ficou muito legal!

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    1. Ligiane,
      Agradecidos pelas palavras generosas quando às mudanças do blog.
      A maior dificuldade que observo na dinâmica diretiva do movimento espírita, diz respeito ao personalismo e a negligência quanto ao estudo das obras básicas.

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