Pular para o conteúdo principal

UMA QUESTÃO DE PODER




Seja, pois, o vosso sim, sim, e o vosso não, não.”
(Tiago 5:12)

Por Jorge Luiz

             O Espiritismo está na moda. O Espiritismo ganhou Cidadania. Só isso foi o bastante para as disputas pelo poder tomar dimensões partidaristas na seara espírita. As distensões intestinas hoje em muitos núcleos espíritas geradas pela disputa de poder são preocupantes. Em todos os níveis a situação vem ocorrendo, inclusive no movimento federativo.
            Max Weber, sociólogo alemão (1864-1920), foi quem melhor definiu o poder à compreensão humana, ao afirmar que “é a possibilidade de alguém impor a sua vontade sobre o comportamento de outras pessoas.” A definição é medíocre em demasia para enquadrar adeptos de uma Doutrina de amor, luz, desprendimento, consolação, fé racional e tendo como seu estandarte a caridade.  Prefiro pensar assim.
            J. Kenneth Galbraith (1908-2006), professor Emérito de Economia da Universidade de Harvard, ao estudar a anatomia do poder asseverou que “a exemplo de muitos outros aspectos do poder, os propósitos pelos quais ele é procurado são amplamente sentidos, mas raramente enunciados.” Atesta ele que “um cinismo profundamente enraizado e extremamente valioso é a réplica apropriada e usual a todas as declarações abertas dos objetivos do poder; exprime-se na onipresente pergunta O que ele realmente pretende?”
            Foi assim que se constituiu um pretenso império das almas, que se mostrou muitas vezes em pavorosa tirania pela usança da tortura e da fogueira para se manter. Um “poder espiritual” consolidado a partir da proclamação do reino de Deus, - justiça, amor e caridade -, direito de todos, para direito de alguns, exercido pela privação dos direitos da Consciência, lugar reservado à Lei de Deus. Esse “poder espiritual”, desmentiu-se a si mesmo.

            Ernest Renan (1823-1892), escritor, filósofo, filólogo e historiador francês, atesta em sua obra  clássica “Vida de Jesus”, dia virá, e estamos próximos desses dias, em que a separação trará seus frutos, em que o domínio das coisas do Espírito não mais se chamará um “poder” e sim “liberdade”. Essa é a audaciosa iniciativa do Rabi Galileu cuja esperança de realizá-la está em cada um de nós. Esse é o propósito do Espiritismo ao reviver a mensagem da Boa Nova.
            O Apóstolo Paulo em sua II Epístola aos Coríntios, 13:10 aponta a direção para o uso adequado do poder: “Segundo o poder que o Senhor me deu para edificação, e não para destruição.”
            Já Allan Kardec sugere que não façais ao outro o que não querereis que vos fosse feito, mas fazei-lhe, ao contrário, todo o bem que está em vosso poder fazer.
          Estamos sempre compelidos a manifestações apaixonadas que esquecemos os imperativos da prudência evangélica, sob o destempero do egoísmo, ao considerar que as ideias defendidas superam às dos irmãos do caminho.
            Articulam-se planos mirabolantes e dissemina-se o vírus da maledicência contra o companheiro ao constatar que as ideias que se defende são pouco confiáveis ante às dos confrades de ideal.
            O espírito de equipe é logo solapado pela intolerância que se cristaliza e destrói as aspirações mais sublimes da amizade e respeito ao próximo.
            Não se está servindo à seara espírita para aniquilar o que é imperfeito, mas para dar curso a um projeto Divino para regeneração da Humanidade, ainda inacabado, atesta o Espírito Emmanuel.
            A jornada é espiritual e não contempla a inserção da competitividade mórbida que campeia os quatro cantos do Planeta, mas processo de aprendizado que somente com a convivência fraterna é que se sairá vitorioso dos compromissos espirituais assumidos.
            Somos candidatos à renovação de nossas almas e Jesus é o grande comandante dos nossos passos na evolução. Seguindo-O, esse é o discurso habitual, quais os motivos que nos levam a essa postura heterônoma diante do poder?
       Detendo-se ideias extraordinárias, embora díspares, unamo-nos sob o lábaro da caridade e que se promova o diálogo, pois certamente quem ganhará serão o nosso movimento e os princípios unificadores do Espiritismo. 
            Ser espírita é trabalhar para a edificação do Espiritismo, portanto, não há motivos para dissensões e conflitos pela disputa do poder, já que os ensinamentos para esse desiderato são o amor e o conhecimento que liberta.
            O Rabi Nazareno quando entre nós considerou em várias oportunidades o significado do poder Real, ao afirmar que “não se pode servir a dois senhores.” Em outra oportunidade, desconcertou a todos quando ponderou que desse “a César o que era de César e a Deus o que é de Deus.”
            O poder que deu a seus discípulos foi o de disseminar a Boa Nova, curar os enfermos e expulsar os demônios. O mesmo poder que os espíritas estão revestidos.
            Foi enfático quando destacou as nossas potencialidades divinas que refletem a marca de Deus em nós:
            “Eu disse, sois deuses? (Jo 10:34)
            “Vós sois o sal da terra.” (Mt 5:13)
            “Vós sois a luz do mundo.“ (Mt 5:14)
          Busquemos nos inspirar no estilo de liderança do Cristo, pois Ele afirmou que não veio para ser servido e sim para servir.

Comentários

  1. É preciso ter pulso forte para saber educar. Desde os nossos filhos, é preciso saber a hora de dizer o "sim" e dizer o "não" e ficar tudo certo! - MUITA PAZ!!!

    ResponderExcluir
  2. ...'O espírito de equipe é logo solapado pela intolerância que se cristaliza e destrói as aspirações mais sublimes da amizade e respeito ao próximo.'...

    E o mais engraçado é quando anulam boas idéias, dizendo que o Centro Espírita não é 'samba do crioulo doido' e logo em seguida, agrega esta mesma idéia com sendo sua, divulgando-a como autor da idéia de terceiros... Será que pensam que espírito de equipe é isto?

    Infelizmente amigo Jorge, tudo é uma questão de PODER!!

    ResponderExcluir
  3. Muito bom. Muito oportuno!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

      Por Wilson Garcia Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

CONFLITOS E PROGRESSO

    Por Marcelo Henrique Os conflitos estão sediados em dois quadrantes da marcha progressiva (moral e intelectual), pois há seres que se destacam intelectualmente, tornando-se líderes de sociedades, mas não as conduzem com a elevação dos sentimentos. Então quando dados grupos são vencedores em dadas disputas, seu objetivo é o da aniquilação (física ou pela restrição de liberdades ou a expressão de pensamento) dos que se lhes opõem.

“TUDO O QUE ACONTECER À TERRA, ACONTECERÁ AOS FILHOS DA TERRA.”

    Por Doris Gandres Esta afirmação faz parte da carta que o chefe índio Seattle enviou ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1854! Se não soubéssemos de quem e de quando é essa declaração poder-se-ia dizer que foi escrita hoje, por alguém com bastante lucidez para perceber a interdependência entre tudo e todos. O modo como vimos agindo na nossa relação com a Natureza em geral há muitos séculos, não apenas usando seus recursos, mas abusando, depredando, destruindo mananciais diversos, tem gerado consequências danosas e desastrosas cada vez mais evidentes. Por exemplo, atualmente sabemos que 10 milhões de toneladas de plásticos diversos são jogadas nos oceanos todo ano! E isso sem considerar todas as outras tantas coisas, como redes de pescadores, latas, sapatos etc. e até móveis! Contudo, parece que uma boa parte de nós, sobretudo aqueles que priorizam seus interesses pessoais, não está se dando conta da gravidade do que está acontecendo...

FUNDAMENTALISMO AFETA FESTAS JUNINAS

  Por Ana Cláudia Laurindo   O fundamentalismo religioso tenta reconfigurar no Brasil, um país elaborado a partir de projetos de intolerância que grassam em pequenos blocos, mas de maneira contínua, em cada situação cotidiana, e por isso mesmo, tais ações passam despercebidas. Eles estão multiplicando, por isso precisamos conhecer a maneira com estas interferências culturais estão atuando sobre as novas gerações.

NÃO SÃO IGUAIS

  Por Orson P. Carrara Esse é um detalhe imprescindível da Ciência Espírita. Como acentuou Kardec no item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos: “Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da doutrina que nos transmitiram”, sendo esse destacado no título um deles. Sim, porque esse detalhe influi diretamente na compreensão exata da imortalidade e comunicabilidade dos Espíritos. Aliás, vale dizer ainda que é no início do referido item que o Codificador também destaca: “(...) os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos (...)”.

JESUS TEM LADO... ONDE ESTOU?

   Por Jorge Luiz  A Ilusão do Apolitismo e a Inerência da Política Há certo pedantismo de indivíduos que se autodenominam apolíticos como se isso fosse possível. Melhor autoafirmarem-se apartidários, considerando a impossibilidade de se ser apolítico. A questão que leva a esse mal entendido é que parte das pessoas discordam da forma de se fazer política, principalmente pelo fato instrumentalizado da corrupção, que nada tem do abrangente significado de política. A política partidária é considerada quando o indivíduo é filiado a alguma agremiação religiosa, ou a ela se vincula ideologicamente. Quanto ao ser apolítico, pensa-se ser aquele indiferente ou alheio à política, esquecendo-se de que a própria negação da política faz o indivíduo ser político.

TEMOS FORÇA POLÍTICA ENQUANTO MULHERES ESPÍRITAS?

  Anália Franco - 1853-1919 Por Ana Cláudia Laurindo Quando Beauvoir lançou a célebre frase sobre não nascer mulher, mas tornar-se mulher, obviamente não se referia ao fato biológico, pois o nascimento corpóreo da mulher é na verdade, o primeiro passo para a modelagem comportamental que a sociedade machista/patriarcal elaborou. Deste modo, o sentido de se tornar mulher não é uma negação biológica, mas uma reafirmação do poder social que se constituiu dominante sobre este corpo, arrastando a uma determinação representativa dos vários papéis atribuídos ao gênero, de acordo com as convenções patriarcais, que sempre lucraram sobre este domínio.