Pular para o conteúdo principal

PENSO, LOGO SOU!





“Pedir que os outros pensem com a nossa cabeça seria exigir que o mundo se adaptasse aos nossos caprichos, (...).” (Espírito Emmanuel)



Por Jorge Luiz (*)





Allan Kardec em a Revista Espírita de janeiro de 1867, afirma que todo homem que não se guia pela fé cega é, por isto mesmo, livre-pensador. A esse título os espíritas também são livres-pensadores. No entanto, ele faz uma distinção bem clara entre os espíritas e aqueles que são chamados os radicais do livre pensamento, numa acepção mais restrita.
            O Espiritismo estruturado em uma filosofia espiritualista, e sendo a filosofia o debruçar-se sobre si mesmo, não haveria uma denominação tão adequada.
            A liberdade de pensamento é bem clara na questão nº 833 de “O Livro dos Espíritos” quando os Reveladores espirituais afirmam que “é pelo pensamento que o homem goza de liberdade sem limites...”
            A Doutrina Espírita é uma doutrina dialógica, estruturada na reflexão e no debate. Não fosse Kardec um livre-pensador o Espiritismo não teria sido organizado e sistematizado pelo método da observação e da razão. Portanto, o Espiritismo é uma doutrina do livre-pensar, pois toca de perto todos os gêneros do conhecimento humano. Daí a expansibilidade que ela oferece ao espírita para exercer toda a sua potencialidade do livre-pensar.

            O espírita é livre-pensador. Ele não está sujeito à dominação, a estrutura de poder, a dogmas de fé, ritualística e espírito de seita. O livre-pensar não se sujeita a tempo e espaço. O livre-pensador é anarquista.
            O anarquismo (1) do espírita não é sem propósitos, sem proposta e sem mensagem, ele é estimulado para uma avaliação crítica e uma reavaliação do conhecimento tendo como paradigma o ensinamento dos Espíritos. O pensar espírita reconstrói permanentemente o conhecimento. Conhece a Verdade que liberta.
            O homem que não exerce o livre-pensar permite que a sua mente seja tomada por empréstimo. Alugada. Enclausurada. Não se dá conta que as ideias nela existentes nada há de original.  Com o livre-pensar a mente vive o presente. Sem ele a mente vive de promessas. Observemos o cenário religioso brasileiro.
            Sem o livre-pensar não há a filosofia espírita, pois é dele que ela se personifica e reconstrói para a expansibilidade do Ser moral e imortal; a alma Kardeciana.
            Confidenciava uma confreira e amiga que vivemos uma dicotomia muito grande no movimento espírita; uma doutrina que conclama a uma fé raciocinada à liberdade de pensamento e um movimento espírita dogmatizante, fechado para o exercício da liberdade de consciência. Muito reflexivo o seu posicionamento.
            No processo do pensar corre-se o risco de se disseminar a hipocrisia, assim dizem os Espíritos, no momento em que constrangemos o próximo a pensar como nós. Léon Denis lembra-nos que Allan Kardec “pôs-nos sempre de sobreaviso contra o dogmatismo e o espírito de seita; recomenda-nos sem cessar, nas suas obras, que não deixemos cristalizar o Espiritismo (...)”.
            A forma de pensar exigido pelas transformações morais que se operam no Planeta é includente, pois integra saberes. É um pensar compassivo, solidário, ético, leal, respeitoso e responsável.
            Só há redenção espiritual a partir desse pensar, que evolui para a compreensão, para o sentir, à assimilação que se integra à individualidade e resultará na vivência.. Sem esse processo o conhecimento fica a nível periférico do ego, construindo eruditismo árido, estéril e sem resultados morais sustentáveis. Portanto, o pensar não includente leva ao erro e a ilusão, parasitando a mente.
            A esse respeito Allan Kardec adverte-nos “que devemos compreender, procurarmos compreender, por que não queremos crer como cegos: o raciocínio é o facho luminoso que nos guia.”
            Essa racionalidade pregada por Kardec é fruto de uma consciência aberta pela sua própria natureza para a dialética espírita, num ir e vir incessante em existência lógica, pela própria lógica da Doutrina Espírita. O erro e a ilusão não cabem nesse sistema por força do exercício do livre-pensar.
            Estando a lei de Deus escrita em nossa Consciência só poderemos realizá-La através de ações voltadas para o Bem, nascidas da boa ordem que direcionarmos  nossos pensamentos.
            Pensando, eu Sou!  Tu És!  Nós Somos!

 (1) anarquia significa ausência de coerção, e não ausência de normas como o termo se popularizou por força de propagandas patronais de interesses políticos e religiosos.
 



 *Jorge Luiz, Personal Professional Coach, aposentado do Banco do Brasil, expositor espírita, livre-pensador e voluntário no Instituto de Cultura Espírita - ICE

Comentários

  1. Parabéns,
    Jorge.
    Brilhante dissertação, nos leva a uma profunda reflexão. Parabéns pelos 4 meses de blog!

    Luciana Lucas

    ResponderExcluir
  2. Ligiane Neves - Casa do Caminho de Aquiraz13 de setembro de 2012 às 22:36

    A cada novo assunto fica a certeza do quanto está sendo importante esse trabalho para muitos de nós. Parabéns Jorge, pelo excelente trabalho de divulgação que vocês estão realizando.
    O assunto de hoje nos convida a uma reflexão muito profunda!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Ligiane!
      Aguardamos vocês no 20º ENESE. Soube que teremos um ônibus lotado.
      Valeu pela força!

      Excluir
  3. Parabéns! Arquivo todos os trabalhos divulgados aqui! Muita Paz!!!

    ResponderExcluir
  4. Clodoaldo Garcia Junior18 de setembro de 2012 às 10:25

    Parabéns Jorge!

    Nas ideias de Kardec e dos espíritos é que contém o pensar espírita. Sem o estudo sério por parte de cada um de nós da Doutrina Espírita continuará a existir os tradutores oficiais da obra de Jesus. Cada um tem o direito de aprender sem opressão e imposição orgulhosa de ninguém. Que pensar? saiba primeiro de que se trata. ninguém pode pensar com o cerébro do outro. Por isso, só se torna um livre pensador daquilo que se quer pensar se souber sobre o que esta se pensando. Sem isso continuaremos a colocar a direção de nosso caminho nas mãos dos outros e como consequencia nunca assumiremos nossas culpas.

    Muita paz!

    Clodoaldo

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

DIA DA ESPOSA DO PASTOR: PAUTA PARASITA GANHA FORÇA NO BRASIL

     Imagens da internet Por Ana Cláudia Laurindo O Dia da Esposa do Pastor tem como data própria o primeiro domingo de março. No contexto global se justifica como resultado do que chamam Igreja Perseguida, uma alusão aos missionários evangélicos que encontram resistência em países que já possuem suas tradições de fé, mas em nome da expansão evangélico/cristã estas igrejas insistem em se firmar.  No Brasil, a situação é bem distinta. Por aqui, o que fazia parte de uma narrativa e ação das próprias igrejas vai ocupando lugares em casas legislativas e ganhando sanções dentro do poder executivo, como o que aconteceu recentemente no estado do Pará. Um deputado do partido Republicanos e representante da bancada evangélica (algo que jamais deveria ser nominado com naturalidade, sendo o Brasil um país laico (ainda) propôs um projeto de lei que foi aprovado na Assembleia Legislativa e quando sancionado pelo governador Helder Barbalho, no início deste mês, se tornou a lei...

OS ESPÍRITAS E O CENSO DE 2022

  Por Jorge Luiz   O Desafio da Queda de Números e a Reticência Institucional do Espiritismo no Brasil Alguns espíritas têm ponderado sobre o encolhimento do número de declarados espíritas no Brasil, conforme o Censo de 2022, com abordagens diversas – desde análises francas até tentativas de minimizar o problema. O fato é que, até o momento, as federativas estaduais e a Federação Espírita Brasileira (FEB) não se manifestaram com o propósito de promover um amplo debate sobre o tema em conjunto com as casas espíritas. Essa ausência das federativas no debate não chega a ser surpreendente e é uma clara demonstração da dinâmica do movimento espírita brasileiro (MEB). As federativas, na realidade, tornaram-se instituições de relacionamento público-social do movimento espírita.

CONFLITOS E PROGRESSO

    Por Marcelo Henrique Os conflitos estão sediados em dois quadrantes da marcha progressiva (moral e intelectual), pois há seres que se destacam intelectualmente, tornando-se líderes de sociedades, mas não as conduzem com a elevação dos sentimentos. Então quando dados grupos são vencedores em dadas disputas, seu objetivo é o da aniquilação (física ou pela restrição de liberdades ou a expressão de pensamento) dos que se lhes opõem.

JUSTIÇA COM CHEIRO DE VINGANÇA

  Por Roberto Caldas Há contrastes tão aberrantes no comportamento humano e nas práticas aceitas pela sociedade, e se não aceitas pelo menos suportadas, que permitem se cogite o grau de lucidez com que se orquestram o avanço da inteligência e as pautas éticas e morais que movem as leis norteadoras da convivência social.  

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

      Por Wilson Garcia Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia: