Pular para o conteúdo principal

A SUSTENTABILIDADE DA GESTÃO ESPÍRITA


   Por Jorge Luiz

   Sustentabilidade deriva de sustentável. Uma gestão sustentável é dirigir uma organização valorizando todos os fatores que a englobam. No contexto organizacional espírita esses fatores têm que ser equacionados com o pensamento Kardeciano. Chamo esse processo de Sustentabilidade da Gestão Espírita.
  A empresa sendo desenvolvida por pessoas acabou assimilando características pessoais. Uma instituição de qualquer natureza tem crenças, valores, filosofia de trabalho e alma, o que levou a psicologia organizacional a considerá-la um ser vivo.
  É óbvio que se tratando de instituições espíritas, que visam à melhoria moral do indivíduo, seus parâmetros e diferenciais são outros. Os valores, crenças, filosofia de trabalho são bem diferentes das consideradas no mundo dos negócios, e devem, necessariamente, ser conduzidas por princípios ético-espíritas.  Hoje já é certo ligar o sucesso e fracasso de uma organização a seu comportamento ético.

  Os artigos dos confrades Francisco Castro (CE) e Marcos Milani (SP) publicados recentemente nesse blog abordam questões que são “gargalos” hoje na gestão espírita: viabilidade financeira, carência de trabalhadores, inabilidade administrativa de naturezas diversas e ignorância doutrinária. Eu adiciono mais uma: baixa frequência nas reuniões públicas que se verifica na maioria das Instituições Espíritas.
  As abordagens ofertadas por eles são ricas em caminhos e alternativas para a superação dessas dificuldades.
  Refletindo sobre os comentários, principalmente pelo fato de haver uma relação intrínseca entre si, resolvi trazer à baila nesse espaço a metodologia de Peter Drucker,(1) (1909-2005) desenvolvida para o Terceiro Setor, no qual se inserem as organizações espíritas.
  Cabe, inicialmente, refletir sobre as perguntas sugeridas por Drucker e respondê-las segundo o modelo de gestão espírita:
  •   Qual a nossa missão?
  •   Quem é o nosso público-alvo?
  •   O que o nosso público-alvo valoriza?
  •   Quais são os nossos resultados?
  •   Qual é o nosso plano?
  Claro que é muito mais do que responder perguntas. Demanda processo de autoavaliação que integrará todas as dimensões vivas da Instituição, e se desenvolve em três etapas. a) preparando-se para a autoavaliação; b) conduzindo o processo de autoavaliação; c) concluindo o plano. Para Drucker, o processo visa “Tornar eficazes os pontos fortes das pessoas e irrelevantes suas fraquezas.” Coerente com o pensamento espírita. Aprofundarei essas etapas do processo no próximo “canteiro”.
  A acepção druckeriana visa converter o conhecimento em ação efetiva. Significa estimular um engajamento da diretoria, dos colaboradores e frequentadores em um processo desafiador de autodescoberta organizacional.
  A Instituição Espírita precisa adequar-se aos grandes desafios contemporâneos. Nesse espaço de tempo, muitas teorias administrativas foram sendo desenvolvidas e o modelo de gestão espírita pouco se ajustou a essas transformações. Existe uma administração espírita que ainda busca a sua própria identidade.
  Os processos do mundo corporativo, no entanto, são perfeitamente adaptáveis às necessidades das instituições espíritas. O Espiritismo rompe com os mitos entre o sagrado e o profano. No entanto, isso ainda é atávico em um bom número de espíritas.
  O ensaio em questão alinha-se com o pensamento de Allan Kardec expresso em Obras Póstumas, no capítulo Constituição do Espiritismo, item IX, Vias e Meios. Observem:

“Para alguém fazer qualquer coisa de sério, tem que se submeter às necessidades impostas pelos costumes da época em que vive e essas necessidades são muito diversas das dos tempos da vida patriarcal. O próprio interesse do Espiritismo exige, pois, que se apreciem os meios de ação, para não ser forçoso parar no meio do caminho. Apreciemo-los, portanto, uma vez que estamos num século em que é preciso calcular tudo.”

  Ditas no século XIX as palavras ainda são atualíssimas em nossos dias.
 Há um “passivo” doutrinário e organizacional no mundo institucional espírita que só se corrigirá com a gestão sustentável da instituição espírita. Não estou aqui criando um espaço com diálogos infrutíferos, com complexas teorias e vazios de objetividade. Estou me referindo a um método científico de resultados. Peter Drucker demonstrou que a administração moderna é uma ciência que trata sobre pessoas nas organizações.
  Contudo, há a necessidade de um desnudar institucional em todas as suas dimensões para que se alcance resultados mais efetivos. É o mais desafiador!
“É de lastimar, sem dúvida, que tenhamos de entrar em considerações de ordem material, para alcançarmos um objetivo todo espiritual”, adverte o Codificador.
  Avancemos nessa idéia!
 
(1)  DRUCKER, Peter. Terceiro Setor. Ed. Futura. São Paulo. 2001.

Peter Ferdinand Drucker, (nasceu em 19.11.1909 em Viena, Áustria e faleceu em 11.11.2005, em Claremont, Califórnia, EUA) foi um escritor, professor e consultor administrativo de origem austríaca, considerado como o pai da administração moderna, sendo o mais reconhecido dos pensadores do fenómeno dos efeitos da Globalização na economia em geral e em particular nas organizações. 

Comentários

  1. O que está neste texto é de uma importância muito grande para nós dirigentes espíritas. Parabéns amigo!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

      Por Wilson Garcia Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

"ANDA COM FÉ EU VOU..."

  “Andá com fé eu vou. Que a fé não costuma faiá” , diz o refrão da música do cantor Gilberto Gil. Narra a carta aos Hebreus que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Cremos que fé é a certeza da aquisição daquilo que se tem como finalidade.

“TUDO O QUE ACONTECER À TERRA, ACONTECERÁ AOS FILHOS DA TERRA.”

    Por Doris Gandres Esta afirmação faz parte da carta que o chefe índio Seattle enviou ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1854! Se não soubéssemos de quem e de quando é essa declaração poder-se-ia dizer que foi escrita hoje, por alguém com bastante lucidez para perceber a interdependência entre tudo e todos. O modo como vimos agindo na nossa relação com a Natureza em geral há muitos séculos, não apenas usando seus recursos, mas abusando, depredando, destruindo mananciais diversos, tem gerado consequências danosas e desastrosas cada vez mais evidentes. Por exemplo, atualmente sabemos que 10 milhões de toneladas de plásticos diversos são jogadas nos oceanos todo ano! E isso sem considerar todas as outras tantas coisas, como redes de pescadores, latas, sapatos etc. e até móveis! Contudo, parece que uma boa parte de nós, sobretudo aqueles que priorizam seus interesses pessoais, não está se dando conta da gravidade do que está acontecendo...

NÃO SÃO IGUAIS

  Por Orson P. Carrara Esse é um detalhe imprescindível da Ciência Espírita. Como acentuou Kardec no item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos: “Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da doutrina que nos transmitiram”, sendo esse destacado no título um deles. Sim, porque esse detalhe influi diretamente na compreensão exata da imortalidade e comunicabilidade dos Espíritos. Aliás, vale dizer ainda que é no início do referido item que o Codificador também destaca: “(...) os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos (...)”.

FUNDAMENTALISMO AFETA FESTAS JUNINAS

  Por Ana Cláudia Laurindo   O fundamentalismo religioso tenta reconfigurar no Brasil, um país elaborado a partir de projetos de intolerância que grassam em pequenos blocos, mas de maneira contínua, em cada situação cotidiana, e por isso mesmo, tais ações passam despercebidas. Eles estão multiplicando, por isso precisamos conhecer a maneira com estas interferências culturais estão atuando sobre as novas gerações.

TEMOS FORÇA POLÍTICA ENQUANTO MULHERES ESPÍRITAS?

  Anália Franco - 1853-1919 Por Ana Cláudia Laurindo Quando Beauvoir lançou a célebre frase sobre não nascer mulher, mas tornar-se mulher, obviamente não se referia ao fato biológico, pois o nascimento corpóreo da mulher é na verdade, o primeiro passo para a modelagem comportamental que a sociedade machista/patriarcal elaborou. Deste modo, o sentido de se tornar mulher não é uma negação biológica, mas uma reafirmação do poder social que se constituiu dominante sobre este corpo, arrastando a uma determinação representativa dos vários papéis atribuídos ao gênero, de acordo com as convenções patriarcais, que sempre lucraram sobre este domínio.

JESUS TEM LADO... ONDE ESTOU?

   Por Jorge Luiz  A Ilusão do Apolitismo e a Inerência da Política Há certo pedantismo de indivíduos que se autodenominam apolíticos como se isso fosse possível. Melhor autoafirmarem-se apartidários, considerando a impossibilidade de se ser apolítico. A questão que leva a esse mal entendido é que parte das pessoas discordam da forma de se fazer política, principalmente pelo fato instrumentalizado da corrupção, que nada tem do abrangente significado de política. A política partidária é considerada quando o indivíduo é filiado a alguma agremiação religiosa, ou a ela se vincula ideologicamente. Quanto ao ser apolítico, pensa-se ser aquele indiferente ou alheio à política, esquecendo-se de que a própria negação da política faz o indivíduo ser político.