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"FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO" - DA EDUCAÇÃO TAMBÉM NÃO

 

 

Muito criterioso e lúcido nosso mestre espírita Allan Kardec quando não aceitou nenhum dos postulados até então adotados, como o “fora da Igreja não há salvação”, nem o “fora da verdade não há salvação”.

O primeiro se ligava à Igreja Católica Apostólica Romana, como bem o sabemos. Como também bem sabemos o que esse postulado significava em autoritarismo, autocracia e fonte de arbitrária discriminação e exclusão de todos os que não se submetessem às normas e preceitos da Igreja. Condenava assim todos os excluídos às penas eternas.

Quanto àqueles que pregavam o segundo postulado, entendemos que assumiam a pretensão de serem os detentores absolutos da verdade, e que todos que com eles não comungassem esse preceito não conheceriam a verdade nem poderiam fazer parte do grupo.

Mas o Espiritismo, elaborado e conduzido pelas mãos de Kardec e da Espiritualidade Superior que com ele trabalhou, formando esse corpo doutrinário de extrema clareza e transparência, fincado nas leis naturais, instituiu como lema “fora da caridade não há salvação”, em conformidade com a lei maior: amar ao próximo como a si mesmo.

Quando conseguirmos proceder de acordo com esse ensinamento certamente compreenderemos que a educação bem difundida e bem entendida é uma das formas mais justas de se exercer a caridade. E educação não se trata apenas de instrução, acúmulo de conhecimento intelectual, técnico, tecnológico e outros, necessários também é lógico, mas inclusive perigosos se utilizados sem educação, pois ela é que pode definir a maneira correta de utilizar esses conhecimentos.

Não se pode pretender estar praticando caridade, a verdadeira caridade, a caridade moral, sem que hajam meios de educação para todos, o que significa possibilitar a todos alcançar a dignidade de cidadãos com seus direitos civis respeitados, com condições e situações sociais mais justas, com oportunidades iguais para todos, a fim de que todos, em conformidade com suas faculdades, seu empenho e esforço, possam atingir os objetivos almejados.

Portanto, logicamente compreende-se que, se fora da CARIDADE não há salvação, fora da EDUCAÇÃO também não. Como entenderemos o que seja a caridade, mais extensa e mais profunda, para além do assistencialismo, sem educação moral, sem educação de valores éticos e fraternos, que nos façam finalmente admitir sinceramente que somos todos seres humanos com os mesmos direitos e também com os mesmos deveres sociais.

A doutrina espírita, ao nos esclarecer quanto às leis naturais que regem toda a criação, coloca diante de nós, espíritas, estudiosos dessas leis que abrangem as leis de sociedade, de igualdade, de liberdade, de trabalho, de progresso, de justiça, amor e caridade e outras (1), todo o ferramental necessário à nossa educação bem compreendida, a qual, segundo Kardec, é “a arte de formar os caracteres, aquela que cria bons hábitos, porque educação é o conjunto de hábitos adquiridos” (2). Kardec assegura-nos ainda, e percebe-se facilmente que é verdade, que “a desordem e a imprevidência são duas chagas que somente uma educação bem compreendida pode curar. Nisso está o ponto de partida, o elemento real do bem estar, a garantia da segurança de todos”.

Quem não almeja bem estar, garantia de segurança, condições e situações adequadas de vida, sem discriminações de qualquer tipo, sem exclusão não só de instrução e educação, mas também de acesso a estruturas de moradia com o devido saneamento, etc etc etc, para poder vivenciar suas experiências, quaisquer que sejam, de maior ou menor dificuldade, de maneira a promover seu progresso e sua ascensão espiritual?

Depreende-se, consequentemente, a estreita ligação entre EDUCAÇÃO e CARIDADE. Ambas requerem ser bem compreendidas para serem bem exercidas. E uma conduz obrigatoriamente à outra, e vice-versa.

 

(1)       O Livro dos Espíritos, Terceira Parte, As Leis Morais.

(2)       O Livro dos Espíritos, q.685a 

 

 

 


 

 

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