Pular para o conteúdo principal

UMA VISÃO ESPÍRITA SOBRE O COVID-19 E AS SUAS CAUSAS ESPIRITUAIS - PARTE II

 


Retomo aqui a parte 1/4 do artigo, na qual apresentei uma visão jornalística sobre a pandemia do século XXI, acrescida de duas coberturas históricas de Emmanuel sobre a devastação por pestes nos séculos III e XVIII.

Foi citado que: a) A visão supersticiosa da época remetia o surgimento das doenças à ira dos deuses quanto ao cristianismo e, mais tarde, quanto à pretensa reprovação de Deus à conduta de homens instruídos e liberais, em relação ao conservadorismo e ao obscurantismo da idade média; b) Na atualidade, líderes obscurantistas debitam à China o surgimento da COVID-19 por razões comerciais, tudo isto na contramão da Ciência.

Passemos agora ao “Livro dos Espíritos”, obra basilar do espiritismo, mais precisamente às questões 737 a 741, em que Allan Kardec pergunta e os imortais respondem, de forma sucinta e elucidativa.

 

“Entre os flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, é preciso incluir na primeira linha a peste, a fome, as inundações, as intempéries fatais à produção da terra”. (Comentário do Codificador à questão 741 – Grifos meus).

 

Os espíritos reveladores iniciam dizendo que o objetivo dos flagelos é fazer a humanidade “avançar mais depressa”: alcançar em alguns anos o que só aconteceria ao fim de alguns séculos (questão 737). Sim! Ninguém nos dissuadirá de que um evento no qual morrem milhões de pessoas é algo devastador, doloroso, cabendo ao homem ao homem o esforço por preveni-lo e combatê-lo, até porque muitos deles são resultado da imprevidência humana (questão 741), pois esse mesmo homem adquire conhecimentos e não os aplica em benefício do bem estar da humanidade.

Exemplos?

Ao invés de investirem na pesquisa científica e na modernização da rede de saúde, governos, empresas e até pessoas preferem aplicar em armas, seja para hobbies, seja para destruição em massa. Aqui no Brasil nós estamos vivendo isso.

Nós, cidadãos, apesar de pouco, também podemos fazer a nossa parte. Ao invés de destinarmos nossas sobras, pequeninas ou vultosas, a reduzirem a desigualdade social, fazendo com que a pobreza não impeça as pessoas de ter uma vida mais digna, preferimos destinar nossos recursos a templos religiosos movidos pela ambição, a espetáculos esportivos brutais, a festas que ensejam enorme desperdício financeiro e de energias... preferências que até mesmo o cidadão pobre possui, tirando da boca de suas crianças famintas para o álcool, fumo e drogas. Tudo isto sem falarmos na corrupção!

A pesquisa sobre outros mundos do sistema solar, e fora dele, poderia trazer soluções imensamente proveitosas para a humanidade, de forma direta ou indireta, pela descoberta de processos tecnológicos inovadores ou de matérias capazes de, quem sabe, trazerem a cura do câncer, da AIDS, da COVID-19. Todavia, as superpotências e os pequenos países preferem investir em guerras, em armas nucleares, em conquistas territoriais; e quando alguém investe na astronomia, pensa em fincar sua bandeira no solo lunar ou marciano para tirar o maior lucro possível.

Não sou Júlio Verne, nem para mim isto é ficção científica: O espírito tendo sido fotografado, tocado e estudado por dezenas de gênios dos séculos XVIII e XIX, da extirpe de Sir William Crookes, descobridor dos raios catódicos, e de Charles Richet, Prêmio Nobel de Fisiologia, o que nos falta para descobrirmos a comunicabilidade objetiva entre os mundos físico e espiritual? O que nos falta para produzirmos um celular que nos conecte aos mortos, espécie de avanço do rudimentar “Spiricom” (TCI - Transcomunicação Instrumental) estudado embrionariamente na década de 1970? Resposta: Unicamente o interesse de quem patrocina a pesquisa e principalmente do consumidor que move os mercados. Aliás, dizia Allan Kardec que o “interesse pessoal” (e não coletivo) é o mais forte adversário destas ideias e de sua concretização. Bastaria vislumbrarmos a possibilidade de cobrar cinco mil dólares por cada aparelho que “falasse com os mortos” e rapidamente as maiores empresas do mundo o produziriam em cinco anos, talvez menos.

Sim, os jornais anunciaram quase agora um eficaz coquetel para tratar doentes não graves da COVID. Trata-se de um invento da farmacêutica Roche, o REGN-COV2. Parabéns à notável empresa. Porém, sem resistirmos à tentação de tratar o assunto com alguma ironia, concluímos que o tal custa uma bagatela, disponível a qualquer hospital pobre: Beirando os três mil dólares para cada pessoa, ou seja, um pouco menos de R$17 mil por paciente.

Prossigamos! Os flagelos não seriam o único meio de fazer a humanidade progredir. E Deus lança mão de muitos outros. Mas o orgulho humano... ele mesmo enseja seu castigo, que faz o homem sentir sua fraqueza e impotência (questão 738-A). Não é exatamente o que estamos vendo, sociedades que querem se bastar apenas com o fator econômico-financeiro, sem darem nenhuma relevância às questões solidárias, às humanitárias e à espiritualidade humana?!

Sim, o homem de bem igualmente sucumbe a uma peste, ao lado do perverso! Contudo, se entendêssemos as leis dessa realidade paralela à qual chamamos Mundo dos Espíritos, veríamos que nem sempre a morte é castigo; no caso do homem de bem ela funciona como promoção, que proporciona a “troca de uma veste”, pois o corpo é abençoado templo, mas sob o ângulo da eternidade não passa de uma roupa gasta.

Nas fileiras espíritas, temos o caso de Eurípedes Barsanulfo, que morreu infectado, ajudando pacientes da temível gripe espanhola. Desassombrado quanto ao contágio seu e de sua família, Frederico Figner, outro valoroso espírita, abriu sua casa para receber doentes da pandemia de 1918, a exemplo dos generosos padres que socorreram na varíola, citados no artigo 1/4. Sem as pestes, não conheceríamos o quilate daqueles que oferecem a vida em holocausto, pelo bem da humanidade.  E quanto a morrer para ajudar, seja em uma pandemia ou não, o mais eminente legionário a tombar foi Jesus Cristo, precedido de Sócrates.

É a doutrina cristã, alargada pela visão espírita, quem interpreta a compensação pelo destemor, que é destinada a pessoas da espécie de Eurípedes e de Figner, exemplarmente representados por Jesus: “Essas vítimas encontrarão, em outra existência, larga compensação aos seus sofrimentos, se elas souberem suportá-los sem murmurar” (questão 738 C).

Acresce ao ensinamento espírita que os benefícios de um flagelo só costumam ser percebidos pelas gerações futuras (questão 739). Fico pensando quanto ao possível despertar da humanidade após essa temível doença: Seria maravilhoso se a cura das principais doenças da humanidade adviesse das numerosas pesquisas, sem prescindir de patente, sem que os autores precisem auferir imensos lucros; seria extraordinário se a paz fosse reconhecida como “o caminho” das relações diplomáticas mundiais e entre os cidadãos. Isso já seria grande conquista.

        A seguinte pergunta de Kardec é magistral e a resposta não poderia ser menos brilhante. Vamos reproduzi-las na íntegra:
 

“Questão 740. Os flagelos não seriam igualmente para o homem provas morais que os submetem às mais duras necessidades?

 Resposta: Eles fornecem ao homem ocasião de exercitar sua inteligência, de mostrar sua paciência e sua resignação à vontade de Deus, e o orientam a demonstrar seu sentimento de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se ele não está mais dominado pelo egoísmo.

Faço desta resposta meu preito de gratidão a um médico amigo, creio que exemplar de muitos que o mundo tem produzido nos últimos meses, que tomou para si, sem nenhum interesse pessoal, o tratamento de doze pessoas da minha família, vitimadas pela COVID. Não tinha hora, não tinha dia cansativo que o impedisse de responder-nos com amabilidade e presteza, fazendo competentes prescrições, evitando que meu irmão, muito grave, viesse a sucumbir, e que os demais ficassem graves. A exemplo do Dr. Fernando, quantos profissionais de saúde ofereceram sua vida em holocausto, arriscando-se na linha de frente das enfermarias e UTI? Quantos foram trabalhar esgotados, no entanto não desistiram da vida em nenhum momento? Sem um flagelo tal, não conheceríamos esses “heróis anônimos”. Sim, não é confete, a expressão é mais do que justa.

Termina aqui a parte 2/4 deste artigo. Será que despertei seu interesse para ler a parte 3/4? Lá nos encontraremos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. de Salvador Gentile; rev. Elias Barbosa. ed. 87. Araras: IDE, 2008.

KARDEC, Allan. O Livro dos espíritos. Trad. de Salvador Gentile; rev. Elias Barbosa. Araras: IDE, 2009. 182 ed.

Site Alexandre de Carvalho Borges. Título “Diálogos em tempo real no Spiricom: A máquina construída para falar com o outro lado da vida.” Consulta em 21/04/2021. Disponível em: http://www.alexandre-borges.com/dialogos-em-tempo-real-no-spiricom/

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

DIA DA ESPOSA DO PASTOR: PAUTA PARASITA GANHA FORÇA NO BRASIL

     Imagens da internet Por Ana Cláudia Laurindo O Dia da Esposa do Pastor tem como data própria o primeiro domingo de março. No contexto global se justifica como resultado do que chamam Igreja Perseguida, uma alusão aos missionários evangélicos que encontram resistência em países que já possuem suas tradições de fé, mas em nome da expansão evangélico/cristã estas igrejas insistem em se firmar.  No Brasil, a situação é bem distinta. Por aqui, o que fazia parte de uma narrativa e ação das próprias igrejas vai ocupando lugares em casas legislativas e ganhando sanções dentro do poder executivo, como o que aconteceu recentemente no estado do Pará. Um deputado do partido Republicanos e representante da bancada evangélica (algo que jamais deveria ser nominado com naturalidade, sendo o Brasil um país laico (ainda) propôs um projeto de lei que foi aprovado na Assembleia Legislativa e quando sancionado pelo governador Helder Barbalho, no início deste mês, se tornou a lei...

OS ESPÍRITAS E O CENSO DE 2022

  Por Jorge Luiz   O Desafio da Queda de Números e a Reticência Institucional do Espiritismo no Brasil Alguns espíritas têm ponderado sobre o encolhimento do número de declarados espíritas no Brasil, conforme o Censo de 2022, com abordagens diversas – desde análises francas até tentativas de minimizar o problema. O fato é que, até o momento, as federativas estaduais e a Federação Espírita Brasileira (FEB) não se manifestaram com o propósito de promover um amplo debate sobre o tema em conjunto com as casas espíritas. Essa ausência das federativas no debate não chega a ser surpreendente e é uma clara demonstração da dinâmica do movimento espírita brasileiro (MEB). As federativas, na realidade, tornaram-se instituições de relacionamento público-social do movimento espírita.

JUSTIÇA COM CHEIRO DE VINGANÇA

  Por Roberto Caldas Há contrastes tão aberrantes no comportamento humano e nas práticas aceitas pela sociedade, e se não aceitas pelo menos suportadas, que permitem se cogite o grau de lucidez com que se orquestram o avanço da inteligência e as pautas éticas e morais que movem as leis norteadoras da convivência social.  

CONFLITOS E PROGRESSO

    Por Marcelo Henrique Os conflitos estão sediados em dois quadrantes da marcha progressiva (moral e intelectual), pois há seres que se destacam intelectualmente, tornando-se líderes de sociedades, mas não as conduzem com a elevação dos sentimentos. Então quando dados grupos são vencedores em dadas disputas, seu objetivo é o da aniquilação (física ou pela restrição de liberdades ou a expressão de pensamento) dos que se lhes opõem.

UMA AMOSTRAGEM DA TESE ESPÍRITA: DOIS CASOS QUE SUGEREM REENCARNAÇÃO (PARTE I)

   Por Jerri Almeida   Introdução A pesquisa científica sobre reencarnação oferece contribuições valiosas para ampliar horizontes de conhecimento sobre o sentido da vida. Não se trata, obviamente, de trilharmos somente o caminho da fé ou da crença, pois estamos diante de uma questão mais complexa, que envolve de forma totalizante o saber humano. Infelizmente, na atualidade, nem sempre as pesquisas nessa área ocorrem com o ritmo e os critérios que as possam alavancar em termos de reconhecimento científico, mesmo porque o mundo acadêmico, em boa parte, ainda se ressente dos preconceitos com tal tipo de temática.

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

      Por Wilson Garcia Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...

EXPIAÇÕES COLETIVAS

Foto dos destroços do acidente com a aeronave que transportava o time da Chapecoense Embainha a tua espada, pois todos os que lançarem mão da espada à espada perecerão.” (Jesus – Mt, 26:52) “Deus tem as suas leis, que regulam todas as vossas ações. Se as violardes, a culpa é vossa. (...) Mas ele traçou um limite, as doenças e por vezes a morte são consequências dos excessos. Eis a punição: ela resulta da infração da lei: assim se passa em tudo.” (O Livro dos Espíritos, questão nº 964) O mundo e o Brasil foram surpreendidos por mais uma tragédia aeroviária com a queda da aeronave que transportava a delegação da Chapecoense, do Estado de Santa Catarina, time brasileiro que disputaria o primeiro jogo da decisão título da Copa Sul-Americana de Futebol, com o Nacional de Medelin, na Colômbia e que culminou com a morte de 71 passageiros e 6 feridos. A aeronave transportava jornalistas, dirigentes, comissão técnica e tripulação. A maioria dos mortos são jogadores...