Pular para o conteúdo principal

EU TE AMO!...E AÍ, VAI ROLAR?

 

Pequeno grupo de resolveu realizar experiência acerca do amor, no contexto da proposta da Boa Nova. Consistia em dizer para um amigo ou uma amiga, independentemente do gênero, a afirmativa “EU TE AMO”. As reações não poderiam ser diferentes das imaginadas: “viraste sapato”; “tu boiolaste”; “estás se insinuando para mim”; “aguardei tanto sua decisão... vai rolar?”...

            O mais interessante é que uma participante das abordadas, depois de tomar conhecimento do idealizador da “pegadinha”, certa feita, o encontrou em uma fila de um banco e pensou em fazer a mesma declaração, só que estava acompanhado do marido. Obviamente, a confusão teria sido grande!

             Por trás dessas reações, estão as atitudes do amor como problema de objeto e não de uma faculdade, bem definido por Erich Fromm (1900-1980), psicanalista, filósofo e sociólogo alemão, em sua obra A Arte de Amar.

            Outrora, o “objeto de amor” se definia por convenção social e se julgava que o amor se desenvolveria com o tempo. Com a quase universalidade do “amor romântico”, a sua busca ainda se estabelece seguindo algumas convenções, agora dentro de uma cultura mercantilista o “objeto do amor”, assim como as mercadorias nas vitrines das lojas, buscam se tornarem visíveis, atraentes. Essa atração variará de acordo com cada época. O que era recomendado na década de 1940, não necessariamente, serve para a contemporaneidade. Vê-se, pois, que as relações matrimoniais, muitas das vezes, seguem padrões materialistas, que vão desde a formosura física, bem como as questões financeiras. Diz Fromm:

 

“Numa cultura em que prevalece a orientação mercantil, e em que o sucesso material é o valor predominante, pouca razão há para surpresa no fato de seguirem as relações do amor humano os mesmos padrões de troca que governam os mercados de utilidades e de trabalho.”

 

            É um empreendimento que se inicia com tantas esperanças e expectativas e que, contudo, fracasse, com tanta regularidade, quanto ao amor, diz ele.

            Outro equívoco, e talvez o maior, é que na busca do “objeto do amor” é o de ser amado, em lugar de amar, da capacidade do próprio em amar seguem-se diversos caminhos. Para o homem, ter sucesso, dinheiro, poder. Para a  mulher, tornar-se atraentes, pelo cuidado com o corpo, vestuário etc.

É óbvio que o amor como objeto de troca, o sexo estaria embutido nesse processo, e logo se convencionou, usurpando-se a expressão italiana fazer amor a se propagar pelo mundo e contaminar gerações. Justificadas as reações da experiência, considerando que o amor objeto é mercadoria de troca, a sua moeda, obviamente, é o sexo. Superar essas contradições é de responsabilidade de cada indivíduo, principalmente os espíritas.

            O Espírito Lázaro, no cap. XII, de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, atesta:

“Quando Jesus pronunciou essa palavra divina – amor – fez estremecer os povos, e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.”

             Naturalmente, não se trata do “amor objeto”, e sim o amor como essência divina que povoa toda a doutrina de Jesus. Com elevada sensibilidade, o Espírito Lázaro traça a epopeia do homem até alcançar o amor.

  

“No seu ponto de partida, o homem só tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o amor é o requinte do sentimento.”

                   Óbvio que não é o amor nesse contexto de vulgaridade, um simples ato sexual, uma referência rasa das sensações carnais.

            O amor é a busca do outro gerada pela solidão. O professor e filósofo espírita Herculano Pires, em seu livro “Pesquisa Sobre o Amor”, afirma que essa conclusão não é gratuita, imaginária, mas objeto de pesquisa, com certeza em sua trajetória filética, como expressou o Espírito Lázaro. Contudo, diz Pires, esta não é uma pesquisa para jovens, pois só é acessível para adultos amadurecidos na vivência existencial do Amor, curtidos na experiência de amar.

O amor é força criadora e mantenedora do Universo. Todos os indivíduos o possuem em maior e menor intensidade. O ser mais abjeto e vil, o mais cruel dos criminosos dedica a alguém esse sentimento.

            O amor pode existir sem o sexo, mas este não pode se realizar sem o amor.

            Por amor à Humanidade Jesus mergulhou na carne, enfrentou a cruz para deixar a sua mensagem inconfundível.

            Contagiados pelo amor, os cristãos primitivos desceram às arenas, sacrificando as próprias vidas para não abjurar o Sublime Amigo.

            Por amor, Irmã Dulce transformou singelos pratos de canja em obras que até hoje dão dignidade a milhares de seres humanos.

            Por amor a Jesus, Albert Schweitzer às margens do rio Ogowe, no Gabão, construiu um hospital para doenças tropicais e uma clínica para leprosos.

            Por amor, Francisco Cândido Xavier dialogou com os mortos e psicografou centenas de obras literárias cujos direitos autorais foram cedidos para muitas obras sociais.

            Por amor... faço.. faças.. façamos...

            O Espírito Sansão, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XI, assevera:

 

“Amar, no sentido profundo do termo, é ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros aquilo que se deseja para si mesmo. É buscar em torno de si a razão íntima de todas as dores que acabrunham o próximo, para dar-lhes alívio. (...).”

 

         

Referências:

FROMM. Erich. A arte de amar.  Belo Horizonte: Itaitinga.

KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. São Paulo: EME, 1979.

PIRES, Herculano. J. Pesquisa sobre o amor. São Paulo: PAIDEIA, 1998.

 

Comentários

  1. É duro ver como foi relativizada a questão do amor, ainda que procuremos pensar o amor com o significado mais fraterno e universal dentro da visão espírita. De qualquer forma, lembro-me da Introdução de "O Livro dos Espíritos", em que Kardec tece um trabalho interessante sobre as palavras.
    Em linguística, especialmente nos seus primórdios, dentro da vertente estruturalista, há uma dicotomia significante (a palavra)/significado (que ideia ela remete); nisso, acabamos lidando com as dificuldades de definição.
    Que um dia consigamos nos entender melhor e saber utilizar as palavras pensando nesse amor universal!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

SOCIALISMO E ESPIRITISMO: Uma revista espírita

“O homem é livre na medida em que coloca seus atos em harmonia com as leis universais. Para reinar a ordem social, o Espiritismo, o Socialismo e o Cristianismo devem dar-se nas mãos; do Espiritismo pode nascer o Socialismo idealista.” ( Arthur Conan Doyle) Allan Kardec ao elaborar os princípios da unidade tinha em mente que os espíritas fossem capazes de tecer uma teia social espírita , de base morfológica e que daria suporte doutrinário para as Instituições operarem as transformações necessárias ao homem. A unidade de princípios calcada na filosofia social espírita daria a liga necessária à elasticidade e resistência aos laços que devem unir os espíritas no seio dos ideais do socialismo-cristão. A opção por um “espiritismo religioso” fundado pelo roustainguismo de Bezerra Menezes, através da Federação Espírita Brasileira, e do ranço católico de Luiz de Olympio Telles de Menezes, na Bahia, sufocou no Brasil o vetor socialista-cristão da Doutrina Espírita. Telles, ao ...

ESPIRITISMO E POLÍTICA¹

  Coragem, coragem Se o que você quer é aquilo que pensa e faz Coragem, coragem Eu sei que você pode mais (Por quem os sinos dobram. Raul Seixas)                  A leitura superficial de uma obra tão vasta e densa como é a obra espírita, deixada por Allan Kardec, resulta, muitas vezes, em interpretações limitadas ou, até mesmo, equivocadas. É por isso que inicio fazendo um chamado, a todos os presentes, para que se debrucem sobre as obras que fundamentam a Doutrina Espírita, através de um estudo contínuo e sincero.

TRAPALHADAS "ESPÍRITAS" - ROLAM AS PEDRAS

  Por Marcelo Teixeira Pensei muito antes de escrever as linhas a seguir. Fiquei com receio de ser levado à conta de um arrogante fazendo troça da fé alheia. Minha intenção não é essa. Muito do que vou narrar neste e nos próximos episódios talvez soe engraçado. Meu objetivo, no entanto, é chamar atenção para a necessidade de estudarmos Kardec. Alguns locais e situações que citarei não se dizem espíritas, mas espiritualistas ou ecléticos. Por isso, é importante que eu diga que também não estou dizendo que eles estão errados e que o movimento espírita, do qual faço parte, é que está certo. Seria muita presunção de minha parte. Mesmo porque, pelo que me foi passado, todos primam pela boa intenção. E isso é o que vale.

O ESPIRITISMO É PROGRESSISTA

  “O Espiritismo conduz precisamente ao fim que se propõe todos os homens de progresso. É, pois, impossível que, mesmo sem se conhecer, eles não se encontrem em certos pontos e que, quando se conhecerem, não se deem - a mão para marchar, na mesma rota ao encontro de seus inimigos comuns: os preconceitos sociais, a rotina, o fanatismo, a intolerância e a ignorância.”   Revista Espírita – junho de 1868, (Kardec, 2018), p.174   Viver o Espiritismo sem uma perspectiva social, seria desprezar aquilo que de mais rico e produtivo por ele nos é ofertado. As relações que a Doutrina Espírita estabelece com as questões sociais e as ciências humanas, nos faculta, nos muni de conhecimentos, condições e recursos para atravessarmos as nossas encarnações como Espíritos mais atuantes com o mundo social ao qual fazemos parte.

A HISTÓRIA DA ÁRVORE GENEROSA

                                                    Para os que acham a árvore masoquista Ontem, em nossa oficina de educação para a vida e para a morte, com o tema A Criança diante da Morte, com Franklin Santana Santos e eu, no Espaço Pampédia, houve uma discussão fecunda sobre um livro famoso e belo: A Árvore Generosa, de Shel Silverstein (Editora Cosac Naify). Bons livros infantis são assim: têm múltiplos alcances, significados, atingem de 8 a 80 anos, porque falam de coisas essenciais e profundas. Houve intensa discordância quanto à mensagem dessa história, sobre a qual já queria escrever há muito. Para situar o leitor que não leu (mas recomendo ler), repasso aqui a sinopse do livro: “’...

DEUS¹

  No átimo do segundo em que Deus se revela, o coração escorrega no compasso saltando um tom acima de seu ritmo. Emociona-se o ser humano ao se saber seguro por Aquele que é maior e mais pleno. Entoa, então, um cântico de louvor e a oração musicada faz tremer a alma do crente que, sem muito esforço, sente Deus em si.

O BRASIL CÍNICO: A “FESTA POBRE” E O PATRIMONIALISMO NA CANÇÃO DE CAZUZA

  Por Jorge Luiz “Não me convidaram/Pra esta festa pobre/Que os homens armaram/Pra me convencer/A pagar sem ver/Toda essa droga/Que já vem malhada/Antes de eu nascer/(...)/Brasil/Mostra a tua cara/Quero ver quem paga/Pra gente ficar assim/Brasil/Qual é o teu negócio/O nome do teu sócio/Confia em mim.”   “ A ‘ Festa Pobre ’ e os Sócios Ocultos: Uma Análise da Canção ‘ Brasil ’”             Os verso s acima são da música Brasil , composta em 1988 por Cazuza, período da redemocratização do Brasil, notabilizando-se na voz de Gal Costa. A música foi tema da novela Vale Tudo (1988), atualmente exibida em remake.             A festa “pobre” citada na realidade ocorreu, realizada por aqueles que se convencionou chamar “mercado”,   para se discutir um novo plano financeiro, para conter a inflação galopante que assolava a Nação. Por trás da ironia da pobreza, re...