Pular para o conteúdo principal

O ABC DO ESPÍRITO



            O mundo das aparências nos convidou a buscar o excesso, sem nos alertar quanto ao devido cuidado para que fosse evitado o supérfluo e o desperdício, esquecidos de que a suficiência é o veículo para a execução da maior estratégia de vitória existencial. Apenas alguns caracteres formam o alfabeto (de A a Z) e alguns poucos dígitos (de 0 a 9) nos permitem contar as estrelas. Surdos ao chamado da simplicidade, a estrada nos conduziu ao desfiladeiro perigoso da acumulação abrindo um abismo profundo que acabou separando a humanidade em territórios desproporcionais, consideradas a abundância e a escassez.

            Esse fenômeno que descreve a autofagia da humanidade por tantos ciclos geracionais é trazido para apreciação geral, quando da ocorrência de catástrofes, de qualquer ordem, que impõe uma imediata, conquanto passageira, percepção de que podemos estar num mesmo planeta, expostos às mesmas tempestades, apesar dos guarda-chuvas diferentes. Nessas circunstâncias, felizmente é possível descortinar o senso de valor real das coisas que nos envolvem. Lua, Sol, estrelas, flores, pássaros, oceanos e o azul do céu iluminam olhares e se compõe belos poemas de solidariedade. E a solidariedade, uma das maiores palavras do alfabeto, é a palavra no idioma da sobrevivência, cuja conceito na linguagem Legal é o “direito ou obrigação de exigir ou assumir o que se deve a todos”. A posse dessa qualidade enobrece a alma e esvazia as mãos de tudo que careça de importância real, porque o essencial é estar junto do outro em sua dor, a mesma dor que apropria de cada um particularmente. Ambições se ajoelham aos seus pés e é possível identificar irmãos em cada um que passa ao lado.
            Exatamente agora que a solidariedade acontece sem aglomerações, devido às características do problema mundial que nos flagela, é a falta do calor da presença que faz incendiar a necessidade do calor humano. A falta do aperto de mãos e do abraço habitual, a ausência do encontro casual ou programado adverte que não somos ilhas isolada, segundo declarado em O Livro dos Espíritos (q. 766): “A vida social é natural? – Certamente. Deus fez o Homem para viver em sociedade. Deus não deu inutilmente ao Homem a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação”.
            Jesus tratou de trazer-nos a necessidade de olhar ao nosso redor, provavelmente como a maior das lições para quem desejasse segui-lo no caminho. Ao ensinar com os exemplos simples da convivência tornou obrigatória a integração das nossas atitudes com o bem comum e o respeito à Natureza, nossa Mãe Terra, e demonstrou na prática o entrelaçar de mãos àqueles que caminham conosco.A vida em sociedade tem o seu preço. Aprender o ABC do Espírito passa pela defesa dos mais fortes em direção aos mais vulneráveis, com respeito absoluto a cada individualidade sem que se perca a noção que esses tempos nos ensinam. Cuidar do outro é cuidar dos destinos do povo que habita o planeta, mesmo que isso exija dividir o pão. Foi o que a Santa Ceia nos ensinou – compartilhamento e Solidariedade.
            Ainda vamos nos reunir para abraços e apertos de mão, assim será. Enquanto não acontece simbolizamos todos os abraços e apertos de mão ao amigo Paulo Eduardo Mendes enviando os nossos parabéns, na ocasião em que nos confere a honra de festejar os seus 83 anos, a serem festejados em 01/06. Vida longa e profícua, com as graças de Deus.  Volte logo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

DEMOCRACIA SEM ORIENTAÇÃO CRISTÃ?

  Por Orson P. Carrara Afirma o nobre Emmanuel em seu livro Sentinelas da luz (psicografia de Chico Xavier e edição conjunta CEU/ FEB), no capítulo 8 – Nas convulsões do século XX, que democracia sem orientação cristã não pode conduzir-nos à concórdia desejada. Grifos são meus, face à atualidade da afirmação. Há que se ressaltar que o livro tem Prefácio de 1990, poucas décadas após a Segunda Guerra e, como pode identificar o leitor, refere-se ao século passado, mas a atualidade do texto impressiona, face a uma realidade que se repete. O livro reúne uma seleção de mensagens, a maioria de Emmanuel.

JESUS E A QUESTÃO SOCIAL

              Por Jorge Luiz                       A Pobreza como Questão Social Para Hanna Arendt, filósofa alemã, uma das mais influentes do século XXI, aquilo que se convencionou chamar no século XVII de questão social, é um eufemismo para aquilo que seria mais fácil e compreensível se denominar de pobreza. A pobreza, para ela, é mais do que privação, é um estado de carência constante e miséria aguda cuja ignomínia consiste em sua força desumanizadora; a pobreza é sórdida porque coloca os homens sob o ditame absoluto de seus corpos, isto é, sob o ditame absoluto da necessidade que todos os homens conhecem pela mais íntima experiência e fora de qualquer especulação (Arendt, 1963).              A pobreza é uma das principais contradições do capitalismo e tem a sua origem na exploração do trabalho e na acumulação do capital.

A FÉ NÃO EXCLUI A DÚVIDA

  Por Jerri Almeida A fé não exclui a dúvida! No espiritismo, a dúvida dialoga filosoficamente com a fé. O argumento da “verdade absoluta”, em qualquer área do conhecimento, é um “erro absoluto”. No exercício intelectual, na busca do conhecimento e da construção da fé, não se deve desconsiderar os limites naturais de cada um, e a possibilidade de autoengano. Certezas e dúvidas fazem parte desse percurso!

ESPIRITISMO NÃO É UM ATO DE FÉ

  Por Ana Cláudia Laurindo Amar o Espiritismo é desafiador como qualquer outro tipo de relação amorosa estabelecida sobre a gama de objetividades e subjetividades que nos mantém coesos e razoáveis, em uma manifestação corpórea que não traduz apenas matéria. Laica estou agora, em primeira pessoa afirmando viver a melhor hora dessa história contemporânea nos meandros do livre pensamento, sem mendigar qualquer validação, por não necessitar de fato dela.

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...

TRAPALHADAS "ESPÍRITAS" - ROLAM AS PEDRAS

  Por Marcelo Teixeira Pensei muito antes de escrever as linhas a seguir. Fiquei com receio de ser levado à conta de um arrogante fazendo troça da fé alheia. Minha intenção não é essa. Muito do que vou narrar neste e nos próximos episódios talvez soe engraçado. Meu objetivo, no entanto, é chamar atenção para a necessidade de estudarmos Kardec. Alguns locais e situações que citarei não se dizem espíritas, mas espiritualistas ou ecléticos. Por isso, é importante que eu diga que também não estou dizendo que eles estão errados e que o movimento espírita, do qual faço parte, é que está certo. Seria muita presunção de minha parte. Mesmo porque, pelo que me foi passado, todos primam pela boa intenção. E isso é o que vale.

ÉTICA E PODER

     Por Doris Gandres Do ponto de vista filosófico, ética e moral são conceitos diferentes, embora, preferivelmente, devessem caminhar juntos. A ética busca fundamentação teórica para encontrar o melhor modo de viver de acordo com o pensamento e o interesse humanos. Enquanto que a moral se fundamenta na obediência a normas, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos – e mais, se fundamenta em princípios de respeito a valores superiores de justiça, fraternidade e solidariedade, ou seja, nas próprias leis naturais, as leis divinas.

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...