sábado, 2 de maio de 2020

NÃO SEI SE OS ESPÍRITAS SABEM



   
Não sei se os espíritas sabem. A concentração de riqueza no Brasil é tamanha que cinco famílias detêm 50% do poder aquisitivo nacional enquanto o RESTO da população divide os outros 50%. Isso se constitui na maior desigualdade em todos os tempos em países ditos democratas e só atrás do Catar nesse ranking, ou seja, a segunda pior distribuição de renda do mundo.
Não sei se os espíritas sabem que os ganhos dessas famílias não são produto de investimentos na tecnologia, na ciência ou na produção agrícola, sim da especulação monetária, quer dizer, aumentam a fortuna sem benefício algum para a sociedade e mantém a maior parte dos seus valores em paraísos fiscais.

Não sei se os espíritas sabem que os alimentos que nos chegam às mesas, àqueles que ainda conseguem ter mesa e alimento, provêm quase 65% dos pequenos agricultores que promovem a Agricultura Familiar, com apenas 23% da área de plantio, não dos grandes latifundiários que produzem para exportar. E esses pequenos produtores estão sendo sufocados paulatinamente pelo baixo financiamento, pela dificuldade de estoque e transporte.
Não sei se os espíritas sabem, mas o capital que remunera lucro dos grandes magnatas nacionais não são onerados por impostos, não há taxação de grandes fortunas nem grandes heranças no país, enquanto a população de trabalhadores é escorchada por taxas que vampirizam os orçamentos e reduzem o bem estar social, pois o Estado transfere tais valores para as mãos daqueles que detêm os 50% das riquezas, sem retornar à sociedade.   
Não sei se os espíritas sabem, mas desde o descobrimento do Brasil em 1500, o período de 2002 a 2014 foi aquele no qual houve um início de se buscar reduzir as desigualdades com aumento, tímido e frágil ainda, da participação da população invisível na partilha dos bens sociais, quando se conseguiu por duras penas trazer para a mesa de refeição um conglomerado de, antes considerados, zumbis humanos. Além de abrir perspectivas jamais vistas na direção da amplificação de escolas e universidades. Dados que se encontram publicados em estatísticas e nos anais da ONU.
Não sei se os espíritas sabem, mas todos os movimentos que vieram pós 2014 foram derivados de um plano para acabar com essa farra de pobres que estavam se sentindo gente e se fossem deixados livres iriam submeter,  passadas algumas décadas, a chegada da população de brasileira ao topo da educação, o que mudaria com certeza as condições de vida social no Brasil. Lógico que foi necessário uma cortina de fumaça para viabilizar a destruição dos principais pontos e a aposta numa doutrina de ódio e perseguição criou a onda do moralismo vazio que nos trouxe até essa atual plataforma.
Não sei se os espíritas sabem, mas o Brasil possui um dos maiores sistemas de saúde do mundo (SUS) que desde o nascimento tem sido bombardeado e desvitalizado pelos que julgam que destino de pobre é morrer, enquanto se aumenta a fatia de poderosos que enriquecem com programas privados de assistência à saúde, cuja oferta, depende que se tenha condições financeiras para pagar. E quando surge um problema como essa pandemia, todos querem exigir desse sistema extorquido e desvitalizado uma ação além de suas possibilidades e somem os poderosos dos sistemas privados, dispostos a ajudar apenas por contratos milionários de cessão de espaço.
Não sei se os espíritas sabem, mas as “doações aparentemente generosas” que esses conglomerados da ambição destinam ao combate à pandemia ora instalada passam longe da caridade genuína e estão sendo contabilizadas para reduzir a parca parcela de tributos que lhes compete ao erário público. Quem de verdade está doando é, de novo, a sociedade civil como um todo, que não tira proveito algum financeiro da doação que faz. 
Se os espíritas não sabem, lamento. Talvez devessem estudar mais. Talvez devessem ler a respeito do sistema neoliberal que tantos defendem, pelo menos para ter uma visão própria sem ficar reverberando discursos ultrapassados que ainda vê o fantasma do comunismo invadindo o mundo. Talvez precisassem perceber que os barões do mercado financeiro estão pouco ligando para a gleba humana que passa fome, já contados quase dois bilhões de seres humanos. Talvez devessem se questionar porque no Brasil, de repente emergiu 15 milhões de invisíveis ao Estado.
Se os espíritas não sabem, lastimo. É preciso entender que o Espiritismo não veio ao mundo para fazer apenas as pessoas se tornarem médiuns educados e frequentarem as reuniões de desobsessão, quando usam palavras melífluas para desfazer vinculações agressivas na relação encarnado/desencarnados. Sequer para distribuir cestas básicas e enxovais para gestantes, medida de caráter social que não precisa exatamente ser espírita para executar, apesar de meritória e necessária.
Se os espíritas não sabem, é uma pena. Talvez devessem estudar Kardec, Denis, Delano, Herculano, Barsanulfo, Ney Lobo, Dori Incontri. Talvez precisem conhecer as filosofias de Sócrates, Platão, Aristóteles, Rousseau, Pestalozzi. Talvez devessem refletir nas lições, quem sabe ultrapassadas (?), de Jesus.
Talvez, quem sabe, os espíritas, de mão com tais orientações, pudessem entender que ao espírita é exigido se tornar um “crítico social” e compreender que o momento histórico é um cavalo selado que passa muito célere. A história da humanidade é plena de exemplos do quanto nos enganamos nos séculos que passaram. Os enganos de hoje não divergem dos enganos de ontem. Vivemos agora exatamente a confusão que perpetramos lá atrás.
Se os espíritas não sabem como se comportar nesse desafio de agora, talvez caibam algumas sugestões.  Analisem quem a história premiou com honrarias morais abaixado o pó do tempo; pesquisem quem esses eram e como foram tratados pelo poder vigente à época dos conflitos; vejam de que lado eles estavam e como se comportavam em relação à população geral; decidam de que lado estariam se fossem seus contemporâneos. Depois dessas avaliações façam uma tomada de consciência e se questionem em que lado se posicionam AGORA, o que escutam, veem e conhecem dessa realidade que defendem. Se julgarem serem justas as posições adotadas, persistam então. A história haverá de nos julgar, igualmente julgou aqueles que nos precederam nos grandes embates de ideias desse mundo em constante conflito de posições.   
         

3 comentários:

  1. Infelizmente tem muito espírita que não sabe. Prefere ficar ignorante nessa matéria w continuar a distribuir cestas básicas em caridade de cima para baixo e não em uma caridade que traga justiça social.

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    1. Pior. Diz aceitar a doutrina de Jesus e fica se expondo nas mídias virtuais babando de ódio e defendendo grupos que são a favor do armamento da população e do desrespeito ao pensamento do outro. Roberto Caldas

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  2. Deveria ter mais a participação dos espíritas sobre as ideias aqui assentadas.
    Jorge Luiz

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