Pular para o conteúdo principal

DATA-LIMITE


        

 
         Causou rebuliço no mundo virtual uma improvável previsão de Chico Xavier, supostamente pronunciada em idos de 1971. Até onde nos parece não terá sido um desejo do médium passar pela história na qualidade de guru do futuro, posto que a sua obra mediúnica, contestações naturais à parte, primou pela seriedade e compostura. Vista de forma isenta, o que lhe declinam como opinião é derivada de um possível pressentimento de que 50 anos seriam, a partir daquele momento, tempo suficiente para um reajuste de rota moral do planeta. Publicidades do gênero só servem para gerar factóides e sobre-excitação social.

            É notória a rota de mudanças incessantes que se abate sobre o planeta, qualquer que seja o ponto de vista analisado. A Terra jamais se permite um dia igual ao outro e a mutação que experimenta ocorre em todos os patamares de sua estrutura. É dessa forma que as eras foram construídas, não há o piscar de olhos na magnitude do que se expressa na viagem planetária. Até mesmo os abalos sísmicos, as tempestades gigantescas, as erupções vulcânicas não são frutos de uma ocasião, senão um processo que até já é possível sua previsão pela tecnologia moderna pelos sinais que emitem.
            O mesmo se dá no cenário das transformações humanas. Há estudos que permitem avaliar quais as necessidades que fundamentam determinados fenômenos sociológicos e nesse contexto é fato de que não existe qualquer dúvida de que os pecados e virtudes da contemporaneidade são os mesmos da antiguidade, apesar da impressão equivocada de estarmos diante de agravamento moral quando simplesmente temos populações incomparavelmente maiores e aumento na velocidade da divulgação dos fatos.
            Aliás, se houver novidades nesse quesito, elas são positivas. Antes um déspota fazia e acontecia, os Neros de hoje são questionados mundo afora. Antes tribunais de exceção puniam e matavam livremente, atualmente a opinião pública se insurge contra as suas decisões. Antes, poluía-se rios e desmatava-se florestas para justificar o crescimento econômico, agora há um senso social que exige um mundo onde se possa respirar. Antes, a pesca e a caça predatória eram práticas meramente comerciais e de lazer, a atualidade conta com defensores da Natureza que minimamente incomodam aos que acham que podem fazer do nosso mundo o que bem quiserem. Significa que se houve mudança foi para melhor. Sabemos que jogar os erros para baixo de tapete não os torna menores do que quando são expostos ao ventilador, apenas estavam escondidos e talvez torná-los vistos seja a forma de vencê-los na prática. Na média, o mundo muda sempre para melhor.
            Vale a pena esperar mudanças drásticas? O tempo que alguém joga como presságio pessoal não passa disso. Falta espaço para mudanças drásticas, todas são processuais. Portanto, o rebuliço chamado de data-limite não cabe no pensamento do espírita que leu Allan Kardec no capítulo XVIII de A Gênese, intitulado “Os Tempos são Chegados”. O texto de 1868 já tratava da mudança moral do mundo, sem previsão de data, porque tal previsão é uma ansiedade desnecessária. Atentemos para fazer da fé racional que o Espiritismo nos possibilita uma ponte entre o bom senso e a realidade dos fatos. A realidade da Doutrina Espírita vê a ação de Deus em todas as coisas, sempre agindo e mudando para melhor.          

Comentários

  1. A mensagem contida no Evangelho de Matheus 24 e no Apocalipse de João não nos deixa dúvidas de que o nosso mundo está em regressão. É o tempo do fim. E isto começou no terremoto de Lisboa em 1755, o qual devassou grande parte da capital lusa, especialmente mosteiros e tempos religiosos. Esses templos eram da Igreja Católica Apostólica Romana, já que a Corte lusa e posteriormente a brasileira professavam a religião católica, bem como todos os súditos e habitantes desses Impérios. Mas o fim, vem de longe, pois em face da desobediência, Deus arrependeu-se de ter criado o homem e as Escrituras trazem diversas manifestações na atualidade desde nação contra nação, povos contra povos, governos contra governos e até credos contra credos. Os dissentimentos familiares não são obras do acaso. Eles vêm de longe como acertos de vidas passadas nas quais muitos não acreditam. No entanto, a vida etérea de todas a almas é proclamada desde o Gênesis de Moisés até o Apocalipse de João, pela ordem, primeiro e ultimo livros da Bíblia. Lá o "espírito de Deus pairava sobre as águas"; aqui o anjo em sonho anunciou ao apóstolo "as coisas que viriam". E nós aqui estamos nós debatendo com todas as mazelas naturais(muitas provocadas pelos homens) e pessoais, por sua falta de fé, amor e caridade.
    Que Deus nos abençoe e guarde agora é neste ano que se aproxima!

    Toni Ferreira,
    Belém - PA

    ResponderExcluir
  2. Prezado Toni, antes de qualquer coisa agradeço a sua valiosa contribuição ao debate e retribui os votos para o Amo Novo. Peço desculpas se não consegui ser claro o suficiente no texto acima, mas o que foi pretendido é exatamente mostrar que a visão espírita é exatamente contrária a qualquer ideia de regressão e destruição do planeta. Primeiro porque temos a certeza de que Deus jamais se arrependerá (inteligência Suprema), pois arrependimento só sucede quando se comete erros (Nao parece ser o caso de Deus). De toda forma acreditamos que a Terra, sob a direção de Jesus, deve seguir rumo por bilhões de anos até alcançar a condição de mundo puro, aí não precisando mais de materialidade se dissolvera no Universo. Isso nos dá a possibilidade, se merecemos, de reencarnado centenas de vezes por aqui ainda. Grande abraço. Roberto Caldas

    ResponderExcluir
  3. Muito obrigado pelo debate, sempre produtivo e esclarecedor!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

DIA DE FINADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

  Por Doris Gandres Em português, de acordo com a definição em dicionário, finados significa que findou, acabou, faleceu. Entretanto, nós espíritas temos um outro entendimento a respeito dessa situação, cultuada há tanto tempo por diversos segmentos sociais e religiosos. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 (1) , sob o título Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade Espírita de Paris fundada por Kardec, o mestre espírita nos fala que “estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relações de afeição e fraternidade que existiam entre eles e nós em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo Poderoso.”

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

09.10 - O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

            Por Jorge Luiz     “Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)                    Cento e sessenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outr...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

O DISFARCE NO SAGRADO: QUANDO A PRUDÊNCIA VIRA CONTRADIÇÃO ESPIRITUAL

    Por Wilson Garcia O ser humano passa boa parte da vida ocultando partes de si, retraindo suas crenças, controlando gestos e palavras para garantir certa harmonia nos ambientes em que transita. É um disfarce silencioso, muitas vezes inconsciente, movido pela necessidade de aceitação e pertencimento. Desde cedo, aprende-se que mostrar o que se pensa pode gerar conflito, e que a conveniência protege. Assim, as convicções se tornam subterrâneas — não desaparecem, mas se acomodam em zonas de sombra.   A psicologia existencial reconhece nesse movimento um traço universal da condição humana. Jean-Paul Sartre chamou de má-fé essa tentativa de viver sem confrontar a própria verdade, de representar papéis sociais para evitar o desconforto da liberdade (SARTRE, 2007). O indivíduo sabe que mente para si mesmo, mas finge não saber; e, nessa duplicidade, constrói uma persona funcional, embora distante da autenticidade. Carl Gustav Jung, por outro lado, observou que essa “másc...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

O MEDO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

  Imagens da internet Por Marcelo Henrique Por que o Espiritismo destrói o medo em nós? Quem de nós já não sentiu ou sente medo (ou medos)? Medo do escuro; dos mortos; de aranhas ou cobras; de lugares fechados… De perder; de lutar; de chorar; de perder quem se ama… De empobrecer; de não ser amado… De dentista; de sentir dor… Da violência; de ser vítima de crimes… Do vestibular; das provas escolares; de novas oportunidades de trabalho ou emprego…

EDUCAÇÃO ESPÍRITA ¹

Por Francisco Cajazeiras (*) Francisco Cajazeiras – Quais as relações existentes entre Educação e o Espiritismo? Dora Incontri – Muitas. Primeiro porque Kardec era um educador. Antes de se dedicar ao Espiritismo, à pesquisa das mesas girantes, depois à codificação da Doutrina Espírita, durante trinta anos, na França, exerceu a função de educador. Foi discípulo de um dos maiores educadores de todos os tempos que foi Pestalozzi. Então o Espiritismo segue uma tradição pedagógica. E o Espiritismo, ele próprio, é uma proposta pedagógica do Espírito. O Espiritismo não é uma proposta salvacionista, ele é uma proposta que pretende que o homem assuma a sua autoeducação como aperfeiçoamento espiritual. Francisco Cajazeiras – Então quer dizer que existe uma educação espírita e uma pedagogia espírita? Dora Incontri – Existe. Existe porque toda filosofia, toda concepção de homem, de mundo, toda cosmovisão desemboca, necessariamente, numa prática pedagógica...