quarta-feira, 25 de julho de 2018

OS ESPÍRITAS E A TERAPÊUTICA ESPÍRITA


          



         A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o paradigma espiritual no conceito de saúde, considerando-a o bem estar psicológico e a integração bio-psico-socio-espiritual do ser humano. Contudo, a espiritualidade com conceito multidimensional de saúde, conforme a OMS, remete a questões como significado e sentido da vida, e não se limitando a qualquer tipo específico de crença ou prática religiosa.
          Para a visão médico-espírita a dimensão espiritual é fator primordial para a saúde integral do homem, considerando que a sua essência é o Espírito imortal, viajor do tempo através das jornadas sucessivas.
Dr. Harold G. Koening, psiquiatra estadunidense, estuda desde os anos 80 a ligação entre espiritualidade e saúde e afirma em seu livro Espiritualidade no Cuidado do Paciente:

“Os cientistas estão se tornando cada vez mais conscientes dos caminhos biológicos pelos quais fatores sociais e psicológicos influenciam a saúde física e a suscetibilidade às doenças, e influências similares podem ser logo identificadas também por fatores espirituais.” (grifos nossos)

          As casas espíritas, dentro das suas limitações, contribuem de forma efetiva para esse desiderato com as recomendações da evangelhoterapia (curativa) e a fluidoterapia (paliativa), para os que ali aportam através de assistência totalmente gratuita. Os resultados são significativos.
          É importante salientar que na terapêutica espírita, bem como no exercício da mediunidade, a exigência da moral tem importância precípua. A fé age como um estímulo moral ao paciente para que ele se predisponha melhor, emocionalmente, à ação dos elementos curadores.
          Contudo, a prática simples de Jesus tangida pela imposição das mãos – terapia recentemente autorizada pelo SUS (1) – e a recomendação para a não repetição do erro que tinha e tem origem nas ações dirigidas pelo egoísmo, orgulho e a vaidade, muitos dirigentes de instituições espíritas vêm, ao longo do tempo, introduzindo nas atividades terapias alternativas – pirâmide, cromoterapia, cristalterapia, floral de Bach –, além de orientações e disciplinas absurdas que violentam os princípios espíritas.
Caso curioso ocorreu em uma instituição espírita, paciente que fora indicada a terapêutica espírita, por motivos profissionais teve que se afastar por alguns dias, apesar de avisar das ausências, ao retornar de viagem foi admoestada e teve interrompido o tratamento. Outra instituição entrega uma flor ao paciente que deve levá-la para casa. Caso necessite, fará um chá em substituição ao passe. Casos bizarros como esses povoam o universo do movimento espírita brasileiro.
Há uma federativa que lançou um manual para a realização do tratamento espiritual nas casas espíritas, com uma rotina sistematizada, que contempla formalismo e o ritualismo. Recomenda o preenchimento de fichas acessando a intimidade do paciente, com que propósitos sabe lá quê. O que se percebe é uma diretriz rígida e policialesca. A terapêutica espírita acaba se transformando na principal função do centro espírita, quando não o é. O centro espírita, embora tenha a obrigação de receber bem os frequentadores, deve ter como parâmetro principal a iluminação de consciências. Entretanto, o que se vê são dirigentes e trabalhadores agindo como verdadeiros taumaturgos detentores das verdades espirituais celestes. Na realidade, todo esse cenário leva à conclusão que se cria no meio espírita uma estrutura totalitária de poder e arbítrio, e uma disciplina que sufoca a liberdade na qual a Doutrina Espírita proclama.
A terapêutica espírita contempla a evangelhoterapia e a fluidoterapia que integra os fundamentos da Ciência Espírita, estruturada em princípios racionais e espirituais, harmonizando-se, não cabendo à casa espírita violentá-la sem pôr em risco os seus resultados.
O professor Herculano Pires a esse respeito, adverte:

“(...) a terapia espírita, nascida humildemente da prece da imposição das mãos aos doentes, segundo o ensino e o exemplo de Jesus, era transformada em ritos complicados e pretensiosos, aplicados por médiuns diplomados pelas Federações. Até mesmo as práticas confessionárias foram estabelecidas em várias instituições, a partir do manda-chuva, que agia com rigorosa disciplina paramilitar.”

Depreende-se, pois, a necessidade de se restabelecer a verdade doutrinária nas casas espíritas, considerando que a sua função e significação passam necessariamente pelo estudo e prática da Doutrina Espírita, um trabalho assistencial aos que ali aportam, sejam encarnados e desencarnados, mas tendo como ponto precípuo as obras Kardecianas.

(1)        Sistema Único de Saúde.

Referências:
AUTORES DIVERSOS. Saúde e espiritismo. São Paulo: AME BRASIL, 2015.
FRANCO, Divaldo. Diálogo com dirigentes e trabalhadores espíritas. São Paulo: USE, 1993.
KOENING, Harold. G. Espiritualidade no cuidado do paciente. São Paulo: FÉ, 2005.
PIRES, J. Herculano. Ciência espírita. São Paulo: USE, 1995.
_________________. O Centro espírita. São Paulo: LAKE, 1990.


      

Um comentário:

  1. Prezado Jorge, oportunas palavras. Pessoas se surpreendem quando opino contrariamente à multiplicação dos (des)serviços de cura que invadem os centros espíritas. Talvez pela explosão de frequentadores que ocorre nesses casos, as pessoas julguem úteis tais atividades, mas temo que essa seja uma forma muito bem engendrada pelos que desejam (encarnados e desencarnados) afundar a verdadeira propagação do sentido precípuo do Espiritismo, apesar de acreditar na boa intenção dos encarnados considero-os pouco preparados para a compreensão das reais finalidades de nossa doutrina. Roberto Caldas

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