Pular para o conteúdo principal

OS ESPÍRITAS E A TERAPÊUTICA ESPÍRITA


          



         A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o paradigma espiritual no conceito de saúde, considerando-a o bem estar psicológico e a integração bio-psico-socio-espiritual do ser humano. Contudo, a espiritualidade com conceito multidimensional de saúde, conforme a OMS, remete a questões como significado e sentido da vida, e não se limitando a qualquer tipo específico de crença ou prática religiosa.
          Para a visão médico-espírita a dimensão espiritual é fator primordial para a saúde integral do homem, considerando que a sua essência é o Espírito imortal, viajor do tempo através das jornadas sucessivas.
Dr. Harold G. Koening, psiquiatra estadunidense, estuda desde os anos 80 a ligação entre espiritualidade e saúde e afirma em seu livro Espiritualidade no Cuidado do Paciente:

“Os cientistas estão se tornando cada vez mais conscientes dos caminhos biológicos pelos quais fatores sociais e psicológicos influenciam a saúde física e a suscetibilidade às doenças, e influências similares podem ser logo identificadas também por fatores espirituais.” (grifos nossos)

          As casas espíritas, dentro das suas limitações, contribuem de forma efetiva para esse desiderato com as recomendações da evangelhoterapia (curativa) e a fluidoterapia (paliativa), para os que ali aportam através de assistência totalmente gratuita. Os resultados são significativos.
          É importante salientar que na terapêutica espírita, bem como no exercício da mediunidade, a exigência da moral tem importância precípua. A fé age como um estímulo moral ao paciente para que ele se predisponha melhor, emocionalmente, à ação dos elementos curadores.
          Contudo, a prática simples de Jesus tangida pela imposição das mãos – terapia recentemente autorizada pelo SUS (1) – e a recomendação para a não repetição do erro que tinha e tem origem nas ações dirigidas pelo egoísmo, orgulho e a vaidade, muitos dirigentes de instituições espíritas vêm, ao longo do tempo, introduzindo nas atividades terapias alternativas – pirâmide, cromoterapia, cristalterapia, floral de Bach –, além de orientações e disciplinas absurdas que violentam os princípios espíritas.
Caso curioso ocorreu em uma instituição espírita, paciente que fora indicada a terapêutica espírita, por motivos profissionais teve que se afastar por alguns dias, apesar de avisar das ausências, ao retornar de viagem foi admoestada e teve interrompido o tratamento. Outra instituição entrega uma flor ao paciente que deve levá-la para casa. Caso necessite, fará um chá em substituição ao passe. Casos bizarros como esses povoam o universo do movimento espírita brasileiro.
Há uma federativa que lançou um manual para a realização do tratamento espiritual nas casas espíritas, com uma rotina sistematizada, que contempla formalismo e o ritualismo. Recomenda o preenchimento de fichas acessando a intimidade do paciente, com que propósitos sabe lá quê. O que se percebe é uma diretriz rígida e policialesca. A terapêutica espírita acaba se transformando na principal função do centro espírita, quando não o é. O centro espírita, embora tenha a obrigação de receber bem os frequentadores, deve ter como parâmetro principal a iluminação de consciências. Entretanto, o que se vê são dirigentes e trabalhadores agindo como verdadeiros taumaturgos detentores das verdades espirituais celestes. Na realidade, todo esse cenário leva à conclusão que se cria no meio espírita uma estrutura totalitária de poder e arbítrio, e uma disciplina que sufoca a liberdade na qual a Doutrina Espírita proclama.
A terapêutica espírita contempla a evangelhoterapia e a fluidoterapia que integra os fundamentos da Ciência Espírita, estruturada em princípios racionais e espirituais, harmonizando-se, não cabendo à casa espírita violentá-la sem pôr em risco os seus resultados.
O professor Herculano Pires a esse respeito, adverte:

“(...) a terapia espírita, nascida humildemente da prece da imposição das mãos aos doentes, segundo o ensino e o exemplo de Jesus, era transformada em ritos complicados e pretensiosos, aplicados por médiuns diplomados pelas Federações. Até mesmo as práticas confessionárias foram estabelecidas em várias instituições, a partir do manda-chuva, que agia com rigorosa disciplina paramilitar.”

Depreende-se, pois, a necessidade de se restabelecer a verdade doutrinária nas casas espíritas, considerando que a sua função e significação passam necessariamente pelo estudo e prática da Doutrina Espírita, um trabalho assistencial aos que ali aportam, sejam encarnados e desencarnados, mas tendo como ponto precípuo as obras Kardecianas.

(1)        Sistema Único de Saúde.

Referências:
AUTORES DIVERSOS. Saúde e espiritismo. São Paulo: AME BRASIL, 2015.
FRANCO, Divaldo. Diálogo com dirigentes e trabalhadores espíritas. São Paulo: USE, 1993.
KOENING, Harold. G. Espiritualidade no cuidado do paciente. São Paulo: FÉ, 2005.
PIRES, J. Herculano. Ciência espírita. São Paulo: USE, 1995.
_________________. O Centro espírita. São Paulo: LAKE, 1990.


      

Comentários

  1. Prezado Jorge, oportunas palavras. Pessoas se surpreendem quando opino contrariamente à multiplicação dos (des)serviços de cura que invadem os centros espíritas. Talvez pela explosão de frequentadores que ocorre nesses casos, as pessoas julguem úteis tais atividades, mas temo que essa seja uma forma muito bem engendrada pelos que desejam (encarnados e desencarnados) afundar a verdadeira propagação do sentido precípuo do Espiritismo, apesar de acreditar na boa intenção dos encarnados considero-os pouco preparados para a compreensão das reais finalidades de nossa doutrina. Roberto Caldas

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

   I Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

“TUDO O QUE ACONTECER À TERRA, ACONTECERÁ AOS FILHOS DA TERRA.”

    Por Doris Gandres Esta afirmação faz parte da carta que o chefe índio Seattle enviou ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1854! Se não soubéssemos de quem e de quando é essa declaração poder-se-ia dizer que foi escrita hoje, por alguém com bastante lucidez para perceber a interdependência entre tudo e todos. O modo como vimos agindo na nossa relação com a Natureza em geral há muitos séculos, não apenas usando seus recursos, mas abusando, depredando, destruindo mananciais diversos, tem gerado consequências danosas e desastrosas cada vez mais evidentes. Por exemplo, atualmente sabemos que 10 milhões de toneladas de plásticos diversos são jogadas nos oceanos todo ano! E isso sem considerar todas as outras tantas coisas, como redes de pescadores, latas, sapatos etc. e até móveis! Contudo, parece que uma boa parte de nós, sobretudo aqueles que priorizam seus interesses pessoais, não está se dando conta da gravidade do que está acontecendo...

"ANDA COM FÉ EU VOU..."

  “Andá com fé eu vou. Que a fé não costuma faiá” , diz o refrão da música do cantor Gilberto Gil. Narra a carta aos Hebreus que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Cremos que fé é a certeza da aquisição daquilo que se tem como finalidade.

FUNDAMENTALISMO AFETA FESTAS JUNINAS

  Por Ana Cláudia Laurindo   O fundamentalismo religioso tenta reconfigurar no Brasil, um país elaborado a partir de projetos de intolerância que grassam em pequenos blocos, mas de maneira contínua, em cada situação cotidiana, e por isso mesmo, tais ações passam despercebidas. Eles estão multiplicando, por isso precisamos conhecer a maneira com estas interferências culturais estão atuando sobre as novas gerações.

NÃO SÃO IGUAIS

  Por Orson P. Carrara Esse é um detalhe imprescindível da Ciência Espírita. Como acentuou Kardec no item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos: “Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da doutrina que nos transmitiram”, sendo esse destacado no título um deles. Sim, porque esse detalhe influi diretamente na compreensão exata da imortalidade e comunicabilidade dos Espíritos. Aliás, vale dizer ainda que é no início do referido item que o Codificador também destaca: “(...) os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos (...)”.

JESUS TEM LADO... ONDE ESTOU?

   Por Jorge Luiz  A Ilusão do Apolitismo e a Inerência da Política Há certo pedantismo de indivíduos que se autodenominam apolíticos como se isso fosse possível. Melhor autoafirmarem-se apartidários, considerando a impossibilidade de se ser apolítico. A questão que leva a esse mal entendido é que parte das pessoas discordam da forma de se fazer política, principalmente pelo fato instrumentalizado da corrupção, que nada tem do abrangente significado de política. A política partidária é considerada quando o indivíduo é filiado a alguma agremiação religiosa, ou a ela se vincula ideologicamente. Quanto ao ser apolítico, pensa-se ser aquele indiferente ou alheio à política, esquecendo-se de que a própria negação da política faz o indivíduo ser político.

A REENCARNAÇÃO DE SEGISMUNDO

            O material empírico acerca da comprovação da reencarnação disponível já é suficiente para que a ciência materialista a aceite como lei biológica. Esse material é oriundo de várias matrizes de pesquisas, que sejam das lembranças espontâneas de vivências passadas em crianças, principalmente as encabeçadas por Ian Stevenson (1918 - 2007), desenvolvidas por mais de 40 anos. Da mesma forma, o milhares de casos de regressão de memórias às vidas passadas como terapia, com vistas a soluções para a cura de enfermidades psicossomáticas (TRVP). As experiências de quase morte (EQM), além das pesquisas desenvolvidas pela Transcomunicação instrumental através de meios eletrônicos (TCI).