Enquanto os pais assistiam ao show musical,
acomodados no grande salão do belo teatro, o garoto de apenas dez anos estava
no banheiro “aprontando”. Ele simplesmente “socou” vários rolos de papel
higiênico nos vasos sanitários, entupiu os ralos do chão e das pias com o mesmo
papel picadinho e saiu deixando todas as torneiras abertas.
O resultado não se fez esperar. Em breve tempo
a água invadiu o espaço todo que dava acesso aos sanitários, surpreendendo o
público e funcionários na saída do show.
O autor da “arte” não foi descoberto no
momento. A mãe veio me contar posteriormente porque o garoto, ouvindo minha
palestra sobre minha timidez na infância e adolescência, quis conversar comigo.
Disse-me ele do enfrentamento com os colegas na sala de aula, que o atormentam
– segundo sua versão –, razão pela qual identificou-se com a minha fala.
Durante nossa conversa, transmiti-lhe otimismo, pedi-lhe que não reagisse às
provocações, abracei-o e o estimulei ao bom comportamento. Mas eu ainda não
sabia do episódio do teatro.
Depois juntei as peças. O garoto, como qualquer
criança da sua idade, ainda não tem noção exata, nem maturidade para muitas
situações, embora saibam bem as crianças dessa idade o que é certo e o que é
errado. Mas o episódio do banheiro, ainda que sendo uma aventura irresponsável
com evidentes prejuízos, é também uma explosão de agressão às dificuldades
próprias dos embates da idade nos confrontos com colegas da mesma faixa etária.
Sentindo-se acuado, pressionado, a reação vai
se apresentar de alguma forma, até para chamar a atenção.
Os psicólogos têm melhores condições do que eu
para bem definir tais situações e até sugestões para atenuar essas crises e
reações internas que não estão apenas na infância, mas também na idade adulta.
Quantos adultos que agem como crianças mimadas!
Mas o fato é que, percebendo os pais tais
dificuldades, a ajuda e apoio precisam aparecer, para não piorar a situação.
O diálogo, a presença carinhosa ao invés de
punitiva, o exemplo de companheirismo e compreensão e as orientações de pais e
educadores e até mesmo a terapia psicológica são de grande valia para alteração
do quadro.
A frequência ao templo religioso, com as
práticas próprias de cada religião e mesmo a prece em casa, são recursos
preciosos para acalmar esses ímpetos desagradáveis que ocorrem com nossas
crianças. E, claro, a mudança para melhor no comportamento dos adultos.
O fato final é que pais e educadores não podem
ignorar tais ocorrências. As crianças trazem consigo seus traumas e
dificuldades e precisam da orientação e ajuda dos adultos. Nem sempre conseguem
entender e superar os enfrentamentos que a vida vai trazendo.
Como ignorar isso? Por omissão desse quadro é
que estamos tendo tantos adultos e jovens desequilibrados promovendo tantas
tragédias no cotidiano da vida humana.
É pela nossa indiferença em casa também que
muitos de nossos jovens adentram o perigoso caminho das drogas e se deixam
arrastar pela violência. Existem, é claro, outras causas e também não podemos
generalizar, mas os filhos precisam do carinho dos pais e seus educadores e o
grande desafio é que esse carinho não pode ser castrador nem liberal demais. O
equilíbrio entre os dois pontos é o grande desafio para os pais.
Falar para eles, desde tenra idade, da bondade
de Deus para conosco, do respeito aos animais, ao patrimônio público, aos mais
velhos, às instituições, aos professores; ensinar-lhes a orar, falar-lhes
diretamente ao coração – com exemplos – do Evangelho do Cristo é vacina certa e
indicada que evita o adulto ou o jovem desequilibrado dos anos futuros.
Essa semeadura prudente evita o egoísmo feroz
que caracteriza a sociedade moderna, geradora de tanta violência e desrespeito
ou indiferença para com a vida. A gratidão, a alegria de viver, a honestidade,
a coragem, a determinação e a fé são valores que os pais e educadores nunca
devem desistir de transmitir às novas gerações.
Basta pensar que nunca esquecemos as lições de
honestidade que recebemos de nossos pais. Nunca esqueceremos os exemplos de
dignidade, perseverança e trabalho que semearam no ambiente doméstico e da fé
ardente que nos transmitiram. Isso faz o adulto consciente. As bagagens do
adulto se formam na infância, sob influência direta do adulto.
Estejamos, pois, atentos, com nosso dever de
educar!
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