Em duas apresentações na Rádio Rio de Janeiro,
no programa Falando de Espiritismo, sob os cuidados primorosos da confreira e
amiga Martha Batista, fui abordado pelos ouvintes a respeito do Transtorno de
Personalidade Borderline e suas devidas implicações doutrinárias.
Os pacientes borderline apresentam quadro de
estouros agressivos, comportamentos autodestrutivos, atitudes sociopáticas,
tendência ao suicídio, o que faz com que procurem com assiduidade os devidos
serviços de emergência psiquiátrica ou se vejam envolvidos nos casos policiais.
Em todas as situações, apresentam atitude hostil, estabelecendo uma relação
negativa com os funcionários de saúde e com as autoridades. Geralmente são
considerados como pessoas sem perspectivas futuras e, na maior parte das vezes,
abandonam o tratamento indicado.
Oportuno observar que muitos familiares se
dedicam possessivamente aos pacientes com esse transtorno de personalidade,
assim como igualmente se verifica nos casos de patologia mental. Geralmente são
pessoas dotadas de baixa autoestima, portando grave sentimento de culpa e vivem
exclusiva e obsessivamente nos cuidados do doente, dedicando toda a sua vida.
Esse comprometimento emocional, bem enigmático
e bem patológico, é conhecido, em meios psiquiátricos, como codependência, incluindo
acentuado desvelo quanto à higiene do paciente, preocupando-se em demasia com o
seu banho, a escovação precisa dos dentes, com a devida alimentação, vestuário
e com tudo aquilo que diz respeito ao doente, agravando a irresponsabilidade e
o padrão de conduta do dependente problemático. Toleram as explosões de fúria e
as agressões dispendidas com estoicismo e coragem, considerando, infelizmente,
o paciente como vítima e não como responsável pelos seus próprios males.
Certamente, como não existe o acaso, esses
seres são acometidos de um processo de remorso, devido a erros cometidos em
vivências encarnatórias transatas, ligados por liames físicos aos espíritos dos
transtornados da personalidade borderline. Agora, reencarnados junto aos
desafetos, sentem impulsos de exagerada compaixão, preocupados em demasia em
lhes ajudar, levando ao esquecimento dos cuidados consigo mesmos, vivenciando
difícil processo de expiação espiritual, merecendo igualmente de assistência
psiquiátrica e dos grupos de autoajuda para familiares de pacientes, como os
Codependentes Anônimos.
Oportuno destacar que nem todos os familiares
que cuidam do paciente estão em pleno processo expiatório, merecendo destacar
que alguns se encontram no labor santificante por missão, movidos pelo amor,
atuando com determinação e ardor.
Muito difícil é a convivência com alguém
portador de transtorno de personalidade borderline, desde que possui
dificuldades marcantes em domar seus impulsos agressivos e autodestrutivos.
Suas relações sociais estão sempre comprometidas pela instabilidade afetiva,
pelas dificuldades no trabalho e/ou escola, sempre cursando com agressividade.
São indivíduos bem manipulativos apresentando dificuldades alimentares,
tendência aos vícios e aos pequenos furtos.
Borderline, sendo um transtorno de
personalidade emocionalmente instável, se caracteriza pelo seu portador
apresentar um humor confundido com o encontrado no bipolar, embora varie em um
tempo menor comparado com o mesmo, inclusive mudando de humor ao longo do dia, comparado
com o tempo longo de uma semana no mínimo de mania e de dois meses no mínimo de
humor depressivo no bipolar, esse obedecendo sempre a fatores externos.
O doente borderline, quando contestado, perde o
controle, podendo cometer qualquer tipo de violência. Qualquer contrariedade
desencadeia um processo de verdadeiro horror, fazendo com que a convivência
seja entremeada de intensa angústia e aflição. A violência pode ser
consequência de raiva inadequada ou falta de controle da ira. Outra
característica do doente é usar muito da simulação, se situando no papel de
abandonado e rejeitado.
Sem se defrontar com situações estressantes, o
paciente se apresenta aparentemente calmo, ostentando à primeira vista
cordialidade. Contudo, até mesmo diante de uma onda emocional de baixa
intensidade, se transtorna, exteriorizando intensa desorganização psíquica,
podendo apresentar sentimentos de pânico, raiva, depressão, intensa confusão e
muitas vezes partindo para a autoagressão. De repente, sai do ambiente de presumível
calmaria e se vê diante de uma grave tempestade, prejudicando-se sobremaneira
e, até mesmo, impedindo as normais relações sociais e familiares.
O indivíduo borderline revela instabilidade
acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo, como também
manifesta impulsividade marcante em pelo menos dois campos potencialmente
perigosos (oneomania, compulsão alimentar, sexo, abuso de ingestão de
substâncias ou direção irresponsável).
BOX
1-
Borderline X Psicopatia
O transtorno de personalidade borderline é um
quadro psiquiátrico que só se confunde com o transtorno de personalidade
antissocial (psicopatia), quando o doente é contrariado ou se sente abandonado.
Enquanto tem suas vontades satisfeitas, o paciente borderline está bem; porém,
quando amofinado ou se sentindo abandonado, chega a se parecer com o psicopata.
Um dos pontos marcantes do borderline é o de oscilação do humor, já o
psicopata, por sua vez, não passa por esse abalo, apresentando suas características
em todo o curso do tempo, e não apenas, quando contraditado.
Outro dado importante é que o indivíduo
borderline têm sentimentos, inclusive pode revelar amor aos animais. O
psicopata está em lado oposto, faltando emoções de afeto, como planejam e executam
suas maldades até mesmo por diversão.
BOX-2- Borderline e
Espiritismo
Sob o ponto de vista espiritual, o enfermo
borderline está em melhor situação do que o portador do transtorno de
personalidade antissocial, embora ambos necessitem enfaticamente de uma
internação na carne pela reencarnação compulsória.
A Doutrina Espírita ensina que, encarnado, o
ser espiritual tem o exercício de suas faculdades limitadas, porquanto “a
grosseria da matéria as enfraquece” (OLE-Q 368). É enfatizado que assim que um
vidro opaco é obstáculo à livre irradiação da luz, o invólucro material também
o é à livre manifestação das faculdades do Espírito (OLE-Q 368-a). Allan Kardec
comenta que “pode-se comparar a ação que a matéria grosseira exerce sobre o
Espírito à de um charco lodoso sobre um corpo nele mergulhado, ao qual tira a
liberdade dos movimentos”.
Conforme ensina, igualmente, a codificação
kardeciana, a fase infantil é importantíssima para a mudança no desenvolvimento
evolutivo do ser: “Os Espíritos só entram na vida corporal para se
aperfeiçoarem, para se melhorarem. A delicadeza da idade infantil os torna
brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-los
progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os
maus pendores. Tal o dever que Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão
de dar contas” (Q. 385 de “OLE”).
Os portadores borderline já apresentam um
quadro mais moderado de transtorno de personalidade, em comparação com os
psicopatas. Pela evolução espiritual se encontram no degrau mais acima, tendo
por certo já vivenciados distonias no campo das psicopatias, em embates
encarnatórios passados e já apresentam algum crescimento. Certamente, a
respeito das diferentes progressões espirituais, não se encontram mais na
décima classe, onde estão situados os espíritos impuros, embora continuem na
terceira categoria hierárquica, a dos seres imperfeitos.
Importante a constatação de que o acaso não
existe e cada ser passa por aquilo que necessita para dar mais um passo em
direção ao Infinito, tendo sempre a proteção e o amparo de um Pai intensamente
Amoroso e Justo.
Todos os irmãos em humanidade que passam pelas
experiências difíceis do transtorno borderline devem ser bem amparados,
assistidos por profissionais médicos (psiquiatras) e da psicologia, não se
esquecendo do grandioso e sublime tratamento espiritual na casa espírita.
Tenham sempre a certeza de que o Pai é
verdadeiramente AMOR e uma passa por aquilo que precisa, para conquistar o
Reino de Deus dentro de si mesmo.
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