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SUGESTÃO



 
— Que satisfação encontrá-lo tão bem-disposto, meu caro! ... Forte! Corado! Parece mais jovem! Qual o seu segredo?
Diante de tão efusivas manifestações, é bem provável que o amigo a quem nos dirigimos se sinta animado, ainda que não detenha boas condições físicas, como se um sopro de vitalidade o envolvesse.
— Que aconteceu com você, rapaz? Está abatido! Emagre­ceu! ... Alguma doença? ... Trate de cuidar-se!

Estas palavras, pronunciadas com inflexão de espanto, te­rão efeito contrário, e é bem provável que lhe estraguem o dia. Sua primeira preocupação será procurar uma balança. A impres­são suscitada por nossa manifestação pessimista o incomodará por muito tempo.
Tais reações demonstram o quanto a natureza humana é su­gestionável. Não possuímos ainda a maturidade necessária para o culto de ideias próprias, nem o discernimento que nos possibilite distinguir o certo do errado, sem nos deixarmos influenciar pela opinião alheia. E sempre que a sugestão atinge os pontos fracos de nossa personalidade, rendemo-nos, incondicionalmente, sem esboçar o mais leve gesto de defesa.
 A simples insinuação de que ligeira dor que sente na região torácica pode ser consequência de uma lesão cardíaca, levará o hipocondríaco ao gabinete médico. Imaginará que a crise fatal é iminente. Insistirá em submeter-se a exames diversos, julgados desnecessários pelo facultativo, em vista da normalidade de suas funções orgânicas. Finalmente, o “doente” deixará o consultório levando uma prescrição inócua. Doença de imaginação, remédio imaginário.
Concebendo a ideia de que um ser invisível procure su­gestionar-nos, empregando um método sutil, no qual suas ideias surjam em nossa mente como se fossem fruto de nossos próprios pensamentos, teremos perfeitamente caracterizada a influência dos Espíritos obsessores. E, sempre que nos rendemos a essa pres­são, somos candidatos à perturbação. Suas vítimas, dominadas por desajustes tão lamentáveis que se envergonham de revelar, encontram, não raro, alívio no tratamento psicanalítico, o que, longe de invalidar a realidade apresentada pela Doutrina dos Espíritos, apenas a confirma.
É que iniciado o tratamento, estabelece-se uma disputa entre o médico e os Espíritos obsessores. O primeiro sugestio­nando o paciente no sentido de reagir e voltar à normalidade. Os segundos, procurando, pelo mesmo processo, mantê-lo no dese­quilíbrio. Se o psicanalista possuir um poder de persuasão mais forte, é bem provável que prevaleça a sua vontade, favorecendo a recuperação.
Entretanto, nem sempre a psicanálise revela-se eficaz. Há recaídas. É que tão logo proclamada a cura e suspenso o tratamento, voltam os perseguidores espirituais a envolver sua vítima, precipitando-a em novas crises.
Os esforços da Medicina no terreno psíquico são res­peitáveis e dignos, mas jamais ultrapassarão estreitos limites, enquanto os resultados dependerem, quase exclusivamente, da capacidade dos discípulos de Freud em provocar reações favorá­veis nos doentes mentais, utilizando por principal agente de cura a revelação de que seus males tiveram origem em frustrações da libido, recalques infantis, acidentes psicológicos e outras sutilezas acadêmicas, ensaiando conclusões que raramente correspondem à realidade.
Há um grande passo a ser dado, que é o reconhecimento da personalidade imortal, o Espírito, em jornada de progresso por múltiplas vivências na Terra, guardando imperfeições e mazelas que geram perturbações e desajustes, muitas vezes sob indução de ideias infelizes sugeridas pelos homens, com o uso da palavra articulada, ou pelos Espíritos, com o pensamento.
          Somente as bênçãos da educação espiritual, incentivando o auto aprimoramento e a perseverança no Bem, libertarão em definitivo a criatura humana de tais males. Nesse terreno, o Espi­ritismo tem trabalho pioneiro.

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