Pular para o conteúdo principal

A PSICOSFERA INDIGESTA DO CARNAVAL








Nos períodos de folia os carnavalescos surgem de todos os lados na busca do nutrimento de suas devassidões. Para tais são longas as estações de dias e noites para as preparações do delírio demente dos três dias de miragens. Os incautos esfolam as finanças familiares para experimentar o encanto efêmero de curtir dias de completa paranoia. Adolescentes e marmanjos se abandonam nas arapucas pegajosas das drogas lícitas e ilícitas. Não compreendem que bandos de malfeitores do além (obsessores) igualmente colonizam as avenidas das escolas de samba num lúgubre show de bizarrices. Celerados das escuridões espirituais se acoplam aos bobalhões fantasiados pelos condutores invisíveis do pensamento, em face dos entulhos concupiscentes que trazem no mundo íntimo.

Sobrevém uma permuta vibratória em todos e em tudo. Os espíritos das brumas umbralinas se conectam aos escravos de momo descuidados, desvirtuando-os a devassidões deprimentes e jeitos grotescos de deploráveis implicações morais. Tramas tétricas são armadas no além-tumba e levadas a efeito nessas oportunidades em que momo impera dominador sobre as pessoas que se consentem despenhar na festa medonha.


Enquanto olhos embaciados dos foliões abrangem o fulgor dos refletores e das fantasias brilhantes (inspirações ridículas impostas pelos malfeitores habitantes das províncias lamacentas do além-túmulo), nas avenidas onde percorrem carros alegóricos (que, pasmem! Já até transportou a efígie do Chico Xavier sob aplausos de omissos líderes espíritas), a visão dos espíritos observa o recinto espiritual envolto em carregadas e sombrias nuvens cunhadas pelas oscilações de baixo teor mental.

Os três dias de folia, assim, poderão se transformar em três séculos de penosas reparações. É bom pensarmos um pouco nisso: o que o carnaval traz ao nosso Espírito? Alegria? Divertimento? Cultura? É de se perguntar: será que vale a pena pagar preço tão elevado por uns dias de desvario grupal?

Quando se pretende alcançar essa alegria, através do prazer desregrado e dos excessos de toda ordem, o resultado é a insatisfação íntima, o vazio interior provocado pelo desequilíbrio moral e espiritual. Portanto, não fossem os exageros, o Carnaval, como festa de integração sócio racial, poderia se tornar um acontecimento compreensível, até porque não admitir isso é incorrer em erro de intolerância. Porém, para os espíritas merece reflexão a advertência de André Luiz: “Afastar-se de festas lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagem do carnaval, inclusive as que se destaquem pelos excessos de gula, desregramento ou manifestações exteriores espetaculares. A verdadeira alegria não foge da temperança. ” (1)

A efervescência momesca é episódio que satura, em si, a carga da barbárie e do primitivismo que ainda reina entre nós, os encarnados, distinguidos pelas paixões do prazer violento. Costuma ser chamado de folia, que vem do francês folle, que significa loucura ou extravagância.

Nos dias conturbados de hoje, sabe-se que “(…) de cada dez casais que caem juntos na folia, sete terminam a noite brigados (cenas de ciúme etc); que, desses mesmos dez casais, posteriormente, seis se transformam em adultério, cabendo uma média de três para os homens e três para as mulheres (por exemplo); que, de cada dez pessoas (homens e mulheres) no carnaval, pelo menos sete se submetem espontaneamente a coisas que normalmente abominam no seu dia a dia, como álcool, entorpecente etc. Dizem, ainda, que tudo isso decorre do êxtase atingido na Grande Festa, quando o símbolo da liberdade, da igualdade, mas, também, da orgia e depravação, somadas ao abuso do álcool, levam as pessoas a se comportarem fora do seu normal (…)” (2)

O Espírito Emmanuel adverte: “Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. (…) Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem.”(3)

Como proferi supra, nesse panorama, os obsessores “influenciam os incautos que se deixam arrastar pelas paixões de Momo, impelindo-os a excessos lamentáveis, comuns por essa época do ano, e através dos quais eles próprios, os Espíritos, se locupletam de todos os gozos e desmandos materiais, valendo-se, para tanto, das vibrações viciadas e contaminadas de impurezas dos mesmos adeptos de Momo, aos quais se agarram.” (4)

Portanto, além da companhia de encarnados, vincula-se a nós uma inumerável legião de seres invisíveis, recebendo deles boas e más influências a depender da faixa de sintonia em que nos encontremos. As tendências ao transtorno comportamental de cada um, e a correspondente impotência ou apatia em vencê-las, são qual imã que atrai os espíritos desequilibrados e fomentadores do descaso à dignidade humana, que, em suma, não existiriam se vivêssemos no firme propósito de educar as paixões instintivas que nos animalizam.

Será racional fechar as portas dos centros espíritas nos dias de Carnaval, ou mudar o procedimento das reuniões? Existem alguns centros que fecham suas portas nos feriados do carnaval por vários motivos não razoáveis. Repensemos: uma pessoa com necessidades imediatas de atendimento fraterno, ou dos recursos espirituais urgentes em caso de obsessão, seria fraterno fazê-la esperar para ser atendida após as “cinzas”, uma vez ocorrendo essa infelicidade em dia de feriado momesco?

Os foliões crônicos declaram que o carnaval é um extravasador de tensões, “liberando as energias”… Entretanto, no carnaval não são serenadas as taxas de agressividade e as neuroses. O que se observa é um somatório da bestialidade urbana e de desventura doméstica. Aparecem após os funestos três dias as gravidezes indesejadas e a consequente proliferação de assassinatos de intrusos bebês nos ventres, incidem acidentes automobilísticos, ampliação da criminalidade, estupros, suicídios, aumento do consumo de várias substâncias estupefacientes e de alcoólicos, assim como o aparecimento de novos viciados, dispersão das moléstias sexualmente transmissíveis (inclusive a AIDS) e as chagas morais, assinalando, densamente, certas almas desavisadas e imprevidentes.

O carnaval edifica o nosso Espírito? Muitos espíritas, ingenuamente, julgam que a participação nas festas de Carnaval, tão do agrado dos brasileiros, nenhum mal acarreta à nossa integridade fisiopsicoespiritual. No entanto, por detrás da aparente alegria e transitória felicidade, revela-se o verdadeiro atraso espiritual em que ainda vivemos pela explosão de animalidade que ainda impera em nosso ser. É importante lembrá-los de que há muitas outras formas de diversão, recreação ou entretenimento disponíveis ao homem contemporâneo, alguns verdadeiros meios de alegria salutar e aprimoramento (individual e coletivo), para nossa escolha.

Não vemos, por fim, outro caminho que não seja o da “abstinência sincera dos folguedos”, do controle das sensações e dos instintos, da canalização das energias, empregando o tempo de feriado do carnaval para a descoberta de si mesmo; o entrosamento com os familiares, o aprendizado através de livros e filmes instrutivos ou pela frequência a reuniões espíritas, eventos educacionais, culturais ou mesmo o descanso, já que o ritmo frenético do dia a dia exige, cada vez mais, preparo e estrutura físico-psicológica para os embates pela sobrevivência.

Somente poderemos garantir a vitória do Espírito sobre a matéria se fortalecermos a nossa fé, renovando-nos mentalmente, praticando o bem nos moldes dos códigos evangélicos, propostos por Jesus Cristo.



Referências bibliográficas:
(1)       Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo Espirito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, cap.37 “Perante As Fórmulas Sociais”
(2)       São José Carlos Augusto. Carnaval: Grande Festa…De enganos! , Artigo publicado na Revista Reformador/FEB-Fev. 1983
(3)       Xavier , Francisco Cândido. Sobre o Carnaval, mensagem ditada pelo Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador, Publicação da FEB fevereiro/1987
(4)       Pereira, Ivone. Devassando o Invisível, Rio de Janeiro: cap. V, edição da FEB, 1998


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

SOCIALISMO E ESPIRITISMO: Uma revista espírita

“O homem é livre na medida em que coloca seus atos em harmonia com as leis universais. Para reinar a ordem social, o Espiritismo, o Socialismo e o Cristianismo devem dar-se nas mãos; do Espiritismo pode nascer o Socialismo idealista.” ( Arthur Conan Doyle) Allan Kardec ao elaborar os princípios da unidade tinha em mente que os espíritas fossem capazes de tecer uma teia social espírita , de base morfológica e que daria suporte doutrinário para as Instituições operarem as transformações necessárias ao homem. A unidade de princípios calcada na filosofia social espírita daria a liga necessária à elasticidade e resistência aos laços que devem unir os espíritas no seio dos ideais do socialismo-cristão. A opção por um “espiritismo religioso” fundado pelo roustainguismo de Bezerra Menezes, através da Federação Espírita Brasileira, e do ranço católico de Luiz de Olympio Telles de Menezes, na Bahia, sufocou no Brasil o vetor socialista-cristão da Doutrina Espírita. Telles, ao ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ESPIRITISMO E POLÍTICA¹

  Coragem, coragem Se o que você quer é aquilo que pensa e faz Coragem, coragem Eu sei que você pode mais (Por quem os sinos dobram. Raul Seixas)                  A leitura superficial de uma obra tão vasta e densa como é a obra espírita, deixada por Allan Kardec, resulta, muitas vezes, em interpretações limitadas ou, até mesmo, equivocadas. É por isso que inicio fazendo um chamado, a todos os presentes, para que se debrucem sobre as obras que fundamentam a Doutrina Espírita, através de um estudo contínuo e sincero.

O ESPIRITISMO É PROGRESSISTA

  “O Espiritismo conduz precisamente ao fim que se propõe todos os homens de progresso. É, pois, impossível que, mesmo sem se conhecer, eles não se encontrem em certos pontos e que, quando se conhecerem, não se deem - a mão para marchar, na mesma rota ao encontro de seus inimigos comuns: os preconceitos sociais, a rotina, o fanatismo, a intolerância e a ignorância.”   Revista Espírita – junho de 1868, (Kardec, 2018), p.174   Viver o Espiritismo sem uma perspectiva social, seria desprezar aquilo que de mais rico e produtivo por ele nos é ofertado. As relações que a Doutrina Espírita estabelece com as questões sociais e as ciências humanas, nos faculta, nos muni de conhecimentos, condições e recursos para atravessarmos as nossas encarnações como Espíritos mais atuantes com o mundo social ao qual fazemos parte.

O BRASIL CÍNICO: A “FESTA POBRE” E O PATRIMONIALISMO NA CANÇÃO DE CAZUZA

  Por Jorge Luiz “Não me convidaram/Pra esta festa pobre/Que os homens armaram/Pra me convencer/A pagar sem ver/Toda essa droga/Que já vem malhada/Antes de eu nascer/(...)/Brasil/Mostra a tua cara/Quero ver quem paga/Pra gente ficar assim/Brasil/Qual é o teu negócio/O nome do teu sócio/Confia em mim.”   “ A ‘ Festa Pobre ’ e os Sócios Ocultos: Uma Análise da Canção ‘ Brasil ’”             Os verso s acima são da música Brasil , composta em 1988 por Cazuza, período da redemocratização do Brasil, notabilizando-se na voz de Gal Costa. A música foi tema da novela Vale Tudo (1988), atualmente exibida em remake.             A festa “pobre” citada na realidade ocorreu, realizada por aqueles que se convencionou chamar “mercado”,   para se discutir um novo plano financeiro, para conter a inflação galopante que assolava a Nação. Por trás da ironia da pobreza, re...

TRAPALHADAS "ESPÍRITAS" - ROLAM AS PEDRAS

  Por Marcelo Teixeira Pensei muito antes de escrever as linhas a seguir. Fiquei com receio de ser levado à conta de um arrogante fazendo troça da fé alheia. Minha intenção não é essa. Muito do que vou narrar neste e nos próximos episódios talvez soe engraçado. Meu objetivo, no entanto, é chamar atenção para a necessidade de estudarmos Kardec. Alguns locais e situações que citarei não se dizem espíritas, mas espiritualistas ou ecléticos. Por isso, é importante que eu diga que também não estou dizendo que eles estão errados e que o movimento espírita, do qual faço parte, é que está certo. Seria muita presunção de minha parte. Mesmo porque, pelo que me foi passado, todos primam pela boa intenção. E isso é o que vale.

DEUS¹

  No átimo do segundo em que Deus se revela, o coração escorrega no compasso saltando um tom acima de seu ritmo. Emociona-se o ser humano ao se saber seguro por Aquele que é maior e mais pleno. Entoa, então, um cântico de louvor e a oração musicada faz tremer a alma do crente que, sem muito esforço, sente Deus em si.

É HORA DE ESPERANÇARMOS!

    Pé de mamão rompe concreto e brota em paredão de viaduto no DF (fonte g1)   Por Alexandre Júnior Precisamos realmente compreender o que significa este momento e o quanto é importante refletirmos sobre o resultado das urnas. Não é momento de desespero e sim de validarmos o esperançar! A História do Brasil é feita de invasão, colonização, escravização, exploração e morte. Seria ingenuidade nossa imaginarmos que este tipo de política não exerce influência na formação do nosso povo.