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COMEMORAÇÃO DOS MORTOS E A CODIFICAÇÃO KARDECIANA¹






 Por Roberto Caldas (*)



            O capítulo seis da segunda parte de O Livro dos Espíritos – VIDA ESPÍRITA - dá uma verdadeira aula sobre as relações entre aqueles que passaram para o outro lado da existência e os que ainda permanecem travestidos pelo corpo físico. Intitulado “Comemoração dos mortos. Funerais” encerra 14 perguntas, algumas delas desdobradas para maior compreensão, questionando tudo que ainda hoje povoa a cabeça das pessoas a respeito das homenagens dos que ficaram àqueles que partiram.
            O Livro dos Médiuns, precisamente no cap. XXVI – Das Perguntas que se Podem Fazer aos Espíritos, item Sobre Interesses Morais e Materiais – traz a seguinte resposta: "Esqueceis que a morte é a libertação dos cuidados terrenos. Julgais então que o Espírito, ditoso com a liberdade de que goza, venha de boa-vontade retomar a cadeia de que se livrou e ocupar-se com coisas que já não o interessam, apenas para satisfazer à cupidez de seus herdeiros, que talvez hajam rejubilado com a sua morte, na esperança de que lhes fosse ela proveitosa? Falais de justiça; mas, a justiça, para esses herdeiros, está na decepção que lhes sofre a cobiça...”  
        
O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu capítulo XIV – Honra a vosso pai e a vossa mãe – no item Parentela Corporal e a Parentela Espiritual, chama a atenção para a forma como os Espíritos se vinculam com os grupos em que se associam: “Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais. Duráveis, as primeiras se fortalecem pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das várias migrações da alma; as segundas, frágeis como a matéria, se extinguem com o tempo e muitas vezes se dissolvem moralmente, já na existência atual”.
No livro O Céu e o Inferno, cap. II – Temor da Morte, item Porque os Espíritas não Temem a Morte – Allan Kardec assevera: “A Doutrina Espírita transforma completamente a perspectiva do futuro. A vida futura deixa de ser uma hipótese para ser realidade. O estado das almas depois da morte não é mais um sistema, porém o resultado da observação. Ergueu-se o véu; o mundo espiritual aparece-nos na plenitude de sua realidade prática; não foram os homens que o descobriram pelo esforço de uma concepção engenhosa, são os próprios habitantes desse mundo que nos vêm descrever a sua situação; aí os vemos em todos os graus da escala espiritual, em todas as rases da felicidade e da desgraça, assistindo, enfim, a todas as peripécias da vida de além-túmulo”.
Finalmente em A Genesis cap. XI, Gênese Espiritual - item União do Princípio Espiritual à Matéria, Allan Kardec reflexiona a respeito da vida e da morte: “Por ser exclusivamente material, o corpo sofre as vicissitudes da matéria. Depois de funcionar por algum tempo, ele se desorganiza e decompõe. O princípio vital, não mais encontrando elemento para sua atividade, se extingue e o corpo morre. O Espírito, para quem, este, carente de vida, se torna inútil, deixa-o, como se deixa uma casa em ruínas, ou uma roupa imprestável.”
A Codificação Espírita é a maior fonte de esclarecimento e consolo frente à inexorabilidade da morte sendo âncora de encorajamento diante da saudade e da perda de quem amamos. 

¹ editorial do programa Antena Espírita de 01.11.2015

(*) escritor espírita, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

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