domingo, 3 de agosto de 2014

PASSAR A LIMPO CURA A ALMA¹

                


Por Roberto Caldas (*)



                Fomos embalados por uma canção antiga, cujos créditos autorais são reconhecidos ao poeta/compositor Ivan Lins: “começar de novo e contar comigo... vai valer a pena”.
            Somos convidados, às vezes compelidos, diante das situações que se criam em nossas existências a tomar decisões que mudem a rota conhecida. Individual ou coletivamente, a necessidade de mudança geralmente decorre de uma sensação de desconforto importante que interfere na qualidade do bem estar, sem o qual não faz muito sentido continuar a estratégia até então escolhida. Daí o passo a ser tomado nem sempre é muito fácil de ser decidido, pois importa em transformar uma paisagem a qual estamos acostumados, mas deixou de corresponder à aspiração de alegria que deve envolver os nossos passos. Natural que haja um intervalo em que a dor e o pasmo predominem em nossa mente enquanto um sabor amargo preenche a nossa caminhada.

            O momentum seguinte ao susto é que divide as pessoas em dois grupos, De um lado os que conferem ao desconforto uma situação de imutabilidade, apesar do sofrimento que carregam costumam buscar culpados e queixar-se dos outros, do mundo enquanto permanecem anestesiados para o desenrolar do tempo que segue. De outro lado aquelas que lamentam os primeiros momentos para em seguida se transformarem no garimpeiro de seus próprios tesouros, um verdadeiro inventor de novos projetos de crescimento.
            Os amigos espirituais que escreveram junto com Allan Kardec a magnífica obra O Livro dos Espíritos nos ensinam quando propõem quais os objetivos de uma encarnação (Q.132) afirmando que o principal deles é “dar ao Espírito condições de cumprir sua parte na obra da criação”. Entendamos que a expressão criação tanto funciona como a Grande Arquitetura Divina, quanto ao processo de criar a renovação, propor a alternativa, sair do marasmo, buscar propostas diferentes que façam sentido aos créditos de racionalidade, com a qual a Natureza nos outorgou a condição de abrir caminhos rumo à felicidade que aspiramos.

            A conquista da capacidade de pensar, uma difícil travessia iniciada na brutalidade do instinto primitivo comprova que superamos bilhões de anos em contato com as adversidades naturais da evolução e chegamos a um platô que nos garante habilidades que se encontram no aguardo apenas de uma decisão nossa. Mergulhados na imperfeição concebida pela espiral que o Universo admite quando estabelece a evolução, “desde o átomo primitivo ao arcanjo que começou pelo átomo” (LE Q. 540), precisamos exercitar a nossa voluntariedade de tornar a vida que se apresenta diante de nós como uma oportunidade de constantes mudanças na busca de adequação e crescimento, sem exigir-nos uma perfeição que ainda não possuímos. O medo de errar pode ser um entrave à mudança que desejamos e algumas vezes nos conformamos deixando o tempo passar na ilusão de que ele resolverá o que nos compete. É preciso coragem para olhar o futuro com visão de mudança, mas essa foi a opção que nos coube preteritamente até chegarmos onde estamos. Passar a limpo a nossa consciência e permitir que as dores sejam tratadas exige atitudes novas... Um convite para a cura da alma. 

¹ editorial do programa Antena Espírita de 13/07/2014.
(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.    

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