Pular para o conteúdo principal

C.E. "O POBRE DE DEUS" EM DESTAQUE

Entrevista concedida pelo confrade Everaldo Mapurunga, voluntário do C. E. "O Pobre de Deus", Oiticicas, Viçosa do Ceará, à estudante Ahinsa, do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (UNIFOR).


Iniciando o diálogo. Oi, senhor. Boa noite! Conforme conversamos, estou escrevendo uma matéria para o jornal do meu curso de jornalismo da Unifor sobre pessoas que ajudam a mudar realidades a partir de boas ações. Lembrei da inciativa da padaria Pão da Vida e por isso resolvi entrevistá-lo. Seguem as perguntas. Desde já, muito obrigada pela atenção.

De onde surgiu a ideia de abrir a Padaria? Quando começou?
-Surgiu do desejo de alcançar a sustentabilidade da obra social que lhe deu origem. Tal obra teve início 10 anos antes da padaria. A inspiração veio dos Atos dos Apóstolos, que começaram a atender os necessitados mas não tinham o dinheiro necessário. Complementa o livro “Paulo e Estêvão” (Emmanuel/Francisco Cândido Xavier) que eles pretendiam trabalhar para dar provimento às ações; no entanto, não conseguiram realizar seu desejo, dado às fortes perseguições que enfrentaram e que se estenderam até o Séc. III. Mas a semente não se perdeu no tempo. Outros cristãos inspiraram ou materializaram aquele sonho, como São Francisco de Assis, que é o inspirador da referida obra social, dando-lhe, inclusive, o nome: CENTRO ESPÍRITA “O POBRE DE DEUS”.

  
Como você conseguiu o dinheiro para investir?
--Como em qualquer obra cristã, a gente considera que o dinheiro é enviado por Deus, através da generosidade das pessoas e/ou da seriedade das instituições que apoiam. Ao longo da caminhada, já contamos com parceiros diversos, como BNDES, VITAE - que hoje já não atua no Brasil - e Embaixada Britânica, todas por volta de 2001, quando a padaria teve início; a Fundação Banco do Brasil, em mais de uma ocasião; e a Capemisa Social, que é uma obra parceira e ao mesmo tempo irmã, pois que está sob a égide de Fabiano de Cristo, virtuoso franciscano português, que viveu no Brasil colonial. Atualmente, a presença das pessoas que compram os alimentos é nossa maior energia. Parece que o dinheiro que elas investem vem adoçado com bondade e vitaminado com o poder da multiplicação. É por isso que não temos qualquer dúvida quanto àquele fenômeno no qual Jesus partiu os pães e os peixes. Nós o vemos repetir-se diariamente e nem espanto temos mais, apenas gratidão.


Para onde o lucro é destinado?
- Uma parte é investida no aperfeiçoamento do trabalho, para retribuir a esse cliente generoso que garante a continuidade. Sem isso, não haveria a sustentabilidade.
Com outra parte, a entidade tenta ser justa e generosa com a equipe que produz e comercializa. Essas pessoas, em sua maioria, vêm da própria obra social: são ex-alunos, que agora trilham o caminho dos estudos ou da sonhada profissão; são mães coparticipantes, vindas da comunidade assistida. Sem isso, também não estaria no caminho da sustentabilidade.
E, finalmente, a terceira parte. Ela representa a renúncia de pró-labore de algumas pessoas, que trabalham na obra sem remuneração ou benefícios. Esta parte atende à finalidade essencial: Mantém uma centena de crianças em atividades socioeducacionais, no campo da Assistência Social. É um atendimento regular, por 4 horas diárias, de segunda a sexta, com atividades eventuais no fim de semana, sendo complementar à escola pública. As cerca de 100 famílias de onde vêm tais crianças, alguns adolescentes e jovens, também recebe atendimento conforme a necessidade e as possibilidades da instituição, uma vez que tais famílias são regularmente visitadas. Não há nenhum custo para os beneficiários, que neste caso atuam como coparticipantes do processo de promoção social e não como meros recebedores.

Como você conciliava a padaria com a sua vida pessoal e profissional?
Ainda concilio e pretendo conciliar, com alguma dificuldade, mas com desejo de acertar. O tempo que me sobra da profissão, divido entre o convívio familiar e a obra social como um todo, onde se inclui a padaria e o abraço semanal às crianças, com cuja evangelização contribuo desde o princípio. Estou sempre pedindo a Deus sabedoria para administrar o tempo, convicto de que minha família é por Ele lembrada nas horas em que não estou em casa.

Quais foram as dificuldades?
Cada uma delas daria um livro. Mas a assistência de Deus e a generosidade das pessoas é maior, a despeito do que pesa em contrário, ou seja: a turbulência de nossos dias.

O que a padaria trouxe de benefício para você e para a comunidade?
A obra social, como um todo, é o sonho cristão que tento viver desde a mocidade e que me proporciona uma alegria diferenciada, não isenta de provas, mas que posso qualificar como alegria sustentável. Quanto aos benefícios para a comunidade, abstenho-me de falar. Uma pesquisa acadêmica séria, em nível de mestrado, está se ocupando disso. Espero que em breve venha ao conhecimento público.
  
Fique à vontade para acrescentar algo que eu não tenha perguntado.
-Tenho sido a pessoa mais convidada a falar sobre obra social. Há outras pessoas anônimas que, a meu ver, tem uma atuação mais relevante do que a minha. Aproveito para agradecer a elas e aos nossos apoiadores, encorajando o propósito de perseverarmos na edificação de um mundo no qual a alegria seja também sustentável. Finalmente, agradeço pela oportunidade.
 ______________________
 - Você fez excelentes perguntas, Ahinsa*! Nunca me senti tão bem conversando assim sobre o trabalho. Vá em frente, seu nome foi uma escolha muito acertada. Trabalhe por ser uma virtuosa pessoa, pois no caminho de boa profissional você já está. Obrigado.



(*) O nome da nossa jornalista, segundo a Wikipedia. Ahimsa (em sânscrito, अहीमर ahimsâ) é um princípio ético-religioso adotado principalmente pelo jainismo e presente no hinduísmo e no budismo, e que consiste na rejeição constante da violência e no respeito absoluto de toda forma de vida. No Ocidente a sua notoriedade deve-se à prática da ainsa na conduta coerente de Mahatma Gandhi (1869-1948).

Comentários

  1. No espaço abaixo - "Canteiro da Caridade" -, você conhece um pouco mais da obra. Indo à Viçosa do Ceará, não deixe de vistar o projeto social-espírita do "Centro Espírita "O Pobre de Deus".

    ResponderExcluir
  2. Belo trabalho Everaldo. Tenho certeza que as preces dos assistidos te dar forças para continuar. Esse trabalho do C.E. Pobre de Deus, que de pobre não tem nada, serve de inspiração para outras obras semelhantes! E se alguém quiser contribuir, como deve fazer?
    Francisco Castro de Sousa

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Agradecemos ao blog pelo espaço e ao amigo Castro pelo encorajamento.

      Apresentamos as melhores formas de contribuir:
      a) Conheça as ações humanitárias e participe (temos caravanas regulares para Oiticicas)
      b) Visite o Pão da Vida e consuma seus produtos;
      c) Preste serviços voluntários (se você está na região ou a visita regularmente; ou até mesmo à distância...);
      d) Recomende a amigos, inclusive e principalmente os do Alto.

      Everaldo C. Mapurunga
      C.E. "O Pobre de Deus"

      Excluir
  3. Castro,
    Tem a opção PagSeguro no blog do "Pobre de Deus",http://opobrededeus.blogspot.com.br/ ou através da conta:
    Banco do Brasil
    Centro Espírita "O Pobre de Deus"
    Ag. 2773-1 CC. 32.220-2
    CNPJ 86.732.443/0001-92.

    ResponderExcluir
  4. Parabéns a todos, projeto e matéria interessantíssimos.
    Abraço, Augusto Leão/Recife-PE

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

DIA DA ESPOSA DO PASTOR: PAUTA PARASITA GANHA FORÇA NO BRASIL

     Imagens da internet Por Ana Cláudia Laurindo O Dia da Esposa do Pastor tem como data própria o primeiro domingo de março. No contexto global se justifica como resultado do que chamam Igreja Perseguida, uma alusão aos missionários evangélicos que encontram resistência em países que já possuem suas tradições de fé, mas em nome da expansão evangélico/cristã estas igrejas insistem em se firmar.  No Brasil, a situação é bem distinta. Por aqui, o que fazia parte de uma narrativa e ação das próprias igrejas vai ocupando lugares em casas legislativas e ganhando sanções dentro do poder executivo, como o que aconteceu recentemente no estado do Pará. Um deputado do partido Republicanos e representante da bancada evangélica (algo que jamais deveria ser nominado com naturalidade, sendo o Brasil um país laico (ainda) propôs um projeto de lei que foi aprovado na Assembleia Legislativa e quando sancionado pelo governador Helder Barbalho, no início deste mês, se tornou a lei...

OS ESPÍRITAS E O CENSO DE 2022

  Por Jorge Luiz   O Desafio da Queda de Números e a Reticência Institucional do Espiritismo no Brasil Alguns espíritas têm ponderado sobre o encolhimento do número de declarados espíritas no Brasil, conforme o Censo de 2022, com abordagens diversas – desde análises francas até tentativas de minimizar o problema. O fato é que, até o momento, as federativas estaduais e a Federação Espírita Brasileira (FEB) não se manifestaram com o propósito de promover um amplo debate sobre o tema em conjunto com as casas espíritas. Essa ausência das federativas no debate não chega a ser surpreendente e é uma clara demonstração da dinâmica do movimento espírita brasileiro (MEB). As federativas, na realidade, tornaram-se instituições de relacionamento público-social do movimento espírita.

CONFLITOS E PROGRESSO

    Por Marcelo Henrique Os conflitos estão sediados em dois quadrantes da marcha progressiva (moral e intelectual), pois há seres que se destacam intelectualmente, tornando-se líderes de sociedades, mas não as conduzem com a elevação dos sentimentos. Então quando dados grupos são vencedores em dadas disputas, seu objetivo é o da aniquilação (física ou pela restrição de liberdades ou a expressão de pensamento) dos que se lhes opõem.

JUSTIÇA COM CHEIRO DE VINGANÇA

  Por Roberto Caldas Há contrastes tão aberrantes no comportamento humano e nas práticas aceitas pela sociedade, e se não aceitas pelo menos suportadas, que permitem se cogite o grau de lucidez com que se orquestram o avanço da inteligência e as pautas éticas e morais que movem as leis norteadoras da convivência social.  

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

      Por Wilson Garcia Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia: