O suicídio é um tema tabu, mesmo que acompanhe a humanidade de maneira atemporal, tem sido menos discutido do que sentimos necessidade. Talvez por ter sido abarcado pela religião como algo proibido, no esquema de remessas de medo como probabilidade de contenção do ser, ele ronda o mundo em silêncio, para surgir repentinamente, cortando a normalidade visível.
Em 1897 o sociólogo francês Émile Durkheim trouxe à lume O Suicídio, livro basilar de todos os estudos sociológicos. Para os estudos que fez naquele tempo histórico, três qualificações foram construídas: Suicídio egoísta, resultado da quebra de laços sociais; suicídio altruísta, que realçava ligamento extremo do indivíduo para com a sociedade e o suicídio anômico, que resulta do termo anomia, e deveria significar que este ocorre quando o indivíduo aspira mais do que pode, tendo demandas muito acima de suas possibilidades reais, chegando por isso ao desespero.
No Espiritismo, meio ao qual estou ligada por laços de comunhão profunda, embora esteja hoje baseada nas compreensões laicas, o suicídio é carregado de associações imagéticas assemelhadas a ideias de geena e fornalhas ardentes, um ponto quase sensorial de punições pós-vida material.
O suicida se torna único responsável pelo destino de dor.
Do livro O Suicídio, analisamos pequeno trecho:
“Como bem destacou Steven Lukes, no ensaio Alienation and Anomie, ‘a anomia é a patologia peculiar do homem moderno industrial, ‘santificada’ tanto pela economia ortodoxa, como pelos socialistas extremistas. A indústria ‘em vez de ser considerada como um meio para o logro de um fim que a transcenda, tornou-se o fim supremo igualmente dos indivíduos e das sociedades.’ A anomia é aceita como algo normal, sendo vista de fato como ‘uma marca de distinção moral’, e ‘é permanentemente repetido que faz parte da natureza humana encontrar-se eternamente insatisfeita, estar sempre avançando, sem descanso ou parada, em direção a uma indefinida meta’.”
Talvez falte às religiões e filosofias holísticas baixarem um pouco mais o olhar para o chão onde a humanidade pisa, para perceber os que são pisados, e, na mesma proporção fixarem olhar de busca naqueles que pisam sobre as necessidades de todos.
O Suicídio de Durkheim pesca o transtorno social para as ciências da sociedade.
As doutrinas fixam rótulos sobre os autocidas.
Cada um de nós sabe as restrições que carrega, os medos, as angústias que determinados ângulos da existência se nos apresentam.
Mais debate sobre este tema pode nos ajudar a conhecer os caminhos humanos com mais honestidade, se conseguirmos nos despir das togas que a cultura asséptica de fundo capitalista produtivista nos delega, e liberarmos a nossa capacidade de não julgar ao ponto extremo de sermos benevolentes com todos, incluindo nós mesmos.
Não serão as faixas amarelas os únicos recursos para a prevenção do suicídio, se a sociedade não parar para interpretar os códigos do seu tempo e as vinculações com o passado. As sociedades opressoras continuam oprimindo. As brechas de satisfação e grandes necessidades, são renovadas periodicamente, e no fundo permanecem os panoramas excludentes, geradores de dores normalizadas, para a manutenção incólume do sistema vencedor.
Não há pódio para mais de três.
Onde ficam os incontáveis destinos?
A compreensão política da vida é base para todas as possíveis transformações. Ninguém consegue ser bom o suficiente sem entender quem criou os conceitos e para quê eles servem.
Precisamos estudar mais.

COMENTÁRIO ELABORADO PELA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - IA (GEMINI)
ResponderExcluirO artigo apresenta uma reflexão profunda sobre o suicídio, transcendendo a visão simplista e tabu para abordá-lo como um fenômeno complexo, com raízes sociais, psicológicas e até mesmo espirituais.
O texto inicia destacando o tabu que envolve o suicídio, apesar de sua presença atemporal na história humana. A autora questiona a falta de discussão, sugerindo que a religião e o medo podem ter contribuído para esse silêncio. A experiência pessoal da autora, de conhecer pessoas que cometeram suicídio sem demonstrar sinais, ressalta a dificuldade de identificar o problema.
A análise se aprofunda ao trazer o trabalho de Émile Durkheim em sua obra "O Suicídio" (1897), um marco nos estudos sociológicos. A autora explica as três categorias de suicídio propostas por Durkheim: egoísta, altruísta e anômico, com foco especial na anomia, que descreve o desespero de indivíduos com aspirações inatingíveis.
O artigo contrapõe essa análise sociológica com a visão do Espiritismo, que, segundo a autora, trata o suicídio com uma carga de punições pós-vida, atribuindo a responsabilidade unicamente ao indivíduo. Essa crítica sugere que as doutrinas espirituais e religiosas precisam de uma visão mais empática e menos punitiva.
A autora defende que é essencial um debate mais honesto sobre o suicídio, despido de julgamentos e da superficialidade de uma cultura capitalista e produtivista. Ela argumenta que a prevenção vai além de campanhas como o Setembro Amarelo, exigindo que a sociedade compreenda suas próprias opressões e exclusões, que geram sofrimento "normalizado".
A conclusão do texto é um chamado para a ação: estudar mais e adotar uma compreensão política da vida. A autora sugere que, para promover transformações reais, é necessário questionar quem cria os conceitos de "bem" e para quem eles servem, em um mundo onde "não há pódio para mais de três".
Em suma, o artigo é um convite à reflexão e à empatia, desafiando tabus e visões simplistas para enxergar o suicídio como um sintoma de problemas sociais e individuais que exigem atenção, estudo e uma profunda mudança cultural.