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DIVULGAÇÃO DE NOTÍCIAS FALSAS ENTRE OS ESPÍRITAS

 

Por Roberto Caldas

            Fazendo consulta em minha página de watsaap identifiquei mensagem de companheiro das hostes espíritas que enviava uma informação que, se fizesse um esforço de análise, talvez tivesse se contido e jogado no lixo eletrônico antes de divulgar o conteúdo que além de infeliz escondia uma malícia típica de pessoas sem propósitos superiores. Lógico que não vou reproduzir aquela monstruosidade, a qual deletei de imediato.

Pus-me a pensar a respeito. Veio-me à mente uma conversa que houvera tido durante uma consulta profissional que fazia para uma idosa senhora, na casa dos 75 anos, que ostentava uma enorme cruz de madeira pendurada no colo, o que garantia a sua enorme devoção aos princípios cristãos. Conversávamos, entre o relato de um ou outro sintoma, a respeito de sua ligação com as atividades de sua denominação religiosa. O ano era2018 e estávamos às vésperas de um pleito eleitoral que antagonizava dois principais candidatos que dividiam as expectativas de vitória. Para minha surpresa, ao final da consulta, aquela mulher idosa questiona a minha preferência, mas evito o assunto por não desejar misturar os assuntos.

Ela insiste em perguntar e como driblo em não dar-lhe resposta, ela começa a anunciar a sua escolha, mas não fala de sua opção, desqualifica aquele que julga ser o oponente. Joga sobre os olhos daquela pessoa que disputava uma cadeira presencial no país a pecha de alguém que era sabidamente abusador de sua filha, que à época contava 18 anos e que o fato era conhecido pela sua esposa e toda a vizinhança.

Confesso que, para começar, fiquei sem palavras. Olhei aquela veneranda senhora, com uma cruz no peito, na altura dos seus 75 anos, cristã e quase não acreditei naquilo que escutava dito espontaneamente de sua boca. Fui educado por muitos motivos, mas questionei de quem ouvira aquela informação. Da internet. Perguntei se havia checado o conteúdo, mas ela confiava em que lhe enviara. Quis saber se passara adiante em sua página e sim, para todas as pessoas de sua lista.

Juro que tentei, mas não pude me conter em chamar-lhe a atenção para o respeito que ela mesma devia a sua própria idade e à cruz que carregava. Perguntei-lhe que cristianismo era aquele que repassava adiante mensagens maliciosas sem o devido cuidado de averiguação, e se Jesus em seu lugar teria atitude tão nefasta. Sei que ficou chocada com a resposta que lhe entreguei, pois não tardou em levantar-se, talvez arrependida de não ter saído antes, pois a consulta já havia sido encerrada quando começou a blasfemar a injúria. Posso assegurar que não a vi outra vez, não por minha decisão. Certamente se eu a visse outra vez não faria nenhuma menção ao ocorrido infeliz.

A mensagem do confrade me fez voltar à memória esse incidente de comunicação que me aconteceu em minha vida profissional. Guardadas as proporções da gravidade da acusação do ilícito que fora jogado no colo daquele candidato do passado, o caráter de divulgar uma mentira na rede nada perde em desrespeito se considerados os princípios que parecem nortear os atos que nós, espíritas, deveríamos cultivar em relação ao outro que pretensamente queremos desfigurar socialmente. Se fosse verdade o conteúdo exposto, ainda assim haveria de ser pensado o papel que desempenhamos em apontar falhas de outrem em ambiente público. Se a informação é destituída de honestidade a gravidade é maior. E nesse caso em particular, aquela “mensagem” trazia uma deslavada mentira, aliás muito fácil de ser percebida porque o esclarecimento se encontra à disposição de qualquer que fizesse uma simples busca.

O que tal fato caracteriza? É um questionamento para toda pessoa, em especial ao espírita, fazer quando tenha o hábito de repassar adiante dados que não teve a atitude honesta de pesquisar a veracidade e coloca a própria ponta de malícia pessoal ao multiplicar a divulgação.

Allan Kardec, de quem muito se mal falou em sua época e precisou desafiar os maliciosos da época, ouviu do Espírito Erasto que “melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea” (O Livro dos Médiuns). O Espírito André Luiz adverte quanto ao nos transformarmos “no ponto final do mal”, para que se evite que nos tornemos cúmplices da divulgação e prosperidade do mal.

Passados próximo aos 07 anos daquela péssima experiência,  a memória daquele caso foi ativada pela atitude de um companheiro que lida nas casas espíritas e com certeza conhece a máxima de Kardec (O Evg Segundo o Esp) que nos joga na necessidade da reflexão constante ao nos propor que “reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que empreende para domar suas más inclinações”.

Falar mal de outrem em público quando o conteúdo é verdadeiro pode nos causar problemas mais cedo ou mais tarde. Quando o conteúdo é falso nos torna cúmplices.

 

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