Pular para o conteúdo principal

DIA INTERNACIONAL DA MULHER - COMO ASSIM?

 

 

Por Doris Gandres

 Como muitos sabem, no dia 08 de março de 1857, numa tecelagem em Nova York, cerca de 130 mulheres postaram-se paradas diante das máquinas, sem acioná-las nem operá-las, porque reivindicavam melhores salários e, até ali, nada tinham conseguido. O que fizeram então os “patrões”? Fecharam e trancaram o galpão por fora e atearam fogo! Todas morreram carbonizadas. Após muitos anos, muitas manifestações e muita luta, em 1975 foi oficializado pela ONU o dia 08 de março como o Dia Internacional da Mulher, no sentido de lembrar suas conquistas políticas e sociais.

Todavia, apesar de tanto tempo, tanto esforço, tanto empenho, tantas discriminações e até perseguições, de um considerável número de mulheres manifestantes e combatentes desde há  muitos anos e até hoje, a situação da grande maioria das mulheres no Brasil e no mundo ainda permanece em condições que deixam muito a desejar em termos de direitos perante os homens e de justiça social.

Pude ver em um canal reportagens com o título “A vida das mulheres palestinas importa?” – “O que significa o 08 de março para as mulheres palestinas?” E esses dois títulos despertaram em mim uma série de reflexões desde que despertei nesse último 08 de março...

O que significa essa data “oficializada como o dia internacional da mulher” para os milhões de mulheres remanescentes das nações originárias do Brasil; os milhões de mulheres remanescentes das nações africanas, que foram arrancadas pelos escravagistas de seus locais de origem; os milhões de mulheres remanescentes de povos nativos dos países da América do Sul, da América Central, da América do Norte; os outros tantos milhões de mulheres do norte, do sul, do leste e do oeste desse mundo sob a égide o poder arbitrário, autoritário, usurpador, enganador ...?...

O que significa essa data para as mulheres encarceradas; para as mulheres vítimas de violências, preconceitos e discriminações de todo tipo; para as mulheres sujeitas à miséria, à fome e ao relento pela ganância de uma sociedade ambiciosa, colonialista, corrupta, sedenta de poder a qualquer custo; para mulheres subjugadas por conceitos machistas castradores de todo desenvolvimento e crescimento intelectual e social...

Isso, só para citar algumas situações, a fim de não me alongar muito.

Foi assim, refletindo nisso tudo, que os votos de “feliz Dia da Mulher” – dados até de forma atenciosa, carinhosa, mas que nesse momento me soaram superficiais, como que alienados da realidade em geral – não surtiram efeito para mim, nem sequer os retribuí. Preferi me calar na maioria dos casos, respondendo apenas aos quais podia expressar minha visão sobre isso tudo sem ferir suscetibilidades...

Cabe, entretanto, ressaltar os alguns milhares de mulheres que, no decorrer do tempo, nadaram contra a corrente majoritária dominante, não se deixaram arrastar nem intimidar, que mesmo em meio à turbulência levantaram a voz, desfraldaram a bandeira da liberdade e do reconhecimento de seus direitos e capacidades, mesmo quando à força a rasgaram na tentativa de as fazer calar pelo medo. Valorosas pioneiras que incentivaram e agregaram outras milhares mundo afora.

Agora, graças às antecedentes, a voz feminina de qualquer etnia, de qualquer classe social, de qualquer idade, de qualquer crença ou até sem crença, de qualquer gênero de sua preferência, se eleva, ecoa por toda parte e a qual machistas, colonialistas, imperialistas, abusadores, exploradores, (que, aliás, podem ser homens e também outras mulheres) já não podem nem conseguem ignorar.

E é assim que dia chegará em que não mais se comemorará “O dia internacional da mulher” porque em todos os dias a mulher será devidamente considerada, respeitada e apreciada quanto aos seus valores intrínsecos como ser humano que lhe permitem alcançar tudo que almejar, todas as condições e situações que pretender conquistar.

Comentários

  1. Assim espero cara Doris, o dia que não precisarem falar em dia da mulher, pois teremos alcançado a igualdade.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

O MOVIMENTO ESPÍRITA MUNDIAL É HOJE MAIS AMPLO E COMPLEXO, MAS NÃO É UM MUNDO CAÓTICO DE UMA DOUTRINA DESPEDAÇADA*

    Por Wilson Garcia Vivemos, sem dúvida, a fase do aperfeiçoamento do Espiritismo. Após sua aurora no século XIX e do esforço de sistematização realizado por Allan Kardec, coube às gerações seguintes não apenas preservar a herança recebida, mas também ampliá-la, revendo equívocos e incorporando novos horizontes de reflexão. Nosso tempo é marcado pela aceleração do conhecimento humano e pela expansão dos meios de comunicação. Nesse cenário, o Espiritismo encontra uma dupla tarefa: de um lado, retornar às fontes genuínas do pensamento kardequiano, revendo interpretações imprecisas e sedimentações religiosas que se afastaram de seu caráter filosófico-científico; de outro, abrir-se à interlocução com as descobertas contemporâneas da ciência e com os debates atuais da filosofia e da espiritualidade, como o fez com as fontes que geraram as obras clássicas do espiritismo, no pós-Kardec.

09.10 - O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

            Por Jorge Luiz     “Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)                    Cento e sessenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outr...

A CULPA É DA JUVENTUDE?

    Por Ana Cláudia Laurindo Para os jovens deste tempo as expectativas de sucesso individual são consideradas remotas, mas não são para todos os jovens. A camada privilegiada segue assessorada por benefícios familiares, de nome, de casta, de herança política mantenedora de antigos ricos e geradora de novos ricos, no Brasil.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

ALLAN KARDEC E A DOUTRINA ESPÍRITA

  Por Doris Gandres Deolindo Amorim, ilustre espírita, profundo estudioso e divulgador da Codificação Espírita, fundador do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, em dado momento, em seu livro Allan Kardec (1), pergunta qual o objetivo do estudo de uma biografia do codificador, ao que responde: “Naturalmente um objetivo didático: tirar a lição de que necessitamos aprender com ele, através de sua vida e de sua obra, aplicando essa lição às diversas circunstâncias da vida”.

PRÓXIMOS E DISTANTES

  Por Marcelo Henrique     Pense no trabalho que você realiza na Instituição Espírita com a qual mantém laços de afinidade. Recorde todos aqueles momentos em que, desinteressadamente, você deixou seus afazeres particulares, para realizar algo em prol dos outros – e, consequentemente, para si mesmo. Compute todas aquelas horas que você privou seus familiares e amigos mais diletos da convivência com você, por causa desta ou daquela atividade no Centro. Ainda assim, rememore quantas vezes você deixou seu bairro, sua cidade, e até seu estado ou país, para realizar alguma atividade espírita, a bem do ideal que abraçaste... Pois bem, foram vários os momentos de serviço, na messe do Senhor, não é mesmo? Quanta alegria experimentada, quanta gente nova que você conheceu, quantos “amigos” você cativou, não é assim?

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...

JESUS E A QUESTÃO SOCIAL

              Por Jorge Luiz                       A Pobreza como Questão Social Para Hanna Arendt, filósofa alemã, uma das mais influentes do século XXI, aquilo que se convencionou chamar no século XVII de questão social, é um eufemismo para aquilo que seria mais fácil e compreensível se denominar de pobreza. A pobreza, para ela, é mais do que privação, é um estado de carência constante e miséria aguda cuja ignomínia consiste em sua força desumanizadora; a pobreza é sórdida porque coloca os homens sob o ditame absoluto de seus corpos, isto é, sob o ditame absoluto da necessidade que todos os homens conhecem pela mais íntima experiência e fora de qualquer especulação (Arendt, 1963).              A pobreza é uma das principais contradições do capitalismo e tem a sua origem na exploração do trabalho e na acumulação do capital.