Pular para o conteúdo principal

QUANTO VALE UMA VIDA?

 

     


Por Alexandre Júnior

 

O capitalismo institui, a partir de suas estruturas cruéis e nefastas, o valor à vida humana. Desta forma, o Estado distribui seu capital e serviços a partir da valia que ele dá aos corpos beneficiados pelos mesmos. Ou seja: o valor dessa mesma vida depende da representatividade social a que pertence este sujeito!

         Entendemos facilmente por que o Brasil; é o 4° país no planeta que mais mata ativistas ambientais.

         Antes de qualquer altercação secundária: Quem matou e quem mandou matar Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes? Quem matou e quem mandou matar o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips?

         Na esteira do capitalismo, o neoliberalismo, sua versão mais excludente, comunga com as práticas fascistas e com a produção da chamada necropolítica. Não desejam a vida ou o respeito à natureza, mas sim o lucro e o poder acima de tudo e de todos!

         Daí surgir a pergunta: Quanto Vale uma Vida?

     Onde estão concentrados os grandes investimentos do Governo na proteção social das pessoas? O aparelhamento do Estado visa servir a quem?

         Diante da realidade apresentada nestas reflexões iniciais, indagamos: Onde está o Movimento Espírita Brasileiro Hegemônico Federativo Institucionalizado, diante de todas estas realidades sociais aterrorizantes e perversas dos dias atuais? Em quantas notas o referido Movimento se manifestou sobre está realidade social? Qual o seu posicionamento diante deste descalabro? O silêncio e a omissão são formas de comunicar?

         Conclamamos reflexões que nos levem a entender que o espiritismo não é omisso às questões sociais de nosso tempo, bem como não é apolítico; senão vejamos o que nos fala Kardec. Comecemos com o Livro dos Médiuns (Kardec, 2017): “O Espiritismo, já o dissemos, se relaciona com todos os problemas da Humanidade. Seu campo é imenso e devemos encará-lo sobretudo quanto às suas consequências”. Ora, se o próprio Kardec fala abertamente sobre a relação do Espiritismo com todos os problemas humanos, de onde vem a negação desta realidade de uma parte muito significativa dos Espíritas brasileiros?

         Trazemos a discussão agora a partir de um artigo da Revista Espírita de Junho de 1868:

 

“O Espiritismo conduz precisamente ao fim que se propõe todos os homens de progresso. É, pois, impossível que, mesmo sem se conhecer, eles não se encontrem em certos pontos e que, quando se conhecerem, não se deem - a mão para marchar, na mesma rota ao encontro de seus inimigos comuns: os preconceitos sociais, a rotina, o fanatismo, a intolerância e a ignorância”. (Kardec, 2018),

 

Neste ponto específico, os preconceitos sociais são caracterizados por Kardec como um dos inimigos do progresso humano – compreendemos desta maneira, e por isso dizemos repetidas vezes: não haverá mundo de regeneração sem igualdade e justiça social, até vencermos estes inimigos comuns citados no texto acima.

Damos prosseguimento às nossas reflexões Kardecianas, agora usando A Gênese como base: 

 

“Com a reencarnação, desaparecem os preconceitos de raça e de casta, já que o mesmo Espírito pode renascer, rico ou pobre, grande senhor ou proletário, mestre ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. De todos os argumentos invocados contra a injustiça da servidão e da escravatura, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte, não existe nenhum que supere em lógica, o fato material da reencarnação. Desse modo, assim como a reencarnação fundamenta numa lei da natureza o princípio da fraternidade universal, também fundamenta na mesma Lei o princípio da igualdade dos direitos sociais e, por consequência, o da liberdade. ” (Kardec, 2007)

 

            A reencarnação, aqui expressa pelo querido Professor Francês, não possui uma ideia em si mesma de criar castas e/ou justificar a opulência de uns e a total falta de outros, não valida a famigerada meritocracia, seja ela do mundo dos vivos ou do mundo dos mortos. Assim, (Júnior, 2022) nos diz: “Nesse sentido, nenhuma hegemonia cultural, econômica ou social opressora deverá encontrar a sua razão de existir na forma de se conceber a reencarnação, tendo o Espiritismo como referencial teórico”.

         Compreendemos que a partir da reencarnação em uma perspectiva Espírita, a ideia é que todos, todas e todes tenham as mesmas possibilidades, partindo o Espiritismo da visão de um ser integral, de proporcionar-lhes possibilidades para a ampla ação de vida, para que todas as suas potencialidades possam ser motivadas a serem vivenciadas e ampliadas no espiritual, no afetivo, no emocional, no material e no social.

         Assim, (Júnior, 2022), continua:

 

“A reencarnação tem uma ação educativa em vez de punitiva. Divina e diametralmente oposta à demoníaca; libertadora e antagônica a qualquer tipo de postura aprisionante. Sua ação sobre nós é de possibilidades de aprendizado através de sucessivas oportunidades, nas quais vamos, por intermédio dos embates sociais, concordando e discordando, formatando-nos como cidadãos cósmicos, seres universais, criaturas divinas, constituindo-nos naquilo que somos”. (Júnior, 2022),

 

            É importante posicionarmos os nossos pensamentos sobre a reencarnação, já que a mesma robustece, valida e legitima a nossa busca por igualdade e justiça social a partir da compreensão do Espiritismo.

         Damos prosseguimento às nossas digressões Kardecianas, desta vez usaremos O Livro dos Espíritos, na pergunta 806. “A desigualdade das condições sociais é uma lei natural?  Não, ela é obra do homem e não de Deus.” Compreendemos que não sendo essas desigualdades e injustiças sociais ações divinas, cabe portanto a quem as criou o dever de extirpá-las! Desta maneira, as ações de enfrentamento às causas dessa problemática precisam e devem ser amplamente combatidas – e não apenas os seus efeitos! Combater a fome é extremamente necessário e urgente. Mas perguntar e entender por que tantas pessoas passam fome é imprescindível.

         Assim vamos estabelecendo de que maneira as relações sociais vão se instituindo e como produção de políticas públicas que contemplem as diversas demandas de nosso povo são importantes, levando em consideração as especificidades construídas a partir das diferenças culturais e identitárias que nos formam!

         Ainda no Livro dos Espíritos, está a pergunta 799, com sua respectiva resposta:

 

“Por que meios pode o Espiritismo contribuir para o progresso? “Ao destruir o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz os homens compreenderem onde estão os seus verdadeiros interesses. Por não estar mais velada pela dúvida, o conhecimento da vida futura será apreendido pelo homem, que entenderá que pode assegurar o seu futuro pelo próprio presente. Ao destruir os preconceitos de seita, casta e cor, o Espiritismo ensina aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos.” (Kardec, 2007)

 

            Possuímos um enorme desafio, a partir do que chamaríamos de um Espiritismo espiritualista – embora pareça redundância – instituirmos a possibilidade de nos vermos irmãos, sem negar as diferenças que nos formam. O não respeito a este pensamento torna o Movimento Espírita Brasileiro Hegemônico Federativo Institucionalizado materialista, assim como nos diz Alexandre Júnior, no seu livro Espiritismo, Educação, Gênero e Sexualidades: Um Diálogo com as Questões Sociais:

 

“O movimento espírita brasileiro é materialista quando valida os preconceitos, não luta contra eles de forma orgânica e não tem, por exemplo, uma campanha “oficial” contra os preconceitos. É materialista quando institui em suas relações sociais internas e externas o processo de hierarquização dos corpos, no seu “modus operandi” (Júnior, 2022)

 

            Chegamos a estas reflexões para podermos compreender um dos motivos pelos quais, segundo nossas pesquisas, o referido Movimento convive com as desigualdades e injustiças sociais e não possuí ações discursivas, pedagógicas ou práticas para lidar com as mesmas. E desta forma, torna-se incapaz de ajudar na formação de um Ser Espiritual dentro da cultura do seu tempo.

         Este silêncio promovido pelo Movimento Espírita Brasileiro Hegemônico Federativo Institucionalizado é ensurdecedor, e como vimos, não se sustenta em Kardec. Reproduz em suas práticas as normas sociais vigentes, guiada muitas vezes por um religiosismo que beira o fundamentalismo, e que por sua vez é alimentado por um conservadorismo extremo. E este processo não coaduna com as práticas do nosso guia e modelo, Jesus de Nazaré.

         Será que o Jesus dos Espíritas verdadeiramente “não comprou uma pistola, porque em sua época não existia?”, ou será que ele defende a tese de que “bandido bom é bandido morto?” Ou ainda que direitos humanos serviram para “humanos direitos?” Ou ele teve 4 filhos e no 5º “fraquejou”, daí nascendo uma mulher? Será que ele diria à mulher adúltera: “Não te estrupo por que você não merece?”.  Ou talvez: “Meus filhos não namorariam uma negra por que foram bem educados!”. Estas são falas em voga na atualidade – seriam elas relacionadas verdadeiramente com o Evangelho?

         Seria possível conjugar em uma mesma frase Lucas 10:27: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, mas “bandido bom é bandido morto”?

Ou ainda consoante expresso em Mateus 25, 35:36. “Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me”, e assim “façamos arminha com as mãos” e defendamos a necropolítica, a política armamentista. Ou que ainda não nos incomodemos com os assassinatos de Chico Mendes, Irmã Dorothy Stang, Marielle Franco, Anderson Gomes, Miguel Otávio, Dandara dos Santos, Evaldo Rosa e tantas anônimas e anônimos que tombam com seus corpos transgressores sem vida, para que os “homens de bem” tenham bons sonhos!

         Precisamos construir diálogos que se sustentem teoricamente. Precisamos viver a “Religião da Intimidade”, “a Fé Raciocinada”; mas se para vivermos alguma religião precisarmos ser insensíveis às dores de almas que pensam diferentes de nós; se para reverenciar nosso deus negamos vidas, e nos fechamos ao amor pelos diferentes, há algo de errado em nossa forma de adorar!

         Nos diz Freire: “A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa”.

         Nas arenas romanas, os desafios eram não abjurar a Jesus de Nazaré, e se entregar em sacrifício. As arenas do campo sócio-político-religioso vitimaram O Cristo numa crucificação infame. Já nos dilemas dos dias de hoje, na “nossa Pátria mãe gentil, Choram Marias e Clarices no solo do Brasil”, pois “num tempo, página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória das nossas novas gerações, dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações”.

         E nós apenas sentimos e quando nos permitem, balbuciamos baixinho, para que não nos escutem: “Como é difícil acordar calado, se na calada da noite eu me dano, quero lançar um grito desumano, que é uma maneira de ser escutado. Esse silêncio todo me atordoa. Atordoado eu permaneço atento. Na arquibancada pra qualquer momento. Ver emergir o monstro da lagoa”.

         Aludindo um refletir que seja tal qual fumaça em fresta de porta, que se apresente forte como uma esperança que faz florescer um “Esperançar”, que ame corajosamente, apesar dos reveses que fazem com que tombem os corpos que ousam amar o amor, a natureza Amazônica, e as humanidades, e que não atende aos rótulos do convencionalismo extremamente fundamentalista, tacanho, perverso e excludente!

         Nos inspiremos no amor subversivo de Jesus de Nazaré, para todas, todos e todes, e sem acepção. Aceitemos a licença poética do cancioneiro e nos permitamos compreender que segundo ele, o poeta, “o Amor é um Ato Revolucionário".

 

 

Referências Bibliográficas

A Gênese (Kardec, 2018) p. 58 KARDEC, Allan. A gênese. Federação Espírita André Luiz, (FEAL), 2018.

Bíblia de Estudo Perguntas e Respostas MC. São Paulo, 2016.  Lucas10:27; Mateus 25,35:36.

Espiritismo, Educação, Gênero e Sexualidades. Um diálogo com as Questões Sociais. JÚNIOR, Alexandre,  Recife: CBA Editora, 2022.

O livro dos espíritos: princípios da doutrina espírita. Livraria Allan Kardec Editora, 2007.

O Livro dos Médiuns (Kardec, 2017). KARDEC, Allan. O livro dos médiuns, EDICEL, 2017

Pedagogia da Autonomia. (Freire, 2011) FREIRE, Paulo. São Paulo: Editora Paz e Ter[1]ra, 2011.

Revista Espírita – junho de 1868, (Kardec, 2018),  KARDEC, A. Revista Espírita. Tradução de Julio Abreu Filho. Livraria Allan Kardec Editora, (LAKE). 2018.

 

Músicas

O Bêbado e o Equilibrista. Letra de Aldir Blanc e João Bosco.

Bastidores. Letra de Chico Buarque.

Cálice. Letra de Chico Buarque.

O Amor é Um Ato Revolucionário. Letra de Chico César.

 

 

 

 

Comentários

  1. Excelente reflexão, necessária. Passamos 4 anos com um projeto político de morte e não ouvimos nenhuma palavra dos entes federativos. Outras vozes, pelo contrário, apoiaram a morte e seu potencial destrutivo do Bolsonarismo. É preciso desse grito de denuncia e cobrar posição.

    ResponderExcluir
  2. Caro ilustre escritor , nobre e dileto amigo. Cada vez mais vc tem nos surpreendido pela excelência da forma e conteúdo esclarecedor, reflexivo e profícuo para os que iram estudar com afinco no conhecimento da vossa sapiência. Parabéns , pois no meu entender, só falta assumir uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, haja vista este e tantos outros serão perenes , por ser um legado que será imortalizado. Marco Pollo Dutra. 02/01/2023

    ResponderExcluir
  3. Me envergonho desses “espírita” que tiveram a oportunidade de serem ouvidos, mas preferiram silenciar em prece😔

    ResponderExcluir
  4. Excelente e oportuno. Qdo chego em algumas das nossas Casas às vezes me perguntose não estou em um antigo templo da época da Inquisição, onde práticas fundamentalistas, quse nos lembram a doutrina do "crê ou morre". Distanciados de Kardec, lendo apenas romances adocicados, esquecem as bases filosóficas e sociologicas da Doutrina de Luz. Temos a impressão muitas vezes que as preces são feitas de olhos semi-abertos para não perder a chace de vigiar o outro. Voltemos a Kardec, Denis e às bases. Voltemos a Jesus.

    ResponderExcluir
  5. Excelente artigo. Um convite a revisão da práxis espírita, da nossa "humanidade", da nossa visão de mundo, e de nossa consciência dita cristã. É ainda muito pouco pra se dizer do conteúdo desse artigo. Com certeza Kardec o aprova. A luta está apenas começando...

    ResponderExcluir
  6. Excelente artigo, caro Alexandre! Reflexões muito oportunas!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

DIA DA ESPOSA DO PASTOR: PAUTA PARASITA GANHA FORÇA NO BRASIL

     Imagens da internet Por Ana Cláudia Laurindo O Dia da Esposa do Pastor tem como data própria o primeiro domingo de março. No contexto global se justifica como resultado do que chamam Igreja Perseguida, uma alusão aos missionários evangélicos que encontram resistência em países que já possuem suas tradições de fé, mas em nome da expansão evangélico/cristã estas igrejas insistem em se firmar.  No Brasil, a situação é bem distinta. Por aqui, o que fazia parte de uma narrativa e ação das próprias igrejas vai ocupando lugares em casas legislativas e ganhando sanções dentro do poder executivo, como o que aconteceu recentemente no estado do Pará. Um deputado do partido Republicanos e representante da bancada evangélica (algo que jamais deveria ser nominado com naturalidade, sendo o Brasil um país laico (ainda) propôs um projeto de lei que foi aprovado na Assembleia Legislativa e quando sancionado pelo governador Helder Barbalho, no início deste mês, se tornou a lei...

OS ESPÍRITAS E O CENSO DE 2022

  Por Jorge Luiz   O Desafio da Queda de Números e a Reticência Institucional do Espiritismo no Brasil Alguns espíritas têm ponderado sobre o encolhimento do número de declarados espíritas no Brasil, conforme o Censo de 2022, com abordagens diversas – desde análises francas até tentativas de minimizar o problema. O fato é que, até o momento, as federativas estaduais e a Federação Espírita Brasileira (FEB) não se manifestaram com o propósito de promover um amplo debate sobre o tema em conjunto com as casas espíritas. Essa ausência das federativas no debate não chega a ser surpreendente e é uma clara demonstração da dinâmica do movimento espírita brasileiro (MEB). As federativas, na realidade, tornaram-se instituições de relacionamento público-social do movimento espírita.

CONFLITOS E PROGRESSO

    Por Marcelo Henrique Os conflitos estão sediados em dois quadrantes da marcha progressiva (moral e intelectual), pois há seres que se destacam intelectualmente, tornando-se líderes de sociedades, mas não as conduzem com a elevação dos sentimentos. Então quando dados grupos são vencedores em dadas disputas, seu objetivo é o da aniquilação (física ou pela restrição de liberdades ou a expressão de pensamento) dos que se lhes opõem.

JUSTIÇA COM CHEIRO DE VINGANÇA

  Por Roberto Caldas Há contrastes tão aberrantes no comportamento humano e nas práticas aceitas pela sociedade, e se não aceitas pelo menos suportadas, que permitem se cogite o grau de lucidez com que se orquestram o avanço da inteligência e as pautas éticas e morais que movem as leis norteadoras da convivência social.  

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

      Por Wilson Garcia Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...