Pular para o conteúdo principal

ESCOLHA - CONQUISTA DO SER PENSANTE

 


 Por Doris Gandres

  Desde muito cedo começamos a fazer as nossas escolhas, ainda primitivos, ainda de forma rudimentar, mais guiados pelo instinto do que pela razão, com senso moral ainda diminuto, mas já de forma consciente, ou não se poderia considerar qualquer atitude como escolha, pois que esta se trata de uma opção individual e voluntária.

   A Doutrina Espírita nos esclarece que inicialmente percorremos a estrada da evolução como princípio inteligente do Universo até chegarmos ao ponto em que passamos a "seres inteligentes da Criação". A partir daí, em épocas muito remotas, começamos a "ensaiar para a vida", no dizer dos Espíritos Superiores, e gradualmente nos tornamos senhores do nosso livre-arbítrio - tal qual acontece na etapa reencarnatória quando, de início, bebezinhos, somos inteiramente dependentes, mas, à medida que vamos crescendo, conquistando conhecimento e experiência, assumimos responsabilidades relativas às nossas possibilidades.

    O livre-arbítrio é consequência da liberdade de pensar e de consciência, atributos que nos distinguem e fazem de nós criaturas capazes de decidir com critério - ou não, dependendo do nosso nível evolutivo. Porque, até certo ponto, as nossas decisões são inteiramente acatadas, a fim de que possamos angariar méritos, ou gerar compromissos, em função do tipo de ações e atitudes que tenhamos realizado. Somente em casos de espíritos muito renitentes, cristalizados em comportamentos negativos graves, é aplicada a "lei da compulsória" e, então, não cabe a ele, naquele momento, nenhuma escolha.

    Nos casos medianos, mesmo ainda precários, existe a possibilidade de participação relativa na programação reencarnatória, logicamente cuidadosamente assistidos pelos amigos espirituais especializados nessa tarefa; naquela ocasião, ficam determinadas a situação e as condições da nossa vida futura na matéria: por exemplo, em que país, em que cidade, em que família, se no sexo masculino ou feminino, rico ou pobre, saudável ou com alguma restrição e assim por diante, tudo em função de nossas necessidades de aprendizado e progresso.

    Todavia, uma vez inseridos nas contingências terrenas, cabe-nos inteira responsabilidade pelas decisões de cunho moral, pelo modo como vivenciaremos nossas experiências na carne, no chamado "mundo de César". Deolindo Amorim, renomado e respeitado espírita, em seu livroO Espiritismo e os Problemas Humanos, no capítulo II (Entre Deus e César), afirma, entre muitos outros esclarecimentos, que "Os desvios do homem nas coisas de César têm repercussão na Justiça Divina". E compreendemos isso, pois constatamos igual repercussão dessas opções na nossa vida e na sociedade como um todo, visto que também já sabemos que tudo está interligado na Criação.

    Particularmente nós, espíritas, que temos em mãos ensinamentos tão claros e inequívocos, garantidos pelo controle universal, ou seja, pela universalidade de seus princípios, solidamente baseados nas leis naturais criadas por Deus, não mais podemos alegar desconhecimento. Sem contar que há muitos milênios viemos recebendo outros tantos ensinamentos igualmente destinados a nos orientar para o caminho do Bem e, consequentemente, da Felicidade.

   Analisando o nosso dia a dia, as nossas ações cotidianas, percebemos que efetivamente cada instante comporta uma escolha, uma tomada de decisão, por mais trivial que seja: vou sair - vou beber água; não, prefiro um suco - vou ligar a televisão, a internet, telefonar para Fulano - vou tomar banho - vou visitar uma amiga - enfim, todos os milhares de atos que praticamos num único dia são filhos de um pensamento que representa uma ESCOLHA, uma DECISÃO.

    E se isso acontece com relação às trivialidades da nossa vida, imaginemos o que significam as nossas escolhas nos momentos mais difíceis, nas horas mais dolorosas, nas questões que envolvem a aplicação de princípios morais que se refletem não apenas sobre nós, mas sobre toda a sociedade, sobre toda a humanidade.

    A possibilidade de escolher e decidir é realmente uma conquista do ser pensante, mas que, além de lhe proporcionar liberdade de ação, acarreta responsabilidade absoluta e intransferível. Todavia, já entendemos que sem responsabilidade não poderemos crescer espiritualmente. Allan Kardec, na Revista Espírita de março de 1869, esclarece: "Com o ser espiritual independente, preexistente e sobrevivente ao corpo, a responsabilidade é absoluta (...) O Espiritismo a demonstra como uma realidade patente, efetiva, sem restrição, como uma consequência natural da espiritualidade do ser. Eis porque certas pessoas temem o Espiritismo, que as perturbaria em sua quietude, erguendo à sua frente o terrível tribunal do futuro. Provar que o homem é responsável por todos os seus atos é provar a sua liberdade de ação; e provar a sua liberdade é revelar a sua dignidade."

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.