Pular para o conteúdo principal

MANIFESTO DOS COLETIVOS ESPÍRITAS PROGRESSISTAS CONTRA O FIM DO PROGRAMA BOLSA-FAMÍLIA

 

 

 

806. É lei da natureza a desigualdade das condições sociais?

“Não; é obra do homem e não de Deus.” (O Livro dos Espíritos)

 

“A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual. Por isso foi que Jesus disse: “Em verdade vos digo que mais fácil é passar um camelo por um fundo de agulha do que entrar um rico no reino dos céus.”

(O Livro dos Espíritos questão 816)

“Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo ninguém deve morrer de fome.”

(O Livro dos Espíritos questão 930)

De todos os males causados por esse desgoverno, o retorno da fome abatendo as classes populares é um dos mais cruéis. E, se não bastassem todas as outras situações massacrando a classe trabalhadora, promovendo arrocho salarial, temos agora o fim do último instrumento que permitia a sobrevivência e um pouco de dignidade para milhões de pessoas: o fim do Programa Bolsa-Família.

Para quem conhecia esse programa, que estava longe de ser uma iniciativa socialista ou caritativa, ele permitia não somente a alimentação de milhões de pessoas, mas também a garantia de atendimento médico, escolar e acesso a diversas outras benesses, garantindo cidadania a tantos brasileiros. Além disso, essa verba permitiu a movimentação financeira em comunidades que jamais tinham recebido quaisquer investimentos antes, estimulando o desenvolvimento econômico de diversas localidades.

Dentre outras qualificações, o programa permitiu a diminuição da mortalidade materno-infantil por conta do controle vacinal de crianças e adolescentes inclusos no programa, além de verificação de peso e altura. Inclusive, mulheres em idade fértil e mães também tinham acompanhamento que nunca haviam tido anteriormente, fora a possibilidade do empoderamento feminino, colocando nas mãos da mulher o direito de decidir como utilizar o dinheiro recebido.

Durante a vigência do atualmente extinto programa, foi possível o fomento de diversas comunidades que jamais haviam recebido qualquer tipo de investimento, proporcionando dignidade e cidadania para milhões de pessoas. Dentre outras questões, também houve o retorno de pessoas que haviam migrado para o lugar de onde haviam saído, visto que as condições de vida tinham melhorado.

Bolsa-Família foi política pública transversal, uma vez que conectava ações diversas diretamente ligadas à população brasileira mais pobre, incluindo programas de educação e permanência dos jovens na escola através dos sistemas de acompanhamento da frequência escolar e do rendimento escolar. Cumpre ressaltar que programas de transferência de renda são ações efetivas de combate à pobreza, ainda mais no contexto de franco e intencional empobrecimento da população brasileira, perpetrado pelo governo federal necropolítico da atualidade.

Num momento em que ocorre o encarecimento da carne de terceira e da alimentação em geral, pessoas reviram caminhões de lixo em busca de restos de comida, dormem pelas ruas, e, muitas vezes, têm de se deparar com a fila do osso para tentar raspar um resto de alimento, é uma abjeta atitude o encerramento de um programa que se tornou modelo para o mundo sem que nenhum outro instrumento fosse colocado em seu lugar. Atualmente, mais de 40 países no mundo utilizam programas de transferência de renda vinculados a ações de cidadania e dignidade para a sua população.

Não adiantarão cestas básicas distribuídas por entidades religiosas nem programas eleitoreiros sem a mesma dinâmica: a miséria no Brasil tenderá a explodir novamente, levando a situações ainda mais calamitosas do que as que já vivenciamos em nossa história. A fome está se tornando ainda mais estrutural no Brasil, ameaçando diretamente o nosso presente e o nosso futuro imediato. Vivenciamos uma gigantesca pulsão de morte dominada pela política de inspiração neofascista, que fez perecer mais de 608 mil brasileiros em plena pandemia pelo novo coronavírus, e continua a todo vapor ceifando vidas através da miséria que avança sem piedade.

Manifestamos aqui os coletivos espíritas progressistas o nosso repúdio a toda essa falta de sensibilidade social, ao desprezo pela população mais pobre, cenário agravado pela necropolítica reinante, assassinando as populações periféricas não somente pelas variadas formas de violência, mas agora também tirando o último instrumento que impedia o agravamento da fome e da miséria em nosso território nacional.

Cada vez mais, o Brasil se torna um pária do evangelho, com membros da elite econômica e política acumulando riquezas em paraísos fiscais ou ainda causando crises econômicas internas que beneficiam aos detentores do poder, excluindo ainda mais os que já tinham muito pouco. O Brasil não é o coração do mundo, mas sim o coração da fome e da desesperança. Restam-nos a ação transformadora, a consciência engajada e o amor não contemplativo, para revertermos esse quadro.

Brasil, 13 de dezembro de 2021.

Assinam os seguintes coletivos:

Ágora Espírita

Associação Brasileira Espírita de Direitos Humanos e Cultura de Paz (AbrePaz)

Coletivo de Estudos Espiritismo e Justiça Social (Cejus)

Coletivo Espírita pela Transformação Social (CoETranS)

Coletivo Girassóis Espíritas pelo Bem Comum

Instituto de Filosofia Espírita Herculano Pires (IFEHP)

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

A ESTUPIDEZ DA INTELIGÊNCIA: COMO O CAPITALISMO E A IDIOSSUBJETIVAÇÃO SEQUESTRAM A ESSÊNCIA HUMANA

      Por Jorge Luiz                  A Criança e a Objetividade                Um vídeo que me chegou retrata o diálogo de um pai com uma criança de, acredito, no máximo 3 anos de idade. Ele lhe oferece um passeio em um carro moderno e em um modelo antigo, daqueles que marcaram época – tudo indica que é carro de colecionador. O pai, de maneira pedagógica, retrata-os simbolicamente como o amor (o antigo) e o luxo (o novo). A criança, sem titubear, escolhe o antigo – acredita-se que já é de uso da família – enquanto recusa entrar no veículo novo, o que lhe é atendido. Esse processo didático é rico em miríades que contemplam o processo de subjetivação dos sujeitos em uma sociedade marcada pela reprodução da forma da mercadoria.

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

A CIÊNCIA DESCREVE O “COMO”; O ESPÍRITO RESPONDE AO “QUEM”

    Por Wilson Garcia       A ciência avança em sua busca por decifrar o cérebro — suas reações químicas, seus impulsos elétricos, seus labirintos de prazer e dor. Mas, quanto mais detalha o mecanismo da vida, mais se aproxima do mistério que não cabe nos instrumentos de medição: a consciência que sente, pensa e ama. Entre sinapses e neurotransmissores, o amor é descrito como fenômeno neurológico. Mas quem ama? Quem sofre, espera e sonha? Há uma presença silenciosa por trás da matéria — o Espírito — que observa e participa do próprio enigma que a ciência tenta traduzir. Assim, enquanto a ciência explica o como da vida, cabe ao Espírito responder o quem — esse sujeito invisível que transforma a química em emoção e o impulso biológico em gesto de eternidade.

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

RECORDAR PARA ESQUECER

    Por Marcelo Teixeira Esquecimento, portanto, como muitos pensam, não é apagamento. É resolver as pendências pretéritas para seguirmos em paz, sem o peso do remorso ou o vazio da lacuna não preenchida pela falta de conteúdo histórico do lugar em que reencarnamos reiteradas vezes.   *** Em janeiro de 2023, Sandra Senna, amiga de movimento espírita, lançou, em badalada livraria de Petrópolis (RJ), o primeiro livro; um romance não espírita. Foi um evento bem concorrido, com vários amigos querendo saudar a entrada de Sandra no universo da literatura. Depois, que peguei meu exemplar autografado, fui bater um papo com alguns amigos espíritas presentes. Numa mesa próxima, havia vários exemplares do primeiro volume de “Escravidão”, magistral e premiada obra na qual o jornalista Laurentino Gomes esmiúça, com riqueza de detalhes, o que foram quase 400 anos de utilização de mão de obra escrava em terras brasileiras.

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...