Pular para o conteúdo principal

CHICO XAVIER É A REENCARNAÇÃO DE KARDEC?

 

Algumas vezes, surge na imprensa espírita, determinadas apreciações de ter voltado à dimensão física o magnânimo codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, precisamente na cidade de Pedro Leopoldo, Minas Gerais, em 2 de abril de 1910, agora personificando a figura ímpar e muito querida do maior psicógrafo de todos os tempos, o saudoso Francisco Cândido Xavier.

Importante considerar que o tema seja discutido de forma amena, considerando que, acima de qualquer polêmica, deva vigorar a união, a harmonia, lembrando que o amor precisa sempre ser exercido, primeiramente, e depois, em seguida, o intelectualismo, a instrução, nunca a possibilidade de desentendimentos, principalmente agressivos e mordazes.

Deve-se sempre respeitar o pensamento alheio, mesmo que não seja uníssono com o nosso, pronto para o diálogo sem ressentimentos e aberto a mudanças. Em verdade, estamos no mesmo barco, apesar de nossas deficiências, sendo outorgados com uma oportunidade valiosíssima, nessa atual trajetória evolutiva, de sermos partidários do Espiritismo e conhecermos a figura ímpar e majestosa do excelso Mestre de Lion, Allan Kardec, o “Apóstolo da Verdade”, o magnânimo missionário do “Espírito da Verdade” (Jesus).

Chico não foi Kardec

Quanto ao assunto em tela, os partidários de ser o estimado e bondoso Chico a reencarnação de Kardec baseiam-se sempre no “disse-que–disse”, isto é, opiniões respeitáveis, porém isoladas, bastante pessoais, quase sempre recheadas de certa emocionalidade, diga-se de passagem, já que o médium, realmente, sempre foi um ser de grande carisma, exteriorizando extremo amor, fazendo com que as pessoas extremamente místicas ficassem fascinadas por ele. Contudo, é importante a prática da criticidade kardeciana, desde que a Doutrina Espírita nos orienta a passarmos pelo crivo da razão e do discernimento as comunicações e afirmações que provêm da espiritualidade.

Ao contrário do brilhante trabalho intelectual desempenhado por Kardec, Chico se caracterizou apenas como intermediário dos espíritos. Para a Doutrina Espírita não existe médium infalível ou perfeito (1) e “o melhor de todos é aquele que tem sido menos enganado” (2). “Depois, por muito bom que seja um médium jamais é tão perfeito que não possa ser atacado por algum lado fraco” (3).

É sempre útil lembrar o que nos ensina o codificador: “Os médiuns de mais mérito não estão ao abrigo das mistificações dos Espíritos embusteiros” (4).

O Chico relatou ter sido vítima de mistificação muitas vezes. Questionado se até àquela data (1980) o fenômeno acontecia, respondeu que sim (5). Está, o distinto leitor, constatando como os médiuns são falíveis? Até o Chico passou por isso. Kardec, quando voltar, certamente, mais uma vez, não será portador de mediunidade. Acredito que essa honesta e corajosa afirmação do estimado médium de ter sofrido mistificação seja mais um dado importante para afastar a hipótese da reencarnação de Kardec, em Pedro Leopoldo.

É importante lembrar que Emmanuel, na obra febiana que tem o seu nome, diz que os médiuns, EM SUA TOTALIDADE, são almas que fracassaram no decurso dos séculos e recebem a mediunidade para a sua redenção.

Em oposição ao “disse-que-disse”, trago a própria afirmação do Chico, quando relatou, em rede nacional de televisão, ter sido, na última existência, um intelectual derrocado e veio como médium para resgatar essa dívida, o que afasta definitivamente a tese de ser o amado Chico a reencarnação do codificador.

Assim o médium se expressou: “[...] nos informamos com ele [Emmanuel] de que, em outras vidas, abusamos muito da inteligência [...]”.

E Chico reproduziu também as palavras do seu guia: “Você não escreverá livros, em pessoa, porque você mesmo renunciou a isso [...] seu espírito, fatigado de muitos abusos dentro da intelectualidade, quis agora ceder as suas possibilidades físicas a nós outros, os amigos espirituais” (6). Kardec, reencarnado como Chico, impedido de escrever pessoalmente por conta de um passado recente, onde abusou no campo da intelectualidade. Se Chico fosse Kardec, a Doutrina Espírita estaria abalada em seus alicerces e os opositores do Espiritismo teriam a oportunidade de enquadrar o codificador como um falido intelectual e a DOUTRINA ESPÍRITA, COMO FICA? OBRA DE UM INTELECTUAL FRACASSADO? Felizmente, poucos espíritas acreditam na hipotética hipótese de ser Chico a reencarnação do codificador, já que sua divulgação desacreditará sobremaneira o Espiritismo.

A Doutrina Espírita está acima de nossas convicções, já que é o Consolador Prometido por Jesus, constituindo “trabalho inspirado e orientado pelas mais elevadas forças espirituais que o nosso mundo já teve a oportunidade de conhecer”, conforme disse “o melhor metro que mediu Kardec’, segundo Emmanuel: o gigante filósofo Herculano Pires (7).

No Espiritismo, somos afortunados porquanto constatamos o que o nosso Querido Mestre exclamou: “Muitos profetas e reis desejaram ver o que o que vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram” (8). Leon Denis disse, com muita felicidade, que “o evento do Espiritismo é ninguém se engane, um dos maiores acontecimentos da história do mundo” (9).

Consideramos, a seguir, mais uma prova, reforçando o assunto em tela: O próprio Chico afirmou veementemente, respondendo à pergunta se seria Kardec reencarnado: “-Não, não sou. (...) digo isto com serenidade. Não sou. Consulto a minha vida psicológica, as minhas tendências. Tudo aquilo que tenho dentro do meu coração é eu. Não tenho nenhuma semelhança com aquele homem corajoso e forte que, em doze anos, deixou dezoito livros maravilhosos” (10).

R. A. Ranieri, grande amigo do seareiro mineiro, tendo inclusive recebido pelo médium a revelação de ter sido seu irmão em existência pretérita, relata, em um dos trechos da carta do Chico endereçada a ele, que o médium lhe disse que Emmanuel lhe denominou de “asno”, acrescentando o guia que “o asno sob a cangalha pesada tem possibilidades de errar menos”. Chico anuiu, concluindo: “é melhor que eu prossiga debaixo de arreios enormes” (11).

Constituem falta de consideração e de respeito à Doutrina afirmar que o valoroso médium é a reencarnação de Kardec com tantas evidências contrárias GRAVES E IMPORTANTES. SE CHICO FOSSE KARDEC, NUNCA EMMANUEL O DENOMINARIA DE ASNO. Inclusive, o guia do médium sempre revelou um respeito enorme ao codificador. Certa feita disse ao Chico que não acreditasse nele se viesse trazer alguma comunicação contrária a Kardec.

O que se conclui a respeito de tantas evidências, argumentações sólidas e muito sérias, muito mais importantes do que o “disse-que-disse” de encarnados e desencarnados fraternos? O que está em xeque é a excelsa Doutrina Espírita.

Chico x Kardec

Em relação às diferenças que existem entre as personalidades de Chico Xavier e Allan Kardec, podemos afirmar que são bem marcantes. Em contato, no Rio, com o querido Chico, na Marieta Gaio, percebemos que não tem desdobramento natural algum com Kardec. Pelo que lemos das obras do codificador e pelos seus biógrafos, são individualidades diferentes. Os relatos dos que conviveram com Chico estão cheios de passionalismo e a Doutrina Espírita é imune a isso. Mesmo assim, são ricos em conteúdo a favor dos nossos argumentos.

Acreditamos que o estimado Chico está situado, na Escala Espírita, como Espírito Benévolo, Quinta Classe da Segunda Ordem, portanto, ainda não desmaterializado e que deva ter experimentado nenhuma ou pouquíssimas encarnações na polaridade masculina. Não pode ter tido uma vivência como Kardec, certamente um Espírito Superior, que ostentou uma personalidade forte e vigorosa, bem situado no sexo de que era portador. De forma alguma, o codificador reencarnaria de novo, na polaridade masculina, ostentando trejeitos femininos marcantes, o qual foi notado por nós e pela esposa, quando nos encontramos pessoalmente com o estimado médium, em nossa cidade.

Polaridade sexual do espírito

Em obra psicografada pelo Chico, o mentor Silas, respondendo a uma pergunta proferida pelo visitante Hilário, acompanhado de André Luiz, assim ensinou: “Considerando-se que o sexo, na essência, é a soma das qualidades passivas ou positivas do campo mental do ser, é natural que o Espírito, acentuadamente feminino, se demore séculos e séculos nas linhas evolutivas da mulher e que o espírito, marcadamente masculino, se detenha por longo tempo nas experiências do homem”. Segundo André Luiz, esses seres ”(...) reencarnam em corpos que lhes não correspondem aos mais recônditos sentimentos” (12).

Emmanuel, afirma que “(...) a individualidade em trânsito, da experiência feminina para a masculina ou vice-versa, ao envergar o casulo físico, demonstrará fatalmente os traços da feminilidade em que terá estagiado por muitos séculos, em que pese ao corpo de formação masculina que o segregue, verificando-se análogo processo com referência à mulher nas mesmas circunstâncias (13).

O Chico, espírito acentuadamente feminino, reencarnou, naturalmente, por missão, em corpo masculino. Por dever de consciência e respeito ao Espiritismo, que nos exorta ao exercício da racionalidade, da criticidade e do repúdio a qualquer forma de fanatismo, devemos ressaltar que o amado médium, como individualidade imortal, ainda deverá transitar por outras fileiras reencarnatórias na faixa masculina, já que se apresentou, na passada existência, como um ser com mente essencialmente feminina, praticando a castidade construtiva, necessitando de maior vivência e experimentações na polaridade masculina.

Importante, igualmente, observar que o nosso Chico não desejou ser idolatrado. Se realmente o amamos, devemos sempre lhe emitir as melhores vibrações, sabendo de nossa estima e consideração. Certamente, as exteriorizações amorosas, que lhe enviamos, servirão para dar-lhe maior sustento e energia, quando tiver que reencarnar de novo, na polaridade masculina, tendo a bendita chance de poder viver, então, uma personalidade forte e vigorosa, até mesmo contrair matrimônio e, consequentemente, ser responsável pela educação paterna dos filhos.

 

BIBLIOGRAFIA

1.     “Revista Espírita”, Fev. 1859, capítulo: “Escolhos dos Médiuns”;

2.     “O Livro dos Médiuns”, cap. 20, nº. 226, 9ª;

3.     Idem, cap. 20, nº. 226, 10ª;

4.     “O que é o Espiritismo”, “Noções elementares de Espiritismo”, Qualidade dos Médiuns, n. 82;

5.     “No Mundo de Chico Xavier” de Elias Barbosa, IDE, páginas 31e 32;

6.     Programa “Pinga-Fogo 2”, em 21/12/1971;

7.     ”O Espírito e o Tempo”, Herculano Pires;

8.     O Evangelho de Lucas”, Lucas 10:24;

9.     “Depois da Morte”, Léon Denis;

10.  “Diário da Manhã”, de Goiânia-Goiás, 28/08/1988;

11.  “Recordações de Chico Xavier”, R. Ranieri;

12.  “Ação e Reação”, André Luiz, capítulo 15;

13.  “Vida e Sexo”, Emmanuel, cap.21.

 

 

Comentários

  1. Esse talvez seja um dos maiores atavismos no movimento espírita, e que causa mais problemas do que soluções: saber quem foram personalidades em encarnações anteriores. Nisso, acabamos desenvolvendo situações delicadas, como as supostas encarnações de personagens bíblicas, quando, a bem da verdade, muitas delas possam ser personagens criadas.

    Creio que seja sempre importante valorizar a aencarnação atual e procurar produzirmos o melhor, independentemente de o que foram e o que fomos nas anteriores.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.