Pular para o conteúdo principal

EVENTO HISTÓRICO NO MOVIMENTO ESPÍRITA BRASILEIRO

 


Foi realizada, às 14h de 10 de agosto 2019, a Assembleia Geral Extraordinária da Federação Espírita Brasileira, com a presença de 59 pessoas, sendo que 58 aprovaram a alteração no seu Estatuto, retirando o artigo que previa o estudo das obras de J.B. Roustaing, no parágrafo único do Artigo 1. Importante frisar que, em 25 de outubro de 2003, já se pretendia fazer essa alteração, tendo sido interrompida por ação judicial movida pelo Sr. Luciano dos Anjos. O processo transcorreu em vagarosa tramitação, em torno de dezenas de anos, cessando com a causa perdida pelo requerente já desencarnado.

No estatuto da FEB, a indicação do exame e difusão da obra de Roustaing transmitia para os desavisados alguma credibilidade, dando-lhes falsamente o certificado espírita, pois que essa mesma instituição foi responsável por trazer a lume os livros básicos da Doutrina Espírita. Contudo, a leitura atenta de “Os Quatro Evangelhos de Roustaing”, solenemente denominado de “Revelação da Revelação”, mostrava origem verdadeiramente duvidosa, contrariando as assertivas kardecianas, sem concordância e sem lógica, e depreciava, com suas sombrias argumentações, não somente o Mestre, como a todos os seus discípulos e, igualmente, sua mãe, a excelsa Maria.

Lembro-me, quando me adentrei nas fileiras do “Consolador Prometido por Jesus”, vindo do Protestantismo, do primeiro livro que li, intitulado “Elucidações Evangélicas” de Antônio Luiz Sayão. Que descontentamento! Fiquei angustiado porquanto essa obra me foi indicada como leitura específica para quem vinha das romagens evangélicas e se tornava adepto espiritista. Depois de algum tempo, vivenciando decepção e desorientação, um estimado amigo me disse que eu tinha “entrado para o Espiritismo pelas portas do fundo” e deu-me um exemplar de “O Livro dos Espíritos”, alertando-me que agora eu “estava ingressando pelas entradas da frente”.

Com a retirada da obra rustenista do estatuto febiano, a pérfida autenticação espírita foi extirpada, sendo agora o livro apenas rotulado como sempre deveria ser como espiritualista, não tendo mais o cunho espiritista. Assim sendo, ninguém mais será ludibriado no seu alvorecer nas lides do “Espírito da Verdade”, assim como aconteceu comigo.

Corrente rustenista diverge das proposições espíritas

 Certa feita, o ilustre e saudoso confrade Gerson Simões Monteiro solicitou-me uma tarefa de refutação do opúsculo “Por que não sou espírita? ”?”, escrito por um conhecido sacerdote católico, o que me fez escrever o livro “Por que sou espírita? ”?”, da Editora EME de Capivari, São Paulo. Pois bem, o clérigo, em uma de suas infundadas argumentações, relata incongruências a respeito da reencarnação, clamando que os seus adeptos divergem na sua interpretação, alguns considerando ser lei geral, enquanto outros admitem ser punitiva, apenas para espíritos atrasados.

Mais uma vez, constatei, na prática, ser a corrente rustenista causa de confusão, desde que, por ser de origem febeana, certamente, o padre acreditou que a hipótese de a encarnação ser castigo era igualmente de evidência espírita. Agora com a desacreditação da obra de Roustaing pela FEB, com certeza, essa corrente inferior, com suas hipóteses de cunho sombrio, não mais será divulgada e enquadrada como espírita.

Infelizmente, os adeptos pseudossábios rustenistas, jungidos à obsessão por fascinação, presos às teias do anticristo, são propagadores de falsas revelações, as quais, discordando do arsenal doutrinário espiritista, são responsáveis, em uma de suas investidas, pela falta de unidade a respeito do fenômeno da reencarnação, dando sustento a todos os opositores da Doutrina Espírita, como foi o caso do reverendo católico em tela. Em realidade, dentro do contexto kardeciano, não há discordância, em relação ao “nascer de novo” ou a respeito de qualquer outro tema.

A acusação do sacerdote se constituiu, em intensa lição, para os confrades que se mantinham indiferentes em relação à penetração insidiosa de ideias contrárias aos enunciados espíritas. Felizmente, no momento, o rustenismo que já se apresentava morto, acabou de ser sepultado finalmente, o que se constitui, com certeza, em mais uma derrota da falange anticrística, tentando abalar a sólida estrutura kardeciana.

O padre mencionado, em outra arremetida contra a Doutrina Espírita, lança mão de outro pensamento reencarnacionista confuso, acreditando na possibilidade de o espírito dar formação a um animal, o que caracteriza a Metempsicose (encarnação do ser extrafísico em corpo de um bicho). De novo, surge a trevosa corrente rustenista, a qual, além de apontar que criaturas espirituais, dominadas pelo orgulho e formando mundos no universo, são jogadas na Terra, como anjos decaídos, relata, igualmente, que os mesmos dariam vida a animais rastejantes, larvas informes, repugnantes, contendo membros em estado latente e que rastejam ou deslizam no solo, denominados de “criptógamos carnudos”, totalmente em conflito com a ciência, desconhecendo essa obscura espécie.

Anunciando que esses seres animalescos constituídos de espíritos falidos têm como habitat os lírios do campo, os adversários da luz utilizam depreciativamente a imagem poética que o Mestre Jesus empregou durante o Sermão da Montanha e relatado nos evangelhos de Mateus e Lucas: “Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; e eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé? ”?” (1).

 O   Espiritismo colocando os pingos nos “is”

 Segundo a Doutrina Consoladora de Jesus, “o homem não é um anjo decaído, a lamentar a perda de um paraíso imaginário, nem carrega pecado original algum que o estigmatize desde o berço” (2). “Longe de sermos criaturas angélicas, decaídas; longe de havermos habitado um paraíso imaginário, foi com imensa dificuldade que conquistamos o exercício de nossas faculdades, para vencer a natureza” (3); Esses seres “não são criaturas degradadas, mas crianças que crescem” (4); “Todos os espíritos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida corporal” (5). Portanto, a encarnação não se constitui em castigo e, sim, em meio natural para alcançar a evolução espiritual. Afirma, ainda, que para chegar à perfeição, todos os seres extrafísicos “têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal” (6); “Para ganhar experiência é preciso que o ser espiritual conheça o bem e o mal. Eis por que se une ao corpo” (7). Então, a criatura, em não conhecendo o mal nas paragens espirituais, não pode falir. O Espiritismo, também, não advoga a ideia de uma “encarnação regressiva”. A Metempsicose não tem amparo doutrinário: “O espírito não retrogada. O rio não remonta à sua nascente” (8).

A doutrina malsã de Roustaing, a par de ter sido fonte de cisões e divergências, em muitas oportunidades foi confundida com o Espiritismo, trazendo muitos prejuízos à expansão da Doutrina codificada por Kardec. Muitos religiosos, tomando conhecimento das ideias trevosas rustenistas, considerando-as erradamente como espíritas, agrediam um dos postulados básicos da codificação kardeciana, a doutrina reencarnacionista, assim como o prelado já apontado, dizendo: “Como se vê, esta variedade de sentenças manifesta bem que a doutrina da reencarnação carece de base objetiva; é, antes, um postulado fantasioso dos que a professam” (9).

Felizmente, a Assembleia Extraordinária da FEB se constituiu em um evento inesquecível, acarretando paz e trazendo bons ventos, proporcionando a partir de então a certeza de que a corrente infeliz rustenista não pode se arvorar mais como espírita e as suas hipóteses anticrísticas de um Jesus agênere, não constituído de carne como qualquer um de nós, como igualmente da gravidez aparente de Maria, sem a presença de um ser em formação em seu glorioso cadinho uterino, e o nascimento e morte do Mestre Jesus, como atos fictícios, não serão mais confundidos com os postulados verdadeiros da excelsa Doutrina Espírita.

Mais uma vez foram observados e comprovados que o mal é realmente a ausência do bem e que as trevas constituem falta da luz. Retirando o joio que se encontrava nele jungido, o Espiritismo, agora, sem peias, parte para seu glorioso triunfo, a declaração e a exemplificação do “evangelho eterno” para todas as criaturas (10).                          

 

 

 

Bibliografia

 

    Kardec, Allan, “Evangelho Segundo Mateus”, capítulo VI: versículos 28-30;

    Kardec, Allan “A Gênese”, capítulo XI: 67;

    Delanne, Gabriel, “A Evolução Anímica”, III;

    Kardec, Allan, “OESE”, III-8;

    Kardec, Allan, Q. 133 de “OLE”;

    Kardec, Allan, Q. 132 de “OLE”;

    Kardec, Allan, Q. 634 de “OLE”;

    Kardec, Allan, Q. 612 de “OLE”;

    Domingos Nunes Filho, Americo, “Por que sou espírita? ”?”, página 124, editora EME;

    “O Livro do Apocalipse”, 14:6.

 

 

Comentários

  1. Cumprimento o confrade Américo Domingos pela publicação de tamanha vitória obtida pelo movimento espírita brasileiro ao extirpar de suas entranhas esse monstro que por tantos anos tisnou com pinceladas de obsessão grave a Autoridade da Doutrina Espírita através do Controle Universal do ensinamento dos Espíritos (ver Introdução ao O Evangelho Segundo o espiritismo). Roberto Caldas

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

“TUDO O QUE ACONTECER À TERRA, ACONTECERÁ AOS FILHOS DA TERRA.”

    Por Doris Gandres Esta afirmação faz parte da carta que o chefe índio Seattle enviou ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1854! Se não soubéssemos de quem e de quando é essa declaração poder-se-ia dizer que foi escrita hoje, por alguém com bastante lucidez para perceber a interdependência entre tudo e todos. O modo como vimos agindo na nossa relação com a Natureza em geral há muitos séculos, não apenas usando seus recursos, mas abusando, depredando, destruindo mananciais diversos, tem gerado consequências danosas e desastrosas cada vez mais evidentes. Por exemplo, atualmente sabemos que 10 milhões de toneladas de plásticos diversos são jogadas nos oceanos todo ano! E isso sem considerar todas as outras tantas coisas, como redes de pescadores, latas, sapatos etc. e até móveis! Contudo, parece que uma boa parte de nós, sobretudo aqueles que priorizam seus interesses pessoais, não está se dando conta da gravidade do que está acontecendo...

NÃO SÃO IGUAIS

  Por Orson P. Carrara Esse é um detalhe imprescindível da Ciência Espírita. Como acentuou Kardec no item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos: “Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da doutrina que nos transmitiram”, sendo esse destacado no título um deles. Sim, porque esse detalhe influi diretamente na compreensão exata da imortalidade e comunicabilidade dos Espíritos. Aliás, vale dizer ainda que é no início do referido item que o Codificador também destaca: “(...) os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos (...)”.

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

"ANDA COM FÉ EU VOU..."

  “Andá com fé eu vou. Que a fé não costuma faiá” , diz o refrão da música do cantor Gilberto Gil. Narra a carta aos Hebreus que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Cremos que fé é a certeza da aquisição daquilo que se tem como finalidade.

JESUS TEM LADO... ONDE ESTOU?

   Por Jorge Luiz  A Ilusão do Apolitismo e a Inerência da Política Há certo pedantismo de indivíduos que se autodenominam apolíticos como se isso fosse possível. Melhor autoafirmarem-se apartidários, considerando a impossibilidade de se ser apolítico. A questão que leva a esse mal entendido é que parte das pessoas discordam da forma de se fazer política, principalmente pelo fato instrumentalizado da corrupção, que nada tem do abrangente significado de política. A política partidária é considerada quando o indivíduo é filiado a alguma agremiação religiosa, ou a ela se vincula ideologicamente. Quanto ao ser apolítico, pensa-se ser aquele indiferente ou alheio à política, esquecendo-se de que a própria negação da política faz o indivíduo ser político.

A HISTÓRIA DA ÁRVORE GENEROSA

                                                    Para os que acham a árvore masoquista Ontem, em nossa oficina de educação para a vida e para a morte, com o tema A Criança diante da Morte, com Franklin Santana Santos e eu, no Espaço Pampédia, houve uma discussão fecunda sobre um livro famoso e belo: A Árvore Generosa, de Shel Silverstein (Editora Cosac Naify). Bons livros infantis são assim: têm múltiplos alcances, significados, atingem de 8 a 80 anos, porque falam de coisas essenciais e profundas. Houve intensa discordância quanto à mensagem dessa história, sobre a qual já queria escrever há muito. Para situar o leitor que não leu (mas recomendo ler), repasso aqui a sinopse do livro: “’...

FUNDAMENTALISMO AFETA FESTAS JUNINAS

  Por Ana Cláudia Laurindo   O fundamentalismo religioso tenta reconfigurar no Brasil, um país elaborado a partir de projetos de intolerância que grassam em pequenos blocos, mas de maneira contínua, em cada situação cotidiana, e por isso mesmo, tais ações passam despercebidas. Eles estão multiplicando, por isso precisamos conhecer a maneira com estas interferências culturais estão atuando sobre as novas gerações.

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...