Pular para o conteúdo principal

ÁTOMO DIVINO


 Se você, leitor amigo, queimar lenha, observará vários fenômenos, que ocorrem na combustão:

• Chamas – o fogo a se expandir.

• Estalos – a água a ferver.

• Fumaça – o ar a se agitar.

• Cinzas – a terra a absorver.

Teríamos, portanto, quatro elementos primordiais:

Fogo, água, ar e terra.


Essa a teoria de Empédocles (490-430 a.C.), filósofo grego. Concebia que, a partir deles, ocorrem todos os fenômenos físicos e se formam os todos seres da Natureza, na fauna e na flora.
Deu o nome de raízes a esses elementos.
De suas combinações tudo nasceria e pereceria.
Empédocles pode ser considerado um precursor da teoria evolucionista de Charles Darwin (1809-1882), que situa o aparecimento do Homem como a culminância de longa jornada evolutiva.
Teve início com o esfriamento da crosta terrestre e o aparecimento de organismos elementares que se desenvolveram em complexidade ao longo de bilhões de anos, até atingir a complexidade necessária ao aparecimento do homo sapiens.
Para um arranjo melhor de sua teoria, faltou a Empédocles assimilar as idéias de Demócrito (460-370 a.C.), seu contemporâneo, que dizia ser a matéria constituída de microscópicas partículas – os átomos.
Ar, fogo, terra e água seriam arranjos atômicos e não elementos básicos da matéria.


***

Além de estudioso dos fenômenos naturais, Empédocles era uma alma sensível.
Guardava poética visão do Universo.
Imaginava que os quatro elementos combinam-se ou se separam, a partir de duas forças imutáveis – o amor e o ódio.
Representam a convergência e a divergência, o bem e o mal.
A Doutrina Espírita nos oferece uma visão mais realista.
Os fenômenos naturais, mesmo aqueles que implicam em desagregação, como a morte, não se subordinam aos embates de forças antagônicas, agregadoras ou desagregadoras.
Obedecem à regência de leis divinas, segundo os desígnios insondáveis do Criador.
Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec concebe, sob inspiração dos mentores que o assistiam, uma Lei de Destruição que é sinônimo de renovação.
A questão 728 esclarece:

Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e a melhoria dos seres vivos.

Nesse contexto, a única força desagregadora é o ser pensante da Criação, quando pretenda sobrepor-se aos desígnios divinos, enveredando por tortuosos caminhos de rebeldia.
Compromete-se, então, com sentimentos negativos como o ódio, a ambição, a inveja, o ciúme, passíveis de conturbar o ambiente em que se situa e aqueles com quem se relaciona.
Mas, ainda que detenha atilada inteligência e optando por guerrear a obra divina, assumindo a postura de um ser demoníaco, o Espirito jamais supera os limites de sua condição – a criatura diante do Criador, o relativo subordinado ao Absoluto.


***

Os átomos que compõem um pedaço de madeira podem arder em chamas, entrar em ebulição, difundir-se no ar, derramar-se em cinzas na terra, mas permanecerão íntegros em sua essência, aptos a compor outras formas.
Também o Espírito, ainda que se deixe arder em paixão, ferver em desatino, expandir-se em inconseqüência ou reduzir-se à indiferença, jamais perderá sua condição de átomo divino, destinado a brilhar na glória da Criação, sob as bênçãos de Deus.
Como tal, é regido por leis soberanas que disciplinam suas emoções e renovam suas idéias, reajustando seus caminhos e reconduzindo-o aos roteiros do Bem.
Assim, mesmo os seus desatinos acabarão por funcionar em seu próprio benefício, porquanto colherá sempre as consequências de suas iniciativas.
Aprenderá, à custa de sofrimentos e dores, a corrigir seus impulsos, ajustando-se à harmonia do Universo para atingir sua destinação suprema:

Co-participante na obra divina, filho perfeito de Deus!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.