Pular para o conteúdo principal

COMO DIFERENCIAR DELÍRIOS DE ALUCINAÇÕES - FENÔMENOS MEDIÚNICOS - PARTE III




Uma abordagem neurológica dos fenômenos místicos e dos estados alterados da consciência.

O estudioso William Sargant chegou à conclusão de que as semelhanças entre os Estados Alterados de Consciência (EACs) transcendentes por ele observadas apontavam para um sistema cerebral comum, afetado por diferentes manipulações culturalmente específicas. A partir disso, os neurocientistas têm fornecido suporte a esse mecanismo, explicando que existe um circuito neural complexo encontrado nos níveis médios do cérebro dos mamíferos, conhecido como sistema límbico. Esse sistema tem uma variedade de funções emocionais, motivacionais e de memória, além de estar envolvido com as funções de atenção e do despertar. A estimulação elétrica de áreas límbicas em pacientes de neurocirurgia produz intensas alterações da consciência, incluindo aquelas presentes nos estados transcendentes ou místicos.


Alguns tipos de enxaqueca e ataques epiléticos que se originam nas estruturas límbicas do lobo temporal são também capazes de produzir estados dissociativos similares. A ideia de que experiências transcendentes são causadas pela hiperativação das funções normais desse circuito é reforçada pela pesquisa em neurofarmacologia, mostrando que drogas psicodélicas podem alterar a atividade no sistema límbico. E, finalmente, patologias associadas a profundos distúrbios emocionais e alucinações são também conhecidas por envolver anormalidades límbicas.

Após coligir pesquisas em drogas psicodélicas, neuropatologias e várias técnicas comportamentais usadas para alterar a consciência, o neuropsiquiatra Arnold Mandell (1880) comparou seus efeitos com os descritos na tradição mística. Ele mostrou como todas essas manipulações eram capazes de afetar a atividade neural no sistema límbico. Mandell implicou interações especiais entre o septo, hipocampo e amídala como decisivas para a ocorrência de experiências transcendentes. Este circuito pode ser afetado por vários estados patológicos, assim como por estimulação rítmica prolongada, privação sensorial e as três grandes classes de drogas alucinógenas (as que afetam os neurotransmissores serotonina, acetilcolina e as catecolaminas).

Essa abordagem não invalidaria a existência de tais experiências místicas. Ao contrário, Mandell afirma que elas podem acontecer por um mecanismo fisiológico ou fruto da ação de determinadas substâncias químicas. Para o Espiritismo o sistema nervoso em sua totalidade é a expressão mais evoluída do indivíduo e é através dele que o espírito atua controlando as ações do corpo físico. Portanto, toda a ação espiritual teria uma expressão física, como se vê a seguir.


Uma teoria sobre o mecanismo neurofisiológico da mediunidade

Kardec, em “O Livro dos Médiuns”, afirma que a mediunidade seria uma faculdade orgânica, ou seja, dependeria de um organismo, sendo que este abarcaria a estrutura do ser encarnado, incluindo toda bagagem física, especializada para tal, e dos elementos perispirituais, que capacitam o homem a viver no intercâmbio entre o mundo material e o espiritual. Como já foi citado anteriormente, as estruturas pertencentes ao sistema nervoso são as mais especializadas, além de serem as mais sutis do corpo físico.

Importante ressaltar que, na realidade, os fenômenos mediúnicos se iniciam no corpo espiritual, ou mais precisamente em estruturas menos densas, onde se encontra a manifestação dos pensamentos.

Quanto a essa percepção, vejam-se as colocações de André Luiz, em “Evolução em Dois Mundos”, ao se referir ao surgimento dos rudimentos da mediunidade na Terra:

    “Considerando toda célula em ação por unidade viva, qual motor microscópio, em conexão com a usina mental, é claramente compreensível que todas as agregações celulares emitam radiações e que essas se articulem, através de sinergias funcionais, a se constituírem de recursos, os quais podemos nomear por tecidos de forças”.

Nessa tela eletromagnética circula o pensamento, colorindo-a com as vibrações e imagens de que se constitui, aí exibindo as solicitações e os quadros que improvisa, antes de irradiá-los no rumo dos objetos e das metas que demanda. Nessa conjugação de forças físico-químicas e mentais existem as auras humanas, peculiares a cada indivíduo, em que todos os estados da alma se estampam, com sinais característicos e em que todas as ideias se evidenciam, plasmando telas vivas. A aura é, portanto, a plataforma onipresente em toda comunicação com as rotas alheias e nas atividades de intercâmbio com a vida que rodeiam a criatura. Por essa couraça vibratória, espécie de carapaça fluídica, é que começaram todas as expressões da mediunidade no planeta.

Essa obra de permuta, no entanto, foi iniciada no mundo sem qualquer direção consciente. A intuição foi, por esse motivo, o sistema inicial de intercâmbio.

A tentativa de compreensão dos mecanismos em nível físico leva ao estudo do mecanismo das estruturas cerebrais que são as mais sutis e aprimoradas do ser. Assim, o cérebro e todas as estruturas do sistema nervoso estão intimamente vinculados ao fenômeno mediúnico.

O desenvolvimento da neurociência, apoiado nos mais modernos meios de estudos da atividade neuronal, como a tomografia computadorizada, a ressonância magnética e a tomografia por emissão de pósitrons, tem caminhado para a compreensão da fisiologia cerebral.

Admite-se hoje que a atividade mental seria a resultante de uma ação harmônica de um grupo de estruturas cerebrais que, interagindo, formariam um sistema funcional complexo.

A doutrina espírita tem mostrado que, na realidade, os processos mentais seriam frutos da atividade espiritual com repercussão na estrutura física cerebral; sendo assim, o cérebro seria apenas o instrumento. No entanto, para ocorrer essa integração entre a essência espiritual, sua manifestação e a estrutura física, é necessária a existência de um elemento, que seja intermediário tanto na função e também em sua composição. Esse corpo é chamado espiritual ou perispírito.

    “Esse corpo espiritual é composto de uma substância vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós, assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira” (LE. perg. 93).

Por esse corpo semimaterial, presente também nos desencarnados, ocorreriam as comunicações mediúnicas. A partir das informações da neurologia e dos ensinos dos espíritos, busca-se maior compreensão do fenômeno mediúnico e da participação de estruturas e áreas cerebrais em sua expressão.

Todo o material apresentado aqui é fruto de síntese e compilação de estudos realizados por escritores dos dois planos da vida.

Do ponto de vista anatômico, o sistema nervoso é constituído pelos sistemas nervoso central e periférico. O periférico é constituído por nervos e gânglios. Os nervos são cordões esbranquiçados que ligam o sistema nervoso central (SNC) aos órgãos periféricos. Quando a sua origem se dá ao nível do encéfalo, ele é chamado de nervo craniano. Se sua origem ocorre ao nível da medula espinhal, ele é chamado de nervo espinhal. Em alguns nervos podem existir certas dilatações constituídas principalmente de corpos celulares de neurônios, que são os gânglios.

Os nervos funcionam como estações emissoras e receptoras, manipulando a energia mental, projetada ou recolhida pela mente, em ação constante nos domínios da sensação e da ideia, atuando nos demais centros do corpo espiritual e nas zonas fisiológicas que se configuram no veículo somático.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

“TUDO O QUE ACONTECER À TERRA, ACONTECERÁ AOS FILHOS DA TERRA.”

    Por Doris Gandres Esta afirmação faz parte da carta que o chefe índio Seattle enviou ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1854! Se não soubéssemos de quem e de quando é essa declaração poder-se-ia dizer que foi escrita hoje, por alguém com bastante lucidez para perceber a interdependência entre tudo e todos. O modo como vimos agindo na nossa relação com a Natureza em geral há muitos séculos, não apenas usando seus recursos, mas abusando, depredando, destruindo mananciais diversos, tem gerado consequências danosas e desastrosas cada vez mais evidentes. Por exemplo, atualmente sabemos que 10 milhões de toneladas de plásticos diversos são jogadas nos oceanos todo ano! E isso sem considerar todas as outras tantas coisas, como redes de pescadores, latas, sapatos etc. e até móveis! Contudo, parece que uma boa parte de nós, sobretudo aqueles que priorizam seus interesses pessoais, não está se dando conta da gravidade do que está acontecendo...

NÃO SÃO IGUAIS

  Por Orson P. Carrara Esse é um detalhe imprescindível da Ciência Espírita. Como acentuou Kardec no item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos: “Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da doutrina que nos transmitiram”, sendo esse destacado no título um deles. Sim, porque esse detalhe influi diretamente na compreensão exata da imortalidade e comunicabilidade dos Espíritos. Aliás, vale dizer ainda que é no início do referido item que o Codificador também destaca: “(...) os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos (...)”.

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

"ANDA COM FÉ EU VOU..."

  “Andá com fé eu vou. Que a fé não costuma faiá” , diz o refrão da música do cantor Gilberto Gil. Narra a carta aos Hebreus que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Cremos que fé é a certeza da aquisição daquilo que se tem como finalidade.

JESUS TEM LADO... ONDE ESTOU?

   Por Jorge Luiz  A Ilusão do Apolitismo e a Inerência da Política Há certo pedantismo de indivíduos que se autodenominam apolíticos como se isso fosse possível. Melhor autoafirmarem-se apartidários, considerando a impossibilidade de se ser apolítico. A questão que leva a esse mal entendido é que parte das pessoas discordam da forma de se fazer política, principalmente pelo fato instrumentalizado da corrupção, que nada tem do abrangente significado de política. A política partidária é considerada quando o indivíduo é filiado a alguma agremiação religiosa, ou a ela se vincula ideologicamente. Quanto ao ser apolítico, pensa-se ser aquele indiferente ou alheio à política, esquecendo-se de que a própria negação da política faz o indivíduo ser político.

A HISTÓRIA DA ÁRVORE GENEROSA

                                                    Para os que acham a árvore masoquista Ontem, em nossa oficina de educação para a vida e para a morte, com o tema A Criança diante da Morte, com Franklin Santana Santos e eu, no Espaço Pampédia, houve uma discussão fecunda sobre um livro famoso e belo: A Árvore Generosa, de Shel Silverstein (Editora Cosac Naify). Bons livros infantis são assim: têm múltiplos alcances, significados, atingem de 8 a 80 anos, porque falam de coisas essenciais e profundas. Houve intensa discordância quanto à mensagem dessa história, sobre a qual já queria escrever há muito. Para situar o leitor que não leu (mas recomendo ler), repasso aqui a sinopse do livro: “’...

FUNDAMENTALISMO AFETA FESTAS JUNINAS

  Por Ana Cláudia Laurindo   O fundamentalismo religioso tenta reconfigurar no Brasil, um país elaborado a partir de projetos de intolerância que grassam em pequenos blocos, mas de maneira contínua, em cada situação cotidiana, e por isso mesmo, tais ações passam despercebidas. Eles estão multiplicando, por isso precisamos conhecer a maneira com estas interferências culturais estão atuando sobre as novas gerações.

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...