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"MEA CULPA" DE UMA PALESTRANTE ESPÍRITA





  
Com o aprofundar das reflexões e o emergir das críticas nós vamos percebendo que durante muito tempo nos deixamos conduzir por indutos moralistas, em proporções desmedidas, deixando escorrer neste caldo outros vieses de informações e orientações.

Em verdade flutuamos entre convicções repassadas. Repassamos as mesmas rotas de convicções. Oh quanto arrependimento do dito que não volta mais!


Falo das palestras que dei em casas espíritas, repetindo orientações de cunho religioso e limitado, quando poderia ter contribuído de maneira mais racional para o amparo do vulnerável, se tivesse seguido as linhas da razão.

Sim, boa vontade nem sempre basta! Leituras sem análise crítica, pode ser um perigo quando a interpretação vem de cima para baixo, sem admitir diálogo.

Quantos impulsos contidos pelo temor das obsessões! Quantas angústia levadas para a cama, para não perturbar o ambiente! Oh Deus, quanta vezes me deixei ser papel carbono e endossei tabus?!

Temas delicados como aborto e suicídio, não deveriam ser abordados sem antes passarem pelo crivo das análises psicossociais; hoje percebo a vinculação entre eles e políticas públicas, e somente recordo das condicionantes de culpabilização dos agentes, como se nada mais existisse no entorno.

Quantas temáticas mais sofreram através das nossas palestras, a contaminação do olhar condenatório, que escondia ódio por baixo da retina, e institucionalizou o discurso em nome da fé?

Sim, a reforma íntima está em curso. Porque é dentro de mim mesma que descubro os enganos, as falácias, os enfeites discursivos que foram capazes de infantilizar minhas crenças, e através da oralidade, difundir o equívoco sem perceber que o fazia.

Pediria perdão aos que me escutaram, e de coração aberto aceitaram as falas institucionalizadas de outrora, carregadas de acessórios inúteis ao conhecimento mas oportunos para a manutenção estrutural arcaica.

Por ora me retrato diante da consciência e partilho com demais companheiras de jornada espírita o amontoado de velharias que a “reforma íntima” retirou do meu olhar, quando assumi o amor real.

Aborto e suicídio precisam ser abordados sem interferência das paixões. É hora de vestir a razão e nos ajudar mutuamente, de maneira honesta. O amor está maduro.

Comentários

  1. Há pouco tempo, fiz essa mesma autocrítica. Muito bom. JORGE LUIZ

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  2. Repito o que em minha fala já se tornou jargão, como se fosse disco arranhado( a era dos disco/pizzas). Precisamos cada dia perceber que é importante denunciar o delito sem que viremos as costas aos delinquentes (como gostaríamos de ser tratados quando delinquíssemos). As nossas falas estão repletas de juízo de valor, que jamais nos cabem. As situações não são destituídas de contexto e no contexto que os Orientadores da Codificação nos ensinam que aos "olhos de Deus" uma coisa é uma coisa outra coisa é outra coisa dependendo de uma série de outras coisas que fogem de nossa compreensão quando tratamos da vida do outro (desculpem a frase que atribui aos Orientadores, mas acho que vcs entenderam o senso). Roberto Caldas

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