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PMS QUE ATUARAM DURANTE ATAQUES DO PCC PARTICIPAM DE ESTUDOS SOBRE TRAUMA







O áudio tem só 30 segundos, mas elevou a frequência cardíaca do cabo Victor. Em meio a bips, sirenes e disparos de revólver, a gravação traz chamadas à Central de Operações da Polícia Militar de São Paulo. “Brevidade, brevidade, Copom. Bre-vi-da-de!”, exige um oficial em uma delas. “Calma, companheiro. Temos viaturas aí pela rua sem saída”, responde a central. “Brevidade, brevida-de…”, insiste o policial – até sua voz se esvair.

O cabo Victor Augusto Carvalho Júnior, de 44 anos, do 16.º Batalhão, do Butantã, zona oeste, chorou ao ouvir a gravação com vozes de colegas pedindo apoio e sendo mortos – durante a onda de ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), no Estado e interior de São Paulo, entre 12 e 23 de maio de 2006, quando 26 PMs morreram. Imagens do seu cérebro, no momento em que escutava o áudio, revelaram que tudo o que ele sentia era medo.


O oficial foi um dos 97 voluntários do estudo sobre estresse pós-traumático Policiais Militares sob Ataque – Implicâncias da Resiliência, divulgado em junho no Journal of Psychiatric Research, publicação internacional sobre saúde mental. Feita com PMs que viveram situações de risco durante a ofensiva e até um mês depois do fim dos ataques, a pesquisa comparou o cérebro daqueles que desenvolveram o transtorno e fizeram terapia com o daqueles que superaram o trauma sozinhos.

“Foi uma chance única de investigar uma amostra homogênea. Em geral, estudam-se casos de diferentes situações e épocas, como acidente ou abuso sexual”, afirma o psicólogo clínico Júlio Peres, autor do estudo e especialista em trauma pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O 3.º sargento Marcio Rivarola Davanzo, de 35 anos, da Diretoria de Apoio Logístico da PM, também sentiu medo ao escutar o áudio. No primeiro exame, três meses após os ataques, a região de seu cérebro que registrou mais atividade foi a amígdala, ligada ao temor – assim como no cabo Victor. Mas com o 2.º sargento Francisco Carlos Ranulpho, de 41 anos, do 41.º Batalhão (Santo André, na Grande São Paulo), foi diferente: ele teve o córtex médio pré-frontal ativado, área ligada à capacidade de dar significado ao que ocorre. Ou seja, ele já havia superado.

“Fizemos uma peneira e chegamos a 36 policiais, divididos em três grupos de 12. O cabo Victor ficou no de controle (aguardando terapia), o sargento Rivarola, no que teve tratamento imediato e o sargento Ranulpho, no resiliente (superação espontânea)”, explica o capitão Leandro Gomes Santana, do Centro de Apoio Social (CAS) da PM e psicólogo clínico coautor do estudo. Quarenta dias depois, quem fez psicoterapia de exposição e reestruturação cognitiva – não tinha mais o transtorno, quem ficou em lista piorou e os resilientes permaneceram iguais.

“Todo mundo acha que o policial é uma máquina preparada para resolver problema e esquece que é um ser humano normal”, diz o sargento Rivarola. “O nosso nível de estresse é altíssimo.”

Nenhum dos três PMs presenciou a morte de colegas frente o PCC – como outros do estudo, que tiveram memórias traumáticas em relação a cheiro de sangue, por exemplo. Mas é como se tivessem. “É um irmão de farda, senti cada morte”, diz o cabo Victor, com aprovação dos demais.

Agora, a experiência dos PMs tem servido para avançar as pesquisas sobre trauma e superação. “Não havia um estudo que mostrasse as áreas cerebrais envolvidas na resiliência”, diz Peres. Na corporação, ela pode ampliar o leque do programa de apoio social da PM. “A ideia é aplicar o que foi aprendido”, diz o capitão Leandro, do CAS.

“Assim que soubemos que o estudo ajudaria outras pessoas, quisemos participar”, resume o sargento Ranulpho.

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