Pular para o conteúdo principal

IGNORÂNCIA RELIGOSA - INTOLERÂNCIA RELIGOSA NO RIO DE JANEIRO


 



 É inconcebível que, ainda em nosso tempo, pessoas que se dizem religiosas pratiquem atos de vandalismo contra os que não comungam de sua fé, agindo com violência. Os alvos preferidos desses fanáticos religiosos são os terreiros de umbanda e candomblé, assim como os centros espíritas. Casos de ataques a umbandistas e candomblecistas têm sido frequentes no Rio, principalmente na Baixada Fluminense, predominando no município de Nova Iguaçu.

Até hoje, os profitentes da Doutrina do Consolador Prometido, codificada por um magnânimo cientista francês do século XIX, Allan Kardec, lembram, com tristeza, do apedrejamento do “Núcleo Espírita Cristo Consolador”, que estava situado no bairro da Abolição, na cidade do Rio de Janeiro.


Agora estão descarregando sua fúria principalmente contra os candomblecistas, o que está gerando uma ardorosa reação da sociedade, unindo-se os religiosos de todas as crenças, indignados, diante da marcante intolerância demonstrada por grupos inteiramente aprisionados pela fascinação obsessiva.

BOX 1 - Desrespeito à Constituição Brasileira.

Infelizmente, os religiosos intolerantes, utilizando de violência, não respeitando a crença alheia, agridem o semelhante por ter uma religião ou crença diferente, maculando a Constituição Brasileira, onde no Art. 5º está estampado que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, liberdade, igualdade, segurança e a propriedade, nos termos seguintes: IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.

No Brasil, a intolerância religiosa é um crime de ódio, classificado como inafiançável e imprescritível. A pena para os culpados varia entre 1 a 3 anos de prisão, mais o pagamento de multa.



BOX 2 - Jornais e TV noticiaram as agressões.

A imprensa carioca revelou que, no último ano, foram apontados, através do Disque 100, 79 denúncias de casos de intolerância religiosa no Estado. Segundo a Secretaria de Segurança, comparando-se os fatos com os ocorridos no ano passado, o número representa um crescimento de 119%.

Os jornais revelam a possibilidade da participação de traficantes nos ataques, enquanto o secretário estadual de Direitos Humanos, Átila Nunes, acredita que "milícias religiosas podem estar por trás dos ataques”.

Já se passaram dois anos do episódio sofrido pela menina Kayllane Campos, que, aos onze anos de idade, levou uma pedrada na cabeça quando deixava o seu local de trabalho religioso, no bairro Vila da Penha. A jovem chegou a desmaiar e perder momentaneamente a memória. A imprensa noticiou que testemunhas narraram que ela foi agredida por religiosos cruéis. A ocorrência foi registrada na Polícia como lesão corporal e prática de discriminação religiosa.

Um curta-metragem que retrata a agressividade contra a menina candomblecista foi lançado pela TV Cultura e é voltado para o público infanto-juvenil, exatamente a faixa de idade propícia à conscientização da nefasta intolerância religiosa, ferindo a dignidade alheia.

Em 17 de setembro/2017, na orla de Copacabana, Zona Sul do Rio, representantes de várias religiões se reuniram e fizeram uma caminhada, protestando contra o preconceito e pedindo punição rigorosa para os infelizes agressores.

BOX 3  -  O que ensina o Evangelho do Mestre Jesus?

É muito difícil acreditar que pessoas que acreditam em Deus e afirmam ser seguidores do Cristo estejam participando desses atos violentos. O Messias exortou a humanidade à prática do amor, clamando: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mateus 5:5). “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9). Igualmente disse: “Todo aquele que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento” (Mateus 5:22) e “Fazei aos homens o que queirais que vos façam” (Mateus 7:12).

Digna de consideração a passagem evangélica na qual o Mestre repudia a presunção religiosa e exalta a tolerância, quando o apóstolo João relata que proibira um homem de trabalhar pela causa de Jesus, porquanto não fazia parte da equipe de discípulos. Pois bem, mesmo sendo integrante de outro grupo, o Cristo repreendeu o discípulo amado (Lucas 9:49-50). Certa feita, alguns mensageiros do Mestre foram expulsos de uma aldeia de samaritanos e desejavam revidar a agressão e Jesus não consentiu, chamando-os à atenção (Lucas 9:52-56).

É digno de observação que os samaritanos eram desprezados pelos judeus ortodoxos, os quais tinham repugnância em manter relações sociais e religiosas com os habitantes do distrito de Samaria, na Palestina Central. Estes sofreram miscigenação com os assírios e assimilaram cultos idólatras, misturando-os com a crença a Jeová. A adversidade era tão intensa que, no ano de 129 A.C., os judeus destruíram o templo samaritano no monte Gerizim.

Em que pese serem os samaritanos renegados pelos judeus, o excelso Rabi da Galileia os considerava como irmãos. Inclusive, não se furtava a visitá-los. A maior prova da tolerância e do amor que Jesus devotava aos excluídos está comprovada na edificante Parábola do Bom Samaritano, na qual o Mestre cita, exatamente, um samaritano como modelo de amor ao próximo em seu diálogo com doutor da lei, colocado bem acima de um sacerdote e de um levita.

Apesar da presença religiosa fanática e intolerante, maculando o Cristianismo, o nosso amado Jesus permanece intocável e transparente em seus profundos e sublimes ensinamentos. Assim, como procedia o Mestre, nós, espíritas, devemos sempre e em todas as ocasiões, perdoar a esses irmãos equivocados que, ontem e hoje, ainda agridem os seus semelhantes.

Com as oportunidades reencarnatórias, “o nascer de novo”, concedido a toda a humanidade, certamente suas condutas violentas sofrerão um processo natural de mudança e avanço, desde que serão sacudidos, após o fenômeno natural da morte, já retornados à Pátria Espiritual, com as palavras do Cristo, ecoando dentro de si: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7:21-23).

“Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo”, enfatizou Jesus, em Mateus 22:37-39.

Infelizmente, mesmo após o Mestre Jesus, há mais de dois mil anos, ter afirmado que está a nossa espera, fazer morada em nós, esses irmãos violentos ainda estão sem condições vibratórias de poder abrir as portas dos seus corações para deixar o magnânimo Cristo entrar.

Respeitemos à crença alheia. Salve a diversidade religiosa!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

SOCIALISMO E ESPIRITISMO: Uma revista espírita

“O homem é livre na medida em que coloca seus atos em harmonia com as leis universais. Para reinar a ordem social, o Espiritismo, o Socialismo e o Cristianismo devem dar-se nas mãos; do Espiritismo pode nascer o Socialismo idealista.” ( Arthur Conan Doyle) Allan Kardec ao elaborar os princípios da unidade tinha em mente que os espíritas fossem capazes de tecer uma teia social espírita , de base morfológica e que daria suporte doutrinário para as Instituições operarem as transformações necessárias ao homem. A unidade de princípios calcada na filosofia social espírita daria a liga necessária à elasticidade e resistência aos laços que devem unir os espíritas no seio dos ideais do socialismo-cristão. A opção por um “espiritismo religioso” fundado pelo roustainguismo de Bezerra Menezes, através da Federação Espírita Brasileira, e do ranço católico de Luiz de Olympio Telles de Menezes, na Bahia, sufocou no Brasil o vetor socialista-cristão da Doutrina Espírita. Telles, ao ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ESPIRITISMO E POLÍTICA¹

  Coragem, coragem Se o que você quer é aquilo que pensa e faz Coragem, coragem Eu sei que você pode mais (Por quem os sinos dobram. Raul Seixas)                  A leitura superficial de uma obra tão vasta e densa como é a obra espírita, deixada por Allan Kardec, resulta, muitas vezes, em interpretações limitadas ou, até mesmo, equivocadas. É por isso que inicio fazendo um chamado, a todos os presentes, para que se debrucem sobre as obras que fundamentam a Doutrina Espírita, através de um estudo contínuo e sincero.

O BRASIL CÍNICO: A “FESTA POBRE” E O PATRIMONIALISMO NA CANÇÃO DE CAZUZA

  Por Jorge Luiz “Não me convidaram/Pra esta festa pobre/Que os homens armaram/Pra me convencer/A pagar sem ver/Toda essa droga/Que já vem malhada/Antes de eu nascer/(...)/Brasil/Mostra a tua cara/Quero ver quem paga/Pra gente ficar assim/Brasil/Qual é o teu negócio/O nome do teu sócio/Confia em mim.”   “ A ‘ Festa Pobre ’ e os Sócios Ocultos: Uma Análise da Canção ‘ Brasil ’”             Os verso s acima são da música Brasil , composta em 1988 por Cazuza, período da redemocratização do Brasil, notabilizando-se na voz de Gal Costa. A música foi tema da novela Vale Tudo (1988), atualmente exibida em remake.             A festa “pobre” citada na realidade ocorreu, realizada por aqueles que se convencionou chamar “mercado”,   para se discutir um novo plano financeiro, para conter a inflação galopante que assolava a Nação. Por trás da ironia da pobreza, re...

TRAPALHADAS "ESPÍRITAS" - ROLAM AS PEDRAS

  Por Marcelo Teixeira Pensei muito antes de escrever as linhas a seguir. Fiquei com receio de ser levado à conta de um arrogante fazendo troça da fé alheia. Minha intenção não é essa. Muito do que vou narrar neste e nos próximos episódios talvez soe engraçado. Meu objetivo, no entanto, é chamar atenção para a necessidade de estudarmos Kardec. Alguns locais e situações que citarei não se dizem espíritas, mas espiritualistas ou ecléticos. Por isso, é importante que eu diga que também não estou dizendo que eles estão errados e que o movimento espírita, do qual faço parte, é que está certo. Seria muita presunção de minha parte. Mesmo porque, pelo que me foi passado, todos primam pela boa intenção. E isso é o que vale.

O ESPIRITISMO É PROGRESSISTA

  “O Espiritismo conduz precisamente ao fim que se propõe todos os homens de progresso. É, pois, impossível que, mesmo sem se conhecer, eles não se encontrem em certos pontos e que, quando se conhecerem, não se deem - a mão para marchar, na mesma rota ao encontro de seus inimigos comuns: os preconceitos sociais, a rotina, o fanatismo, a intolerância e a ignorância.”   Revista Espírita – junho de 1868, (Kardec, 2018), p.174   Viver o Espiritismo sem uma perspectiva social, seria desprezar aquilo que de mais rico e produtivo por ele nos é ofertado. As relações que a Doutrina Espírita estabelece com as questões sociais e as ciências humanas, nos faculta, nos muni de conhecimentos, condições e recursos para atravessarmos as nossas encarnações como Espíritos mais atuantes com o mundo social ao qual fazemos parte.

É HORA DE ESPERANÇARMOS!

    Pé de mamão rompe concreto e brota em paredão de viaduto no DF (fonte g1)   Por Alexandre Júnior Precisamos realmente compreender o que significa este momento e o quanto é importante refletirmos sobre o resultado das urnas. Não é momento de desespero e sim de validarmos o esperançar! A História do Brasil é feita de invasão, colonização, escravização, exploração e morte. Seria ingenuidade nossa imaginarmos que este tipo de política não exerce influência na formação do nosso povo.

A HISTÓRIA DA ÁRVORE GENEROSA

                                                    Para os que acham a árvore masoquista Ontem, em nossa oficina de educação para a vida e para a morte, com o tema A Criança diante da Morte, com Franklin Santana Santos e eu, no Espaço Pampédia, houve uma discussão fecunda sobre um livro famoso e belo: A Árvore Generosa, de Shel Silverstein (Editora Cosac Naify). Bons livros infantis são assim: têm múltiplos alcances, significados, atingem de 8 a 80 anos, porque falam de coisas essenciais e profundas. Houve intensa discordância quanto à mensagem dessa história, sobre a qual já queria escrever há muito. Para situar o leitor que não leu (mas recomendo ler), repasso aqui a sinopse do livro: “’...