sábado, 1 de julho de 2017

FILÉ OU OSSO? ESTÁ SERVIDO?¹



           
 
             É mais eficiente dez pessoas fazerem algo por uma, ou uma pessoa fazer por dez? Eis aí uma pergunta de resposta fácil, por menor que seja o senso de quem responde. Está consagrado que a união faz a força e se a equipe assume eventual baixa pessoal é possível permanecer na progressão que todos desejam. O complicado é quando nove desfazem para apenas um fazer. Nesse caso o caos e as controvérsias vão surgir como cenário de convivência.
          As considerações servem para o mundo dos relacionamentos materiais, mas se aplicam também aos propósitos da existência que extrapola à existência única. Ambas as perspectivas revelam que não há osso sem filé tampouco o filé independente do osso. Se alguém está provando do filé é provável que já tenha roído ou roerá o osso. Se ao contrário experimenta a dureza do osso certamente terá comido ou comerá o filé.

Na existência corporal pode até ser que alguns espertos avancem sobre o filé considerando que o osso cabe apenas aos outros, são aqueles que se assomam de qualidades que alimentam a ambição e o egoísmo principalmente, e costumam julgar as suas necessidades e vontades acima de todos que estejam ao lado. Esses costumam quebrar sem consertar, desarrumar e deixar quieto, ocupar espaços deixando outros à míngua. São os espertos. Usam a falsa premissa de privilégios que não conquistaram, apenas impõem a sua preguiça e falta de generosidade para cooperar com o espaço em que vivem. Podem até viver assim todo o tempo e levarem consigo a ideia que se deram bem. Passaram à filé enquanto distribuíam os ossos àqueles que os acompanhavam de forma obsequiosa.
Na existência espiritual, no entanto as coisas não se passam de forma tão superficial. Lá osso é osso, filé é filé. Tem que merecer. Não adianta negar-se e fechar os olhos, a consciência continua vendo e sendo vista. Cada um vai habitar o espaço que conquistou. Os cúmplices vão criar o ambiente mental compatível à vibração que criaram, da mesma forma os amigos. Constatar os enganos que a existência no corpo permitiu, depois de passada a sensação de frustração e desvalia, traz a necessidade de elaboração de novas metas para uma próxima encarnação. Se houver comido antecipado todo o filé precisa aceitar os quilos de osso que se negou a roer sob a pretensa ilusão de que cabia aos outros essa parte. Se houver experienciado o sabor da dureza do osso com a tranquila disposição de quem aguarda de forma otimista o abraço com a lei de retorno, dessa vez poderá provar do sabor do filé.
Importa que não haja enganos. Cada um faz para si, até mesmo aquilo que julgue fazer ao outro. Afinal de contas é na convivência que aprendemos os caminhos da evolução íntima. Não há cobrança externa que seja mais eficaz que o assédio da consciência, espaço de vivência individual impossível de ser invadido, certamente a maior das fortalezas. É nessa consciência que operamos na construção de cada dia e em consequência na elaboração de cada passo, cuja multiplicação projeta o caminho em que seguimos. Resta-nos a sabedoria de dosar o osso com o filé, cientes de que não é sem custo que cada situação nos alcança. Provavelmente terá sido por isso que Jesus nos ensinava que o riso e o choro têm uma significação importante na preparação do Reino de Deus. Rir e chorar, tudo faz parte, são o osso e o filé que tratamos aqui. Como é que estamos cultivando essas possibilidades em nossas vidas?      

¹ editorial do programa Antena Espírita de 25.06.2017


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