quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

ANTE O NATAL







1 – Tradicionalmente, evoca-se no Natal a fraternidade, apresentando-se a mensagem de Jesus como gloriosa convocação à edificação de uma sociedade solidária. Não obstante, estamos longe de semelhante realização. Por quê?
                                   A mensagem de Jesus ainda é, para a maioria dos homens, uma bela história que não se cansam de apreciar, particularmente o comovente episódio da manjedoura. Raros percebem tratar-se, sobretudo, de um roteiro de renovação para a Humanidade.


2 –    O que está faltando para a vivência do Evangelho?
                                   Usando um termo atual, falta-nos empatia. Segundo o Aurélio, é a tendência para sentir o que sentiria caso se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa. É à nossa insensibilidade que devemos debitar o prodígio de convivermos numa boa com a miséria da periferia, com os indigentes dos hospitais, com a carência das crianças de rua, como se tudo isso fizesse parte de um mundo distante, e não da cidade onde moramos, da comunidade onde vivemos.

3 –    Qual o termo equivalente no Evangelho?
                                   É a solidariedade, que se exprime na compaixão pelas misérias alheias. Quem não se compadece, não se envolve, não se empenha, não se dispõe àquela doação permanente de seu tempo, de sua vida, em favor dos necessitados de todos os matizes, onde está a força maior do Evangelho.

4 –    O Evangelho estaria mais na cabeça das pessoas do que no coração?
                                   Exatamente. Sabemos que a miséria deve ser combatida. É preciso socorrer o necessitado, alimentar o faminto, educar o analfabeto… Talvez até contribuamos com uma parcela de nossos recursos, de nosso tempo. Não obstante, sem solidariedade, o sentir a dor do outro, o fazemos em proporção ínfima diante do que somos capazes. Um mentor espiritual costumava nos dizer que, no esforço do Evangelho, o que fazemos está sempre muito distante do que podemos fazer.
5 –    Madre Teresa de Calcutá (1910-1997) seria um exemplo dessa empatia misericordiosa?
                                   Sem dúvida! Foi por senti-la que dedicou a vida aos sofredores de todos os matizes, lamentando ser o seu esforço uma gota d’água no oceano das misérias humanas. Num mundo orientado pelo egoísmo, Madre Teresa é reverenciada por tratar-se do espantoso fenômeno de uma mulher decidida a vivenciar em plenitude o Evangelho e, por isso, dedicada integralmente ao próximo. Certa feita um homem, vendo-a banhar um leproso, disse-lhe que nem por um milhão de dólares faria aquilo, ao que ela respondeu: eu também não; só por amor se pode dar banho num leproso.

6 –    O voto de pobreza, o total despojamento em relação aos bens materiais, como vemos em Madre Teresa, seria o caminho para essa empatia misericordiosa?
                                   Não necessariamente. Não é pecado ter dinheiro, bens materiais. Se o homem servir-se da riqueza, sem se tornar seu servo, poderá realizar prodígios em favor de multidões carentes.

7 –    Poderia dar um exemplo?
                                   A princesa Diana (1961-1997), cuja morte comoveu o mundo, foi dotada dessa empatia. Mais de cem associações assistenciais, cujos representantes foram convidados para as cerimônias que precederam seu sepultamento, testemunham que ela exercitou largamente a solidariedade. As imagens mais emocionantes, imorredouras na memória popular, são aquelas em que ela aparece abraçando aidéticos, mutilados de guerra, crianças e velhos, com aquela espontaneidade própria das pessoas solidárias.

8 –    Tendo em vista o grande movimento desenvolvido pelas entidades espíritas no campo social, podemos dizer que os espíritas são solidários?
                                   Caminhamos nessa direção, orientados pela Doutrina Espírita. Estamos conscientes de que é preciso fazer todo bem ao semelhante, como recomendava Jesus. O empenho de servir, ainda que por mera consciência de dever, é a antessala da solidariedade.

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