Um dos maiores temores do ser humano é o espectro
da morte. Ela nos foi apresentada, desde sempre, como o fim definitivo de uma
vida, após o que, tudo é mistério e só Deus é a Salvação.
A tradição nos ensinou que a vida, uma só,
nos foi dada por Deus e a ele cabe retirá-la, quando lhe aprouver. E mais que,
três são os destinos que nos esperam depois do decesso: o céu, o inferno ou o
purgatório. O céu para aqueles que levarem uma vida absolutamente virtuosa, sem
pecados ou destes perdoados e absolvidos, após confessar-se plena e
sinceramente arrependidos, o inferno para os que caírem em pecados mortais, não
arrependidos até o momento da morte e o purgatório para os que cometem pecados
veniais, estes com a esperança de chegarem ao céu após o sofrimento necessário
à depuração. A fé e a oração seriam os recursos a serem utilizados para evitar
o pecado ou dele se arrepender e alcançar a salvação.
A certeza de uma vida futura nos foi dada,
primordialmente, por aquele que foi o maior dos Profetas que habitaram entre
nós, Jesus de Nazaré, quando disse: “...Meu
Reino não é deste mundo”.... “eu não nasci nem vim a este mundo senão para dar
testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve e minha voz “(João,
cap. XVIII, 33-37).
Por estas palavras, Jesus se refere
claramente à vida futura, que ele
apresenta, em todas as circunstâncias, como o fim a que se destina a humanidade
e como devendo ser o objeto das principais preocupações do homem sobre a Terra.
Reforça essa convicção quando nos consola, dizendo: “Não se turbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim – Há
muitas moradas na casa do meu pai. Se assim não fosse eu vo-lo teria dito, pois
vou preparar-vos o lugar. E depois que eu me for, e vos aparelhar o lugar,
virei outra vez e tomar-vos-ei para mim, para que lá onde estiver, estejais vós
também”(João XIV: 1 -3).
Mas o que de nós morre e o que transcende ?
Morre o corpo e eleva-se a alma, aprendemos. Mas o que é a alma ? Qual a sua
origem ?
A essas questões, responde a Doutrina dos
Espíritos, quando assegura que somos uma essência divina ou princípio
inteligente, eternos, criados simples e ignorantes e destinados a progredir,
tornando-nos co-criadores. No homem, esse princípio inteligente se tornou
Espírito e tem origem no Plano Espiritual, para onde se destina a cada
desencarnação. Sim, porque sendo eterno o Espírito, há que encarnar múltiplas
vezes, já que o corpo físico que nos acolhe não é eterno. E a Alma não é outra senão
o Espírito, quando encarnado, como entende o Codificador, ao afirmar que ela: volta a ser Espírito, quer dizer, retorna ao
mundo dos Espíritos, que deixou momentaneamente”(Q. 149 do L.E.).
O Espírito não perde, jamais, a sua
individualidade. Sem um corpo material, “ela
tem ainda um fluido que lhe é próprio, tomado da atmosfera do seu planeta e que
representa a aparência de sua última encarnação” e que se chama “períspirito”.
Sendo certo que a Alma nada leva deste mundo, senão a lembrança e o desejo de ir para um mundo
melhor, essa lembrança é cheia de doçura ou de amargura, segundo o emprego que
fez da vida. Quanto mais pura, mais compreende a futilidade do que deixa sobre
a Terra.
À opinião dos que entendem que após a morte a
Alma retorna ao todo universal, respondem os Espíritos auxiliares da
Codificação que formando o conjunto dos Espíritos um todo, todo um
mundo, quando estamos numa Assembleia, somos parte integrante dessa assembleia
e, todavia temos sempre a nossa individualidade.
São irrefutáveis as provas dessa
individualidade, nas comunicações que obtemos. E nos advertem os Luminares da
Codificação que “se não fôssemos cegos,
veríamos; se não fôssemos surdos, ouviríamos, pois, frequentemente uma voz nos
fala, revelando a existência de um ser fora de nós”.
E Alan Kardec, o iluminado Codificador da
Doutrina Espírita, ainda comenta: “Aqueles
que pensam que com a morte a alma retorna ao todo universal, estão errados se
entendem com isso que, semelhante a uma gota d’água que cai no Oceano, ela aí perde
a sua individualidade; eles estão certos se entendem pelo todo universal o
conjunto dos seres incorpóreos do qual cada alma ou Espírito é um elemento.
Se
as almas estivessem confundidas nas massas, não teriam senão as qualidades do
conjunto e nada as distinguiria uma das outras. Elas não teriam nem
inteligência nem qualidades próprias, ao passo que, em todas as comunicações,
elas acusam a consciência do seu eu e
uma vontade distinta. A infinita diversidade que apresentam durante todas as
comunicações é a consequência mesma das individualidades. Se não houvesse, após
a morte, senão isto que chamam o grande Todo, absorvendo todas as
individualidades, este todo seria uniforme e, desta maneira, todas as
comunicações que se recebesse do mundo invisível, seriam idênticas. Uma vez que
ai se encontram seres bons e outros maus, sábios e ignorantes, felizes e
infelizes, alegres e tristes, levianos e sérios, etc, é evidente que são seres
distintos. A individualidade se mostra mais evidente quando esses seres provam
sua identidade por sinais incontestáveis, por detalhes pessoais relativos à sua
vida terrestre e que podem ser constatados. Ela não pode ser colocada em dúvida
quando se mostram visíveis nas aparições. A individualidade da alma nos era
ensinada em teoria como um artigo de fé; o Espiritismo a torna patente e, de
certo modo, material”.
A vida eterna é a vida do Espírito, que é
eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma
retorna à vida eterna. Aqueles que atingiram a perfeição e não têm mais provas
a suportar, teriam a “felicidade eterna”.
É a desinformação sobre a continuidade da
vida no Plano espiritual que produz o temor
da morte, uma vez que como ensina a Doutrina Espírita: “... a existência terrena é transitória e
passageira, uma espécie de morte, se comparada ao esplendor e à atividade da
vida espiritual. O corpo: é uma vestimenta grosseira, que envolve
temporariamente o Espírito, verdadeira cadeia que o prende à gleba terrena, e
da qual ele se sente feliz em libertar-se (ESSE: Cap. XXIII, 8).
Durante o fenômeno da morte do corpo físico, “...o períspirito se desprende, molécula a
molécula, conforme se unira (na reencarnação) e ao espírito é restituída a
liberdade. Assim, não é a partida do espírito que causa a morte do corpo; esta
é que determina a partida do espírito...” (A Gênese – Allan Kardec – Cap.
XI, 18).
A desencarnação, conforme terminologia
espírita, pode apresentar alguns mistérios, quase sempre transmitidos pelas
religiões ou pela educação que nos foi transmitida, embora seja um fenômeno
natural e inexorável. Há muitas superstições, fantasias e ausência de
informações sobre a morte do corpo físico, causando temores e mesmo revolta e
desespero, em algumas situações.
Dois fatores básicos, todavia, estão relacionados
com o temor da morte: a ignorância sobre a vida após a morte e processos de
culpa ou remorso em virtude da lembrança dos atos cometidos durante a
existência física.
Conclui-se, de todo o exposto, que a morte
não existe, não há perdição eterna, pois o inferno não existe, mas repetidas
provas na carne, até quando nos reste traços de imperfeição e que a salvação gratuita
ou beatitude ociosa também é quimérica, pois é justo resgatarmos débitos
contraídos, como ensinou o Divino Mestre, pois o Pai é infinitamente
Misericordioso e Justo. O ato da desencarnação também não deve ser motivo de
assombro, sobretudo para aqueles que tiveram uma vida moral equilibrada,
malgrado o nosso natural atraso, consequente ao nível mesmo do nosso próprio
plano terreno, sobretudo porque a Misericórdia Divina nos permite contar com a
assistência, sempre solícita, dos amparadores espirituais, sejam familiares ou
simpatizantes, que têm a missão de consolar e ajudar no próprio desligamento
perispiritual, mesmo antes do momento final.
Obras Consultadas:
O Evangelho Segundo o Espiritismo –
Tradução: J. Herculano – EME editora – Capivari – SP – 1996.
O Livro dos Espíritos – Tradução:
Salvador Gentile – Instituto de Difusão Espírita(IDE) – 104ª edição – outubro
1996.
A Gênese- Allan Kardek – Tradução:
Guillon Ribeiro – 33ª edição – FEB.
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita –
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