Como seria o Universo se a cada Espírito coubesse
apenas uma existência? Quais as maiores consequências a serem enfrentadas? Como
responder aos mais profundos dilemas humanos? O que teríamos a fazer para
entender a harmonia da Natureza?
Com
uma só existência, o Espírito estaria completamente dependente das leis da
Biologia, da Sociologia e da Matemática. Senão vejamos: nasceríamos
completamente sadios ou absolutamente deformados porque as condições genéticas
assim se estabeleceriam por uma probabilidade vinculada à corrida dos
espermatozóides ao encontro do óvulo; a diferença entre as inteligências seria
igualmente um joguete da estatística; a família que nos receberia seria uma
mera formalidade do acaso; o ambiente social para ajudar na formação da
personalidade apenas uma condição casual; a classe social ocupada, vista tão
somente como uma extensão do acaso genético, não passaria de sorte ou azar
dependendo das facilidades ou dificuldades; nascer na miséria ou na opulência
com todas as suas implicações não passaria de um capricho da Natureza; as
desigualdades como um todo nada teriam a ver com uma justiça, até porque não há
justiça alguma que arbitre a desigualdade por si mesma.
Basta olhar o mundo lá fora
para entendermos o poder nefasto da teoria da existência única. Não há como
entender a miséria da África faminta e a opulência de Wall Street. Muito menos
é cabido a um pai/mãe de família ver chegar um filho completamente mutilado a
seus braços depois de nove meses de gestação esperada, enquanto outros pais
recebem filhos completamente normais. Evocar a vontade de Deus torna muito mais
grave engolir a pílula da existência única. De que vale crer num Ser que é
capaz de simplesmente por Sua Vontade fazer alguém nascer entre bandidos cruéis
enquanto outro nasce sob a bandeira da absoluta honestidade? O que esperar de suas chances de tornarem-se
felizes?
Sejamos claros. Se
aceitarmos que Deus existe, não há como entender a idéia da existência única
para o Espírito. Porque essa crença simplesmente desqualifica a condição de
Justiça da Divindade e Deus sem ser Justo não merece esse nome.
A Doutrina Espírita defende a
ferro e fogo a Justiça Divina e lhe dá um sobrenome importante: Misericórdia. É
por Justiça e Misericórdia que nos é permitido nascer muitas vezes e as
múltiplas existências se configuram como o Seu maior instrumento para
implantar, no tempo próprio de cada Espírito, as ferramentas adequadas à
compreensão das mudanças que se impõem obrigatórias, as quais cedo ou tarde
todos teremos diante da Vida Maior.
Sem sombras de dúvidas a
crença na existência única é o maior estímulo para a humanidade permanecer agarrada
aos valores da usura, do egocentrismo, do orgulho e da depressão constituindo-se
numa doutrina contrária a Deus e danosa aos anseios de transformação do planeta
e toda a sua população. A compreensão da Reencarnação, por sua vez, é o maior
passo que a humanidade deu para o vislumbre da Bondade Divina e aceitação dos
desígnios da Lei. Essa mesma Lei que nos trata como iguais, e nos permite
oportunidades justas, apesar de reconhecer perfeitamente as diferenças que nos
caracterizam.
(*) editorial do programa Antena Espírita de
13.11.2016
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