Pular para o conteúdo principal

DE ONDE VIEMOS? A criação




Por Francisco Barbosa (*)



Formação dos Mundos
“O Universo compreende a infinidade dos mundos que vemos e aqueles que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os astros que se movem no espaço, assim como os fluidos que o enchem”.
O Universo não existe de toda a eternidade, como Deus, pois se assim fosse, ter-se-ia feito por si mesmo e, portanto não seria obra de Deus. “A razão nos diz que o Universo não pôde se ter feito a si mesmo e que, não podendo ser obra do acaso, deve ser obra de Deus.” Por sua vontade, Deus o criou. Nada traduz melhor essa vontade todo poderosa, que estas belas palavras do Gênese: “Deus disse: que a luz seja: e a luz foi”.
Tudo o que se pode dizer e podeis compreender, quanto a conhecer o modo da formação dos mundos, referem os Espíritos da Codificação Espírita, é que os mundos se formam pela condensação da matéria disseminada pelo espaço. Os cometas seriam, como se pensa há muito tempo, um começo de condensação da matéria e de mundos em via de formação, mas o que é absurdo é crer-se em sua influência, quer dizer, a influência que vulgarmente se lhe atribui; porque todos os corpos celestes têm sua parte de influência em certos fenômenos físicos.

Por outro lado, um mundo completamente formado pode desaparecer e a matéria que o compõe disseminar-se de novo no espaço. Deus renova os mundos, como renova os seres vivos. Nenhuma informação temos sobre se poderemos conhecer a duração da formação dos mundos, como da Terra, por exemplo, porque só o Criador o sabe, e bem louco seria quem pretendesse saber ou conhecer o número de séculos dessa formação.
Formação dos Seres Vivos
No começo, sobre a Terra, tudo era caos; elementos estavam em confusão. Pouco a pouco, cada coisa tomou o seu lugar; então, apareceram os seres vivos apropriados ao estado do globo. A Terra continha os germes que aguardavam momento favorável para se desenvolverem.  Os princípios orgânicos se congregaram desde que cessou a força que os mantinha afastados, e eles formaram os germes de todos os seres vivos. Os germes estiveram em estado latente e inerte, como a crisálida e as sementes das plantas, até o momento propício para a eclosão de cada espécie; então, os seres de cada espécie se reuniram e se multiplicaram.
Antes da formação da Terra, os elementos orgânicos estavam , por assim dizer, em estado de fluido pelo espaço, entre os Espíritos , ou em outros planetas, esperando a criação da Terra para começar uma nova existência sobre um novo globo. A química nos mostra as moléculas dos corpos inorgânicos unindo-se para formarem cristais de uma regularidade constante, segundo cada espécie, desde que estejam nas condições desejadas. A menor perturbação nessas condições basta para impedir a reunião dos elementos, ou, pelos menos, a disposição regular que constitui o cristal. Por que não ocorreria o mesmo com os elementos orgânicos ? Conservamos durante anos sementes de plantas e de animais que não se desenvolvem senão em uma dada temperatura e num meio propício; têm-se visto grãos de trigo germinarem depois de vários séculos. Há, portanto, nessas sementes, um princípio latente de vitalidade que aguarda uma circunstância favorável para se desenvolver. O que se passa diariamente sob nossos olhos, não pode ter existido desde a origem do globo ? Essa formação de seres vivos, partindo do caos pela força da própria Natureza, diminuiu alguma coisa da grandeza de Deus ? Longe disso, ela responde melhor à ideia que fazemos de sua força se exercendo sobre os mundos infinitos por meio de leis eternas. Essa teoria não resolve, é verdade, a questão da origem dos elementos vitais; mas Deus tem seus mistérios e pôs limites às nossas investigações.
Existem seres que nascem espontaneamente, mas o germe primitivo existia já em estado latente. Sois testemunhas, dizem os liminares da espiritualidade, todos os dias, desse fenômeno. Os tecidos dos homens e dos animais não encerram os germes de uma multidão de vermes que aguardam, para eclodir, a fermentação pútrida necessária à sua existência? É um pequeno mundo que dormita e que se cria. A espécie humana se encontrava entre os elementos orgânicos contidos no globo terrestre. Sim, e ela veio ao seu tempo; foi o que levou a se dizer que o homem foi feito do limo da Terra.
Não podemos conhecer a época do aparecimento do homem e dos outros seres vivos sobre a Terra. Nisto os nossos cálculos são quiméricos. Por que não se formam mais, espontaneamente, os homens como na sua origem, se o germe da espécie humana se encontrava entre os elementos orgânicos do Globo, pergunta-se. É que o princípio das coisas está nos segredos de Deus. Todavia, pode-se dizer que os homens, uma vez espalhados sobre a Terra, absorveram neles os elementos necessários à sua formação, para os transmitir segundo as leis da reprodução. O mesmo se deu com as diferentes espécies de seres vivos.
Povoamento da Terra. Adão.
A espécie humana não começou por um só homem. Aquele a quem chamamos Adão não foi o primeiro, nem o único que povoou a Terra. Ele viveu há aproximadamente 4000 anos antes de Cristo, como assinalam as Escrituras. O homem, cuja tradição se conservou sob o nome de Adão, foi um dos que sobreviveram, em certo país, após alguns dos grandes cataclismos que, em épocas diversas, perturbaram a superfície do globo e veio a ser o tronco de uma das raças que hoje o povoam. As leis da Natureza se opõem a que os progressos da Humanidade, constatados muito tempo antes do Cristo, tenham-se cumprido em alguns séculos, se o homem não estivesse sobre a Terra senão depois da época assinalada para a existência de Adão. Alguns consideram, e com muita razão, Adão como um mito ou uma alegoria, personificando as primeiras idades do mundo.
Diversidade das Raças Humanas
As diferenças físicas e morais que distinguem as variedades de raças humanas sobre a Terra, vêm do clima, da vida e dos costumes. O mesmo ocorre com dois filhos da mesma mãe que, educados um longe do outro e diferentemente, não se assemelham em nada quanto ao moral. O homem nasceu sobre diversos pontos do globo e em épocas diversas, e isso é uma das causas da diversidade das raças; depois os homens, em se dispersando, sob diversos climas e aliando-se a outras raças, formaram os novos tipos. Certamente que essas diferenças não constituem espécies distintas, todos são da mesma família; as diferentes variedades de um mesmo fruto não impedem que pertençam à mesma espécie. Embora a espécie humana não proceda de um só, nem por isto os homens devem deixar de se reconhecerem como irmãos, pois todos são irmãos em Deus, porque são animados pelo espírito e tendem ao mesmo fim. Não devemos tomar as palavras literalmente.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

O Livro dos Espíritos – Tradução Salvador Gentile – 104ª edição, 1996 (Livro Primeiro – Cap. III). 


(*) escritor, membro da Associação Maçônica de Letras do Estado do Ceará e voluntário do grupo Espírita Casa do caminho, em Aquiraz.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

A PIOR PROVA: RIQUEZA OU POBREZA?

  Por Ana Cláudia Laurindo Será a riqueza uma prova terrível? A maioria dos espíritas responderá que sim e ainda encontrará no Evangelho Segundo o Espiritismo a sustentação necessária para esta afirmação. Eis a necessidade de evoluir pensamentos e reflexões.

O CORDEIRO SILENCIADO: AS TEOLOGIAS QUE ABENÇOARAM O MASSACRE DO ALEMÃO.

  Imagem capa da obra Fe e Fuzíl de Bruno Manso   Por Jorge Luiz O Choque da Contradição As comunidades do Complexo do Alemão e Penha, no Estado do Rio de Janeiro, presenciaram uma megaoperação, como define o Governador Cláudio Castro, iniciada na madrugada de 28/10, contra o Comando Vermelho. A ação, que contou com 2.500 homens da polícia militar e civil, culminou com 117 mortos, considerados suspeitos, e 4 policiais. Na manhã seguinte, 29/10, os moradores adentraram a zona de mata e começaram a recolher os corpos abandonados pelas polícias, reunindo-os na Praça São Lucas, na Penha, no centro da comunidade. Cenas dantescas se seguiram, com relatos de corpos sem cabeça e desfigurados.

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ESPÍRITISMO E CRISTIANISMO (*)

    Por Américo Nunes Domingos Filho De vez em quando, surgem algumas publicações sem entendimento com a codificação espírita, clamando que a Doutrina Espírita nada tem a ver com o Cristianismo. Quando esse pensamento emerge de grupos religiosos dogmáticos e intolerantes, até entendemos; contudo, chama mais a atenção quando a fonte original se intitula espiritista. Interessante afirmar, principalmente, para os versados nos textos de “O Novo Testamento” que o Cristo não faz acepção de pessoas, não lhe importando o movimento religioso que o segue, mas, sim, o fato de que onde estiverem dois ou três reunidos em seu nome ele estará no meio deles (Mateus XVIII:20). Portanto, o que caracteriza ser cristão é o lance de alguém estar junto de outrem, todos sintonizados com Jesus e, principalmente, praticando seus ensinamentos. A caridade legítima foi exemplificada pelo Cristo, fazendo do amor ao semelhante um impositivo maior para que a centelha divina em nós, o chamado “Reino de...

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...

O DISFARCE NO SAGRADO: QUANDO A PRUDÊNCIA VIRA CONTRADIÇÃO ESPIRITUAL

    Por Wilson Garcia O ser humano passa boa parte da vida ocultando partes de si, retraindo suas crenças, controlando gestos e palavras para garantir certa harmonia nos ambientes em que transita. É um disfarce silencioso, muitas vezes inconsciente, movido pela necessidade de aceitação e pertencimento. Desde cedo, aprende-se que mostrar o que se pensa pode gerar conflito, e que a conveniência protege. Assim, as convicções se tornam subterrâneas — não desaparecem, mas se acomodam em zonas de sombra.   A psicologia existencial reconhece nesse movimento um traço universal da condição humana. Jean-Paul Sartre chamou de má-fé essa tentativa de viver sem confrontar a própria verdade, de representar papéis sociais para evitar o desconforto da liberdade (SARTRE, 2007). O indivíduo sabe que mente para si mesmo, mas finge não saber; e, nessa duplicidade, constrói uma persona funcional, embora distante da autenticidade. Carl Gustav Jung, por outro lado, observou que essa “másc...